MEMÓRIA

Reportagem encontra policial fotografado em imagem antiga

PM foi reconhecido na imagem por parentes e amigos e ficou emocionado de ver resgatado na primeira página um episódio que ele nunca esqueceu

Rogério Verzignasse
02/08/2015 às 09:15.
Atualizado em 28/04/2022 às 17:54
O ex-PM Aparecido Fernandes Ferreira, de 72 anos, que foi identificado em umar
foto antiga de 1976, republicada na capa do Correio Popular em 26/07/2015 ( Leandro Ferreira/ AAN)

O ex-PM Aparecido Fernandes Ferreira, de 72 anos, que foi identificado em umar foto antiga de 1976, republicada na capa do Correio Popular em 26/07/2015 ( Leandro Ferreira/ AAN)

A foto tocante, publicada na capa do Correio Popular do domingo passado, mostrava o policial militar agachado na frente de um garotinho que experimentava o capacete. Era uma dentre centenas de imagens preciosas colhidas nos arquivos do jornal, e que ajudaram a ilustrar edições ao longo das últimas décadas. O trabalho apurado, que prevê a digitalização do acervo, é feito pelo repórter-fotográfico Leandro Ferreira, que levantou negativos e contatos que registraram a cidade em transformação. E o que pouca gente podia imaginar é que a foto fez um sucesso enorme entre os leitores. O cidadão fardado fotografado foi, imediatamente, reconhecido por parentes, vizinhos e velhos amigos. O próprio policial ficou emocionado de ver resgatado na primeira página um episódio que ele nunca esqueceu. Aparecido Fernandes Ferreira, de 72 anos, é viúvo. Ele mora sozinho, em uma edícula de quatro cômodos, nos fundos de uma casa ampla, onde vivia desde 1969, quando se casou com a mulher Ana Maria. Ali, no Parque Industrial, ele conta que criou os dois filhos. E resolveu se mudar para os fundos depois que as “crianças” se casaram e deixaram o bairro. Sem a mulher, que morreu há alguns anos, resolveu sair da casa da frente, que está vazia. O cantinho em que dorme é onde ele passa o dia lendo, folheando as páginas amareladas de jornal, com reportagens de quando ele fazia parte da tropa. Fernandes — como era conhecido no quartel — nasceu em Franca. Conta que se mudou para Campinas quando tinha dez anos. Seus pais e seus seis irmãos foram acolhidos no Bonfim, na casa de um parente que, trabalhando como pedreiro, arrumou um lugarzinho para a família toda, que levava vida difícil na cidade natal. Desde menino, ele trabalhou em lojas, aprendeu o ofício de eletricista e ajustador mecânico. Mas, na época do serviço militar, resolveu fazer exame na Força Pública. Afinal, era emprego bom, esperança de carreira.O jovem passou a vestir farda em 1964. Na prova, 800 candidatos disputaram uma das 40 vagas na corporação. E ele conta que deu um show no teste de aptidão física. Correu cem metros em 13 segundos e pouco. “Eu era magrinho, corria muito. Por isso, tomava muitas botinada de zagueiro quando jogava bola nos rapadões. E olha que as chuteiras tinham cravo. As botinadas rasgavam a perna.” Dentro do quartel, fez de tudo: atendia telefone, despachava a viatura, registrava ocorrência. Na rua, fazia o policiamento preventivo, guardava prédios públicos, corria atrás de bandidos. E em outubro de 1976, fala, ano da foto preciosa, ele conversava com um aluninho do parque infantil localizado na frente da sede do batalhão, ali na Avenida João Jorge (atual sede do Comando do Policiamento do Interior, o CPI 2). “A gente visitava as escolinhas, levava a criançada para conhecer o quartel. Era muito bonito”, lembra. Ele conta que a foto no jornal, domingo, foi vista primeiro por um sobrinho seu, José Nilton, dono de uma academia de musculação. O rapaz, na mesma hora, entrou em com a redação, por meio do WhatsApp, e disse que o personagem fotografado era seu parente. Os vizinhos de Fernandes também o reconheceram. E o homem virou atração na sede dos policiais reformados, ali na Vila Industrial, onde ele ainda se encontra com os velhos amigos do quartel para jogar cartas e prosear. Fernandes — ou “Cidão”, como era conhecido pelos parentes desde a infância — pendurou o coturno em abril de 89. Ele conta que queria aproveitar a aposentadoria e viajar com a patroa, Ana Maria. Como as crianças cresceram, eles até fizeram um passeio inesquecível para Porto Seguro. Mas a mulher morreu em 2006. “A Ana Maria arrumava o cabelo da mãe dela no quintal, quando sofreu um AVC e caiu. Entrou em coma. E nunca mais acordou. Ela se foi e eu fiquei sozinho aqui na casa”, fala, emocionado. “Eu não sabia fritar um ovo, não sabia fazer um café. Como é duro ficar sozinho.”Ele começou a aproveitar o tempo plantando árvores na frente de casa, no terreno por onde corria a linha do VLT, na Rua Rodion Podolski. Plantou ipês, jambeiros, abacateiros... E nos fins da tarde faz caminhadas, procurando manter a forma. Atividades levinhas. Não pode fazer força porque usa ponte de safena. Mas está bem, com aparência saudável, e conta que até arrumou uma nova namorada, a Míriam, senhora de 60 anos. Ah, não falam em casar ainda. Mas ele se diverte dizendo que, hora dessas, eles juntam os trapos. Ah, os filhos. Cleber, de 45 anos, é cabo da PM, e está alocado no Bonfim. Andréia, de 40, se casou com um oficial da corporação. O amor pelo quartel é genético. E os dois já deram três netinhos ao Fernandes. Hoje o homem se diz feliz demais.

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