Avaliação da Secretaria de Serviços Públicos feita em janeiro mostrava necessidade de reformas
Funcionários começaram ontem a consertar proteções laterais destruídas pelo impacto do ônibus; no detalhe, as ferragens aparentes nas vigas (Elcio Alves/AAN)
Relatório elaborado pela Secretaria de Serviços Públicos de Campinas e entregue para a Secretaria de Infraestrutura em janeiro de 2013 apontava que as proteções laterais do Viaduto Cury não tinham condições de segurança para suportar o tráfego de 60 mil veículos por dia que o lugar recebe atualmente. A obra, há 50 anos, foi projetada para suportar 20 mil veículos por dia. “Na época da reforma do viaduto (no início deste ano) passamos para a Secretaria de Infraestrutura um relatório com os problemas estruturais e pedimos reparos na construção”, afirmou o secretário de Serviços Públicos, Ernesto Paulella.O relatório apontava ainda a necessidade de corrigir ferragens aparentes nas vigas que dão sustentação ao viaduto. “Há ferragens aparentes em algumas vigas, e as proteções laterais foram feitas numa época em que não se pensava em transporte tão pesado”, disse Paulella.Na manhã de anteontem, um ônibus que fazia a linha 1.17 (DIC-Centro) perdeu o controle e despencou do viaduto sobre a Rua Cônego Cipião. Na queda, uma pessoa morreu e 19 ficaram feridas. Foi o terceiro acidente ocorrido num período de 15 dias no viaduto. Segunda de manhã um carro em alta velocidade caiu do viaduto durante uma perseguição policial.A Prefeitura determinou que seja feito um estudo para apontar o que precisa ser feito tanto para melhorar a estrutura da construção quanto para incrementar a segurança das proteções laterais. Assim que esse estudo for concluído é que se saberá ao certos quais intervenções são necessárias.Especialistas em segurança no trânsito e a própria Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec)concordam que é necessária uma ampla reforma na estrutura do viaduto. A reportagem tentou falar com o secretário de Infraestrutura, Carlos Santoro, mas não obteve retorno até o fechamento dessa edição.A Prefeitura começou ontem a consertar as proteções laterais do Viaduto Cury, nos trechos em que ficaram danificadas com os três acidentes que aconteceram nos últimos 15 dias. Funcionários da Secretaria de Serviços Públicos trabalharam no local durante todo o dia na troca dos braços de concreto e dos tubos que formam a grade de proteção do viaduto. De acordo com o secretário Ernesto Paulella, todo o trabalho deverá estar concluído em uma semana. A estrutura original da construção será mantida. A proteção não será trocada por uma mais robusta agora porque não se sabe se o viaduto irá aguentar. “Não sabemos se o viaduto suporta uma grade mais pesada, só um estudo estrutural é que pode dizer, e quem ficou encarregado de fazer foi a Secretaria de Infraestrutura”, completou.Apesar da falta de segurança constatada no viaduto, a Prefeitura informou ontem que o acidente não ocorreu por problemas estruturais. DepoimentosO motorista do ônibus que caiu do Viaduto Cury depôs ontem no 1 Distrito Policial (Botafogo) e afirmou que dirigia em baixa velocidade. Ele conversou com o delegado Roney Barbosa Lima logo após receber alta do hospital Beneficência Portuguesa. O trabalhador, que ainda estava em estado de choque e sob o efeito de medicamentos, contou que dirigia a cerca de 30km/h na hora do acidente. Ele também negou que um segundo veículo o tivesse fechado e obrigado a frear subitamente.E.G., de 35 anos, disse à polícia que a pista estava escorregadia por causa da chuva e que não conseguiu frear o veículo. Ainda segundo o relato do motorista, ele não conseguiu parar o coletivo reduzindo a marcha porque o veículo tem câmbio automático.A cobradora I.E.R., que estava no ônibus, também foi ouvida após ter alta do hospital. Tanto ela quanto o motorista ainda estão muito abalados com o ocorrido e sob o efeito de calmantes. “Eu ainda estou chocado com tudo isso e não gostaria de falar agora”, disse o motorista à reportagem. O homem confirmou que prestou depoimento, mas não quis fornecer detalhes sobre o conteúdo de suas declarações.A Polícia Civil informou, por meio da asssessoria de imprensa, que o delegado não iria se pronunciar porque o inquérito está na fase inicial. Além do motorista e da cobradora, dois policiais militares que atenderam à ocorrência foram ouvidos.SobreviventeUma passageira que estava no ônibus nega a versão apresentada pelo motorista de que ele estava dirigindo a 30km/h. “O laudo vai mostrar que ele estava em velocidade maior que essa. Todo dia temos dificuldades para pegar o ônibus na Rodovia Santos Dumont, tem alguns que nem param.” S. não soube precisar o motivo que levou o motorista a frear. “Eu não vi se outro carro o fechou. Percebi que ele freou, e quando a traseira começou a se mover, me segurei porque percebi que algo estava errado.”