DO BEM

Repórter distribui gentileza no Centro de Campinas

No Dia Mundial da Boa Ação, pequenos gestos trouxeram alegria e surpresa para cidadãos

Cecília Polycarpo Cebalho
26/04/2013 às 08:39.
Atualizado em 25/04/2022 às 18:40
Maria Quirino aceitou de bom grado a ajuda para carregar as compras até o ponto de ônibus (César Rodrigues/AAN)

Maria Quirino aceitou de bom grado a ajuda para carregar as compras até o ponto de ônibus (César Rodrigues/AAN)

As pessoas não precisam de muito para se sentirem especiais. Pequenos gestos de gentileza, feitos desinteressadamente, têm o poder de encantar e motivar a sociedade a fazer o bem. Foi essa a constatação do Correio, no Dia Mundial da Boa Ação. A data, que foi celebrada ontem em 64 países, passou despercebida pela maioria dos campineiros. Na correria cotidiana, poucos têm tempo de olhar para o próximo de forma altruísta.

Foto: César Rodrigues/AAN Repórter tirou 30 minutos do dia para conversar com aposentado José Padovan Por isso, a reportagem cumpriu a missão de começar uma corrente do bem na cidade. A equipe passou em vários pontos de Campinas, distribuindo gentilezas simples. O único pedido ao beneficiado era que ele passasse o ato adiante. As ações inusitadas, como carregar as compras do supermercado de um desconhecido ou se oferecer para pagar a conta de um café em um quiosque, tiveram efeito positivo na maioria das pessoas. Surpreendidas e emocionadas, elas se comprometeram, voluntariamente, a retribuir o gesto a alguém.

A maratona de boas ações começou nas ruas do Centro, onde o estacionamento de carros é concorrido e feito pelo sistema Zona Azul. Quem deixa o veículo sem o folheto no painel, que custa R$ 2,70 por uma hora, pode ser multado. O efeito positivo da corrente foi sentido já no momento da compra do folheto. Quando a reportagem explicou à comerciante Eunice dos Santos Pereira o objetivo da matéria, ela vendeu os cartões a preço de custo e ainda deu chaveiros contra o “mau olhado” à equipe. “É tão difícil alguma iniciativa assim. Achei a ideia muito boa e com certeza vou passar para frente”, disse.

Ao receber o folheto da Zona Azul, a fonoaudióloga Rosamari Pires, de 50 anos, automaticamente perguntou: “Quanto é?”. Quando soube que o estacionamento era uma cortesia, estranhou. “Mas por quê? Tem certeza?”. Depois da explicação, Rosemari se disse “encantada” com o gesto. “Vou hoje na Casa da Sopa, doar alimentos. Queria ir faz tempo, esse foi o empurrãozinho que eu precisava”.

Mais tarde, em frente à Catedral Metropolitana de Campinas, foram distribuídos lanches aos moradores de rua. O pedreiro desempregado Antônio João Quirino, de 59 anos, sem-teto há 35, disse que são poucas as pessoas que percebem a presença dele no local. “Se percebem, preferem fingir que não me viram. Sei que não tenho a melhor das aparências. Mas um ‘bom dia’ não dói”, explicou.

A técnica de enfermagem Maria Conceição Quirino, de 42 anos, abriu um grande sorriso quando recebeu ajuda para levar as compras do supermercado até o ponto de ônibus, na Avenida John Boyd Dunlop. “Venho aqui toda a semana pegar algumas coisinhas antes de ir para o trabalho.

Foto: César Rodrigues/AAN A fonoaudióloga Rosamari Pires custou a acreditar que o folheto da Zona Azul era acidente Não tenho carro e nunca recebi uma ajuda assim”, contou. No Largo São Benedito, onde idosos vão todas as tardes jogar dama ou apenas ver o tempo passar, um “dedo de prosa” pode ter efeitos positivos. José Maria Padovan, de 60 anos, disse que às vezes se sente muito sozinho.

“Me separei da última mulher há três anos. Como sou aposentado, decidi criar a rotina de vir aqui todas a tardes. É uma forma de matar o tédio”, explicou. Padovan contou a história da sua vida: casou três vezes, tem filhos espalhados pelo Interior e hoje prefere ficar solteiro. “Mas é bom ter alguém para contar as coisas. Essa, com certeza, foi a maior cortesia que recebi nos últimos anos”.

Mas nem todos receberam as gentilezas de bom grado. Teve quem recusasse ajuda ou agisse de forma indiferente. Um jovem que recebeu o folheto de Zona Azul no Centro pediu auxílio para preencher o cartão, mas não agradeceu. Outras senhoras desconfiadas não permitiram que suas compras fossem carregadas por uma pessoa estranha. “Acabei de almoçar no Bom Prato”, disse um morador de rua quando lhe foi oferecido o lanche. As recusas são comuns, de acordo com a psicóloga Patrícia Gugliotta. “Os gestos de cortesia são tão raros que muitas pessoas desconfiam das intenções ou não sabem como agradecer”, explicou.

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