BALANÇA COMERCIAL

Região se destaca por venda de tratores para fora do país

Exportação de produtos de alto valor agregado torna-se pilar da economia regional

Edimarcio A. Monteiro/ edimarcio.augusto@rac.com.br
14/09/2023 às 08:27.
Atualizado em 14/09/2023 às 08:27

Linha de montagem de tratores em fábrica de Indaiatuba; produção de linhas voltadas para a agricultura familiar exportou desde 2019 mais 2 mil equipamentos para a África (Divulgação)

Indaiatuba conquistou o segundo lugar no ranking dos municípios que mais exportam na Região Metropolitana de Campinas (RMC) este ano, ultrapassando Paulínia. De acordo com o estudo mensal da balança comercial realizado pelo Observatório PUC-Campinas, esse avanço se deve ao aumento das exportações de tratores e equipamentos para a construção civil, que lideram as exportações em 2023. Esse setor metalúrgico é um dos pilares da economia local. Nos últimos 12 meses, encerrados em agosto, as empresas da cidade exportaram um total de US$ 941,9 milhões (R$ 4,64 bilhões), representando um aumento de 4,10% em comparação com os US$ 904,77 milhões (R$ 4,46 bilhões) registrados de setembro de 2021 a agosto de 2022, quando Indaiatuba ocupava a terceira posição no ranking regional.

Proporcionalmente, Indaiatuba é a cidade que mais aumentou suas exportações na RMC desde 2019, quando o levantamento do Observatório PUC-Campinas teve início. O crescimento foi notável, atingindo 174,52% em relação aos US$ 343,11 milhões (R$ 1,69 bilhão) registrados nos 12 meses até agosto de 2019. Durante os últimos quatro anos, Paulínia, que agora está na terceira posição, ampliou suas vendas ao exterior em 36,97%, passando de US$ 655,64 milhões (R$ 3,32 bilhões) para US$ 898 milhões (R$ 4,43 bilhões). Campinas, que lidera o ranking, também apresentou um aumento significativo de 38,74% no mesmo período. As empresas da cidade exportaram US$ 1,11 bilhão (R$ 5,47 bilhões) nos últimos 12 meses, em comparação com os US$ 802,57 milhões (R$ 3,96 bilhões) registrados no mesmo período de 2019. Juntas, essas cidades responderam por 53,6% das exportações na RMC no último ano.

Os tratores e equipamentos representam exportações de média-alta complexidade e alto valor agregado, o que contribui significativamente para a melhoria da qualidade da balança comercial da Região Metropolitana. Segundo o economista Paulo Ricardo da Silva Oliveira, responsável pelo estudo do Observatório PUC-Campinas, o desempenho de Indaiatuba ajudou a Região Administrativa (RA) de Campinas a assumir a liderança nacional na produção de máquinas e equipamentos. Isso foi confirmado por um estudo sobre o Valor da Transformação Industrial (VTI) nacional divulgado pela Fundação Sistema de Análise de Dados (Seade) em junho passado. A RA de Campinas é responsável por 39,3% da produção de tratores, máquinas e equipamentos para agricultura, pecuária, construção civil e extração mineral no Estado de São Paulo, que por sua vez responde por 51% do total nacional.

EXPANSÃO

Uma fabricante de Indaiatuba, pioneira na indústria nacional na produção de linhas voltadas especialmente para a agricultura familiar, exportou, desde 2019, mais 2 mil equipamentos para a África, principalmente Gana e Costa do Marfim. "São máquinas econômicas que fazem todas as operações de um trator de quatro rodas em áreas menores e, em especial, para Gana, possuem uma ótima performance, principalmente, na cultura de arroz", afirma o coordenador de Vendas/Marketing da empresa, Cesar Roberto Guimarães de Oliveira.

De acordo com ele, a exportação tem relevância nos negócios da companhia. "Realizar uma operação é de grande importância econômica porque nos permite alavancar as vendas. Além disso, consolida a marca internacionalmente", explica. A linha de produtos da fabricante inclui subsolador, triturador, retroescavadeira, plaina agrícola traseira e dianteira, enxada rotativa, carreta agrícola, pás, grade, sulcador, roçadeira, pulverizador e outros equipamentos. A expansão das atividades levou a empresa a aumentar em 10% este ano o número de funcionários, chegando a 312.

Uma outra fabricante desses equipamentos de Indaiatuba, que está entre os três maiores exportadores do setor no país, anunciou para este ano um investimento de R$ 190 milhões em suas duas plantas na cidade para duplicar a capacidade de produção. Algumas operações passarão de um turno para três e a previsão é de contratar 500 novos funcionários até o final de 2023.

Os recursos também serão destinados ao desenvolvimento de uma série de ferramentas inteligentes e processos relacionados à indústria 4.0, com a adoção de um amplo sistema de tecnologias avançadas, como inteligência artificial, robótica e internet. "Esse aporte reforça a posição da empresa como inovadora e apta a utilizar tecnologia inteligente de maneira que garanta a excelência dos produtos. Para isso, é necessário que haja aperfeiçoamento constante dos colaboradores, modernização dos processos e da capacidade fabril", disse o diretor de Vendas e Marketing da divisão de construção da multinacional para América Latina, Adilson Butzke.

A empresa exporta para 80 países, com as máquinas de construção civil sendo vendidas principalmente para países do Leste Europeu, entre eles a Rússia, Américas e Sudeste Asiático. Em Indaiatuba, está instalada a única fábrica de tratores de esteira da marca fora dos Estados Unidos.

O aumento da atividade industrial contribui para a geração de empregos na cidade. Outro estudo do Observatório PUC-Campinas mostra que o município acumula de janeiro a julho deste ano a criação de 3.198 novas vagas com carteira assinada. Com isso, nos primeiros sete meses deste ano houve aumento de 3,81% no número de empregos, com o estoque passando de 83.868 postos em dezembro de 2022 para 87.066 em julho. No ano passado, Indaiatuba registrou a criação de 5.531 empregos, com a média próxima de 460 por mês se mantendo em 2023.

A Fundação Indaiatubana de Educação e Cultura (Fiec), que oferece cursos profissionalizantes, firmou esta semana convênio com uma empresa para oferecer cursos voltados para a indústria 4.0, termo usado se referir a automação industrial e a integração de diferentes tecnologias como inteligência artificial, robótica e internet. A proposta é gerar mão de obra preparada para atender as novas necessidades do setor. "A Fiec é uma escola referência em ensino técnico e profissionalizante com capacidade de atender as necessidades de formação das empresas", diz o secretário de Governo, Luiz Alberto Pereira Cebolinha.

BALANÇA COMERCIAL

As exportações de máquinas agrícolas e para a construção civil lideraram as exportações regionais entre janeiro e agosto deste ano. Elas somaram US$ 376,43 milhões (R$ 1,85 bilhão), com alta de 19,53% em relação a igual período de 2022. Em segundo lugar das vendas ao exterior estão os medicamentos (R$ 1,63 bilhão), seguido por automóveis (R$ 1,19 bilhão), partes e acessórios de veículos (R$ 1,1 bilhão) e óleos de petróleo ou de minerais betuminosos (R$ 1,04 bilhão), aponta o estudo do Observatório PUC-Campinas.

Para o economista Paulo Oliveira, que também é professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas, o desempenho de Indaiatuba é um ponto fora da curva da indústria de transformação na RMC e do país como um todo, que atravessa uma fase de estagnação ou de crescimento lento. Ele lembra que o que tem puxado a alta do Produto Interno Bruto (PIB) nacional e paulista é a agricultura, "o que não é bom para a Região Metropolitana de Campinas", onde a economia tem forte participação da indústria.

O responsável pelo estudo de balança comercial do Observatório da PUC aponta que isso se reflete nos resultados de agosto, quando as exportações da RMC somaram US$ 489,59 milhões (R$ 2,41 bilhões), queda de 9,77% em comparação aos US$ 542,63 milhões (R$ 2,67 bilhões) de igual mês em 2022. A participação da região nas vendas ao exterior do Estado de São Paulo foi de 7,04%, a menor para agosto dos últimos 10 anos.

Já as importações em agosto foram de US$ 1,47 bilhão (R$ 7,25 bilhões), redução de 20,48% na comparação com o mesmo mês do ano passado, quando totalizaram US$ 1,85 bilhão (R$ 9,13 bilhões). Com isso, o déficit da balança comercial ficou em US$ 982,01 milhões (R$ 4,84 bilhões).

No acumulado dos oito primeiros meses, as exportações da RMC somaram US$ 3,72 bilhões (R$ 18,36 bilhões), o segundo melhor desempenho para o período desde 2019. É inferior apenas aos US$ 3,76 bilhões (R$ 18,55 bilhões) registrados de janeiro a agosto de 2022. Ja ás importações ficaram em US$ 9,88 bilhões (R$ 48,76 bilhões), com o déficit da balançado fechando em US$ 6,15 bilhões (R$ 30,35 bilhões).

Para Paulo Oliveira, os números apontam que a tendência para 2023 é a RMC registrar uma pequena queda ou estabilidade nas exportações e uma forte queda nas importações. Esse resultado, que vem se consolidado ao longo do ano, explica, mostra o fraco desempenho da indústria de transformação da região, que é dependente das importações de insumos para produção. Ou seja, as importações em baixa revelam queda na atividade industrial.

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