Consumidor passa o dia pesquisando preços que já começaram a subir no domingo
Frentista abastece veículo em posto de combustíveis na região central de Campinas: fila de clientes quase o dia todo por conta do aumento (Rodrigo Zanotto)
A expectativa da retomada da cobrança de impostos federais sobre a gasolina e o etanol, antes mesmo que o ministro da Economia, Fernando Haddad, confirmasse os índices do reajuste, provocou uma correria aos postos de combustíveis de Campinas na manhã de terça-feira. A situação ficou ainda mais confusa quando a Petrobras anunciou uma redução no preço da gasolina e do diesel nas refinarias para compensar o aumento do preço dos combustíveis provocado pela volta da tributação. No final do dia, Haddad confirmou que a reoneração de tributos federais da gasolina será de R$ 0,47 e, do etanol, de R$ 0,02.
Desde a manhã, o movimento nos postos foi intenso e permaneceu assim durante todo o dia. O motorista de aplicativo Marcos Silva, de 55 anos, acredita que ele será um dos principais afetados com o aumento. Ele costuma abastecer o seu veículo a cada dois ou três dias, pois procura estar sempre com o tanque cheio. Com medo, ele correu para um posto da região central na tarde de terça-feira para encher o tanque. "Esse aumento vai me afetar muito, porque vai cair muito a minha rentabilidade. Vim aqui hoje para prevenir e rodar mais dois ou três dias", disse Silva, que também é aposentado e o transporte de passageiros é uma fonte de renda complementar.
Ao contrário de Silva, o entregador Valdecir Viana, de 54 anos, tem o carro como meio de obter a única fonte de renda da família e está preocupado com o aumento, pois, segundo ele, os gastos com combustível consomem mais da metade de seu rendimento mensal. Viana abastece o carro diariamente e estima que gasta cerca de R$ 180,00 para encher o tanque. "Vim abastecer porque tinha que vir, mas, de qualquer jeito, não tem como fugir. Amanhã já vou ter que abastecer com aumento, infelizmente", lamentou o entregador terça-feira.
O aposentado Silvio Ventorino, de 67 anos, disse que tem o costume de completar o tanque de combustível constantemente para evitar gastar muito dinheiro de uma vez só. "Sempre procuro deixar o tanque cheio e abastecer o mínimo. Prefiro gastar R$ 40,00 ou R$ 60,00 por semana, porque quando vou abastecer não é uma pancada tão forte", disse o aposentado que utiliza o carro para passear e também para ir em consultas médicas.
O gerente de um posto, Reginaldo Hilário, de 48 anos, disse que esse fluxo intenso de clientes é muito comum quando são anunciados reajustes nos combustíveis. "Todo mundo corre atrás do que é mais barato. As vendas aumentaram", disse o gerente, que está há cinco anos no cargo. Hilário afirmou que nem os postos sabiam ao certo o real valor do reajuste, uma vez que as negociações estavam sendo realizadas na tarde de terça-feira. "Só amanhã cedo a gente vê o que aumentou da base, para fazer o cálculo e repassar para o cliente. Hoje permanecem os mesmo preços até 0h, não aumentamos", disse. Apesar do fato de que o reajuste valerá a partir de hoje, segundo relatos, alguns postos da cidade já haviam subido o preço no domingo. O gerente disse que a expectativa era a de um aumento de R$ 0,52 por litro no preço da gasolina e o etanol, R$ 0,24 por litro. Ele disse isso antes do anúncio da Petrobras de baixar o preço da gasolina nas refinarias.
Petrobras
Na expectativa de buscar equilíbrio com mercados nacional e internacional, a Petrobras reduziu nesta quarta-feira os preços da gasolina A e do diesel A. A partir de hoje, o preço médio de venda da gasolina A da Petrobras para as distribuidoras cai de R$ 3,31 para R$ 3,18 por litro, redução de R$ 0,13 por litro. Para o diesel A, o preço médio de venda para as distribuidoras também cai, passando de R$ 4,10 para R$ 4,02 por litro, com queda de R$ 0,08 por litro. A informação foi divulgada nesta terça-feira (28), pela companhia.
Considerando a mistura obrigatória de 73% de gasolina A e 27% de etanol anidro para composição da gasolina vendida nos postos, a parcela da Petrobras no preço ao consumidor será em média de R$ 2,32 a cada litro vendido na bomba. Quanto ao diesel, considerando a mistura obrigatória de 90% de diesel A e 10% de biodiesel para composição do diesel comercializado nos postos, a parcela da Petrobras no preço ao consumidor será, em média, de R$ 3,62 a cada litro vendido na bomba, explicou a empresa.
Em nota, a Petrobras informa que o objetivo das reduções é buscar o equilíbrio dos preços da companhia aos mercados nacional e internacional, por meio uma convergência gradual, incluindo as principais alternativas de suprimento de seus clientes e a participação de mercado necessária para "otimização dos ativos".
A empresa diz ainda que, na formação de preços de derivados de petróleo e gás natural no mercado interno, procura "evitar o repasse da volatilidade conjuntural das cotações e da taxa de câmbio, ao passo que preserva um ambiente competitivo salutar nos termos da legislação vigente". (EC)
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou terça-feira que a reoneração de tributos federais da gasolina será de R$ 0,47 e, do etanol, de R$ 0,02. O aumento mantém o diferencial das alíquotas entre os dois combustíveis vigentes em 15 de maio de 2021, como previa a lei que garantiu a zeragem dos impostos no ano passado.
Segundo Haddad, a decisão sobre a reoneração dos tributos federais foi tomada um dia antes de o prazo expirar porque o governo estava esperando a informação da Petrobras sobre os preços de gasolina e diesel que vão vigorar no mês de março. terça-feira, a estatal anunciou redução de R$ 0,13 do preço da gasolina nas refinarias e de R$ 0,08 do diesel.
"Com a redução da Petrobras, o saldo líquido para a gasolina é de R$ 0,34", disse, completando que a expectativa era de queda maior. "Lembrando que não está se discutindo a política de preços da Petrobras", afirmou, comentando que o comitê de preços da petroleira considerou as políticas de preços da empresa.
Ao iniciar a coletiva de imprensa, o ministro afirmou que a medida de reoneração foi uma decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Haddad ainda afirmou que a medida anunciada terça-feira faz parte do esforço realizado desde a fase de transição do governo para recompor o Orçamento público do ponto de vista das receitas e despesas. "A PEC da Transição foi aprovada justamente para os compromissos de campanha", disse, citando a isenção do Imposto de Renda Pessoa Física para quem ganha até dois salários mínimos e o aumento do Bolsa Família. "Receitas foram prejudicadas por um governo que visava reverter um quadro desfavorável, com medidas demagógicas de última hora, que prejudicaram muito o fiscal de 2023."
O ministro ainda comentou que a prorrogação da desoneração nos primeiros dias de governo deveu-se a uma cautela do governo diante de rumores sobre golpe de Estado, além de esperar a posse do novo presidente da Petrobras, Jean Paul Prates. (EC)