CAMPINAS

Regularização de 'puxadinho' depende de adequação em lei

Normas vigentes há um ano regularizaram apenas 956 imóveis, segundo balanço da Prefeitura. Exigência de área de impermeabilização, com jardins ou gramados, prejudicou várias pessoas

Bruna Mozer
18/02/2015 às 05:00.
Atualizado em 24/04/2022 às 00:03
Maria Cristina de Mello, técnica em RH, que há quatro anos procura acertar a documentação da casa onde mora, na Vila União: paciência  (Camila Moreira/ AAN)

Maria Cristina de Mello, técnica em RH, que há quatro anos procura acertar a documentação da casa onde mora, na Vila União: paciência (Camila Moreira/ AAN)

A “Lei do Puxadinho”, que permite a regularização de imóveis construídos ou ampliados sem autorização da Prefeitura de Campinas, expirou em janeiro e o governo do prefeito Jonas Donizette (PSB) não tem previsão de criação de uma nova norma para a cidade. A lei poderia ter sido prorrogada por mais um ano — o que não ocorreu. Criada para facilitar a regularização, a lei foi considerada ineficaz e gerou reclamações de donos de imóveis. Em vigor de janeiro de 2014 a janeiro de 2015, precisou ser alterada por dificultar o processo, principalmente nos bairros da periferia de Campinas.   Na reta final A mudança, porém, foi feita somente em novembro, dando prazo de apenas dois meses para uma nova possibilidade de adequação, já que expirou em janeiro.A antiga lei determinava que as casas a serem regularizadas tivessem, obrigatoriamente, área de impermeabilização, com jardins ou gramados. Essa exigência inviabilizou a regularização de residências já construídas, em grande parte na periferia. Como elas ocupam terrenos pequenos, não há espaço para a adequação.   A alteração da norma permitiu a regularização desses imóveis com o pagamento de uma multa. Mas o tempo foi curto para a autônoma Marinalva Miguel dos Santos Siqueira que há 21 anos vive em uma casa na Vila União. Ela tentou acertar a situação, mas não conseguiu. "Exigiram de nós uma área de jardim, mas não há espaço para isso. Só mesmo se eu demolisse um cômodo da casa", disse.   O mesmo aconteceu com a técnica em Recursos Humanos Maria Cristina de Mello, de 56 anos. Ela, que também é moradora da Vila União, afirma que já pagou diversas multas na tentativa de regularizar seu imóvel. "Tento acertar a situação há quatro anos" , disse. Vantagens   A “Lei do Puxadinho” é uma regra importante para que a população consiga adequação de seus imóveis. Com isso, eles têm em mãos o documento "habite-se" e podem vender suas propriedades de forma legalizada. Para a Prefeitura, as adequações permitem aumento da arrecadação de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU).   Isso porque os donos dos imóveis construídos ou ampliados sem autorização pagam tributo abaixo do que valem realmente. Parte ainda paga IPTU calculado sobre o valor do terreno, como se não houvesse construção. O secretário de Urbanismo, Carlos Augusto Santoro, afirma que uma lei que permita a regularização é importante, mas diz que é preciso fazer adequações.   "Não podemos facilitar ou motivar a irregularidade. Não é justo que você faça tudo certo, contrate um arquiteto para construir a sua casa e seu vizinho construa sem autorização e regularize pela metade do preço" , disse. Além disso, o secretário discorda da lei que prevê a regularização de imóveis de até 1.500 metros quadrados. Santoro é a favor de que a metragem da adequação seja feita a partir da área a ser regularizada, não sobre o tamanho total do imóvel.    Regras específicas   "Uma pessoa que tem uma casa de 1.500 m² e 1.499 m² irregular, consegue se adequar. Isso não é justo" , disse. Ele também é a favor de que haja regras específicas para pessoas de baixa renda.   Em um ano da vigência da legislação, 956 construções foram regularizadas e outras 951 já protocoladas estão em análise. A Prefeitura não sabe informar quantos edifícios irregulares há em Campinas. Ao todo, na cidade, são 450 mil.Nova lei   O vereador Zé Carlos (SD), presidente da Comissão de Política Urbana da Câmara, criticou a decisão do governo em não renovar a lei. "Campinas inteira está reclamando dessa situação." O parlamentar disse que irá elaborar uma nova norma para apreciação no Legislativo. "Fui eleito para fazer e aprovar lei nesta cidade", falou.   Santoro disse que começou a discutir com outras secretarias a possibilidade de elaboração de uma nova lei, mas não há previsão para que seja implementada. "No curtíssimo prazo não temos isso (uma nova lei). Fiquei de conversar com alguns técnicos" , disse.

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