Entre os investimentos previstos, uma nova unidade de produção de diesel S-10
Refinaria de Paulínia (Replan) receberá quatro grandes investimentos nos próximos cinco anos para projetos previstos no Plano Estratégico da Petrobras; recursos atingirão a cifra de R$ 403,9 bilhões (Gustavo Tilio)
A Refinaria de Paulínia (Replan), a maior do país, receberá quatro grandes investimentos nos próximos cinco anos, com foco na produção, redução das emissões de poluentes e melhoria da eficiência. Os projetos estão previstos no Plano Estratégico (PE) da Petrobras - a oitava maior empresa de capital aberto do mundo -, para o período de 2023 a 2027, que prevê investimentos de US$ 78 bilhões, o equivalente a R$ 403,9 bilhões.
O documento confirma a construção de uma nova unidade de produção de diesel S-10 na Replan, relacionada a um dos 16 principais projetos da estatal, que irá gerar cerca de 3 mil empregos durante as obras. De acordo com a empresa, a construção teve início neste segundo semestre e ficará pronta no próximo quinquênio, mas não divulgou uma data.
Anteriormente, a estatal havia divulgado que a nova unidade de hidrotratamento de diesel (HDT) receberá investimento de US$ 458 milhões (R$ 2,37 bilhões). "O diesel S-10 é um combustível com quantidade menor de enxofre e mais puro. Com esse projeto, todo o óleo diesel produzido na Replan será de baixo teor de enxofre, permitindo o aumento da produção de querosene de aviação", afirma o gerente-geral da Replan, Rogério Daisson.
Com o investimento, a Refinaria de Paulínia deixará de produzir o diesel S-500, que hoje responde por 47% desse tipo de combustível produzido e que é usado por máquinas agrícolas. Tanto a unidade já existente quanto a nova produzirão apenas o S-10. Esse produto tem 10 partes de enxofre por milhão em vez de 500, o que explica os nomes. Isso faz com que seja menos corrosivo, aumentando a durabilidade das peças dos motores dos veículos. Além disso, apresenta uma queima mais eficiente e reduz a emissão de partículas nocivas ao meio ambiente.
O plano prevê investimentos em oito novas unidades de processamento, além de seis obras de adequações de grande porte em plantas já existentes. Com esses projetos, a previsão é a de aumentar a capacidade de processamento e conversão do refino da Petrobras em 154 mil de barris por dia (bpd) e a capacidade de produção de diesel S-10 para cerca de 300 mil bpd.
Desse total, a Replan responderá por 33 mil bpd, o que representará 11% do total e a maior produção do país. A estatal também executará o Programa BioRefino, no qual serão investidos cerca de US$ 600 milhões (R$ 3,1 bilhões), com destaque para construção de uma planta para produção de bioquerosene de aviação (BioQAV) e diesel renovável na Refinaria Presidente Bernardes, em Cubatão (SP). Ela terá capacidade para 6 mil barris por dia de BioQAV, 6 mil bpd de diesel R100 (100% de conteúdo renovável) e 3 mil barris por dia de outros produtos de base renovável.
Outros investimentos
A Petrobras deverá investir ainda US$ 813 milhões (R$ 4,2 bilhões) em 148 projetos visando à expansão, qualidade e eficiência do refino. Desse total, 100 ações buscarão eficiência energética. Nesse campo, a Replan receberá recursos de US$ 90 milhões (R$ 466,1 milhões) em inteligência artificial, ampliação da eficiência e aumento da disponibilidade operacional.
De acordo com o gerente geral, entre as ações a serem desenvolvidas estão a instalação de sensores de monitoramento para obter melhor desempenho das tochas de queimas de gás, uma das etapas de refino.
O Plano Estratégico da Petrobras também traz entre seus principais projetos uma segunda área de produção da Replan, a de coque. A empresa divulgou que está "em análise de viabilidade técnica e econômica". O coque verde de petróleo (CVP) é um produto sólido granulado e carbonáceo, obtido com alta tecnologia e qualidade, que apresenta baixo teor de enxofre (BTE) quando comparado à maioria dos outros países produtores, o que lhe confere uma grande versatilidade e menor impacto ambiental na sua aplicação.
Além disso, dispõe de elevado teor de carbono fixo, baixo teor de cinzas, elevado poder calorífico e alta estabilidade química. As suas principais aplicações são na calcificação do alumínio, sendo matéria-prima essencial para a indústria ao ajustar as propriedades físico-químicas do metal; siderurgia, substituindo alguns tipos de carvão; e cimenteiras, sendo utilizado como combustível em diversos processos industriais.
Meio ambiente
O PE 2023-2027 estabelece ainda um novo posicionamento da companhia nas áreas ambiental, governança e social (ASG). Nesse âmbito, estão previstos investimentos de US$ 4,4 bilhões (R$ 22,79 bilhões, o equivalente a 6% do total) na proteção ao meio ambiente, com foco, principalmente, na redução das emissões de carbono. Nesse aspecto, a Replan terá uma importância estratégica, por ser responsável por aproximadamente 20% de todo o refino de petróleo no Brasil.
A Refinaria de Paulínia processa 69 mil metros cúbicos de petróleo por dia, o equivalente a 434 mil barris. Ela ocupa uma área de 9,1 quilômetros quadrados, tem 17 unidades de produção e atende todo o interior de São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Acre, Sul de Minas Gerais, Triângulo Mineiro, Goiás, Brasília e Tocantins. Ela emprega atualmente 3,3 mil profissionais, 959 concursados e o restante, terceirizados por meio de 65 empresas prestadoras de serviço.
Da parcela destinada ao meio ambiente, a maior fatia, de US$ 3,7 bilhões (R$ 19,16 bilhões), será aplicada na descarbonização das operações.
A meta é a de reduzir as emissões absolutas totais em 30% até 2030. A estatal, que opera 12 refinarias em todo o país, também projeta reduzir 40% da captação de água doce e 30% a geração de resíduos sólidos nos próximos oito anos, com todas as instalações dispondo de um plano de ação em biodiversidade até 2025.
No ano passado, a Petrobras usou 220 milhões de m3 de água, dos quais 151 milhões (69%) captados de mananciais e 69 milhões (31%) de reúso. A estatal prevê reduzir a captação para 91 milhões de m3 até 2030. A estimativa para este ano é a de consumir 125 milhões, 22% a menos do que em 2021. Porém, a projeção para 2023 é chegar aos 132 milhões de m3.
A empresa prevê ainda aumentar a eficiência na utilização do líquido e também a utilização de água de reúso. Somente nesses quesitos o objetivo de reduzir o consumo em 18 milhões de m3, o proporcional ao consumo de 100 mil famílias ou 300 mil pessoas. É o equivalente a quase três vezes a toda população de Paulínia, onde a Replan está instalada.
Quanto a redução na geração de resíduos sólidos, a meta é diminuir das 278 mil toneladas/ano em 2021 para 195 mil toneladas/ano em 2030. Para isso, a empresa otimizará as suas operações, buscará a recuperação de óleo em refinarias (borras), fará contratações sustentáveis e treinamentos e ações de conscientização junto aos funcionários.
A Petrobras projeta atingir a taxa de 80% de reúso, reciclagem ou recuperação de resíduos sólidos nos próximos anos. Para ela, o caminho para isso será a venda de resíduos como matéria-prima para outras empresas, reciclagem e a prática da logística reversa.