venezuela

Região recebe novo grupo de índios

Domingo passado, um grupo de ao menos 20 índios, entre crianças, jovens e adultos, desembarcou na rodoviária de Campinas

Alenita Ramirez
11/03/2020 às 07:54.
Atualizado em 29/03/2022 às 17:36

O número de índios Warao na região de Campinas triplicou nos últimos dois meses. Domingo passado, um grupo de ao menos 20 índios, entre crianças, jovens e adultos, desembarcou na rodoviária de Campinas. Eles afirmam que vieram de Belém, no Pará, em busca de recursos para ajudar as famílias que estão na fronteira da Venezuela com o Brasil. Com mais esse grupo, são ao menos 58 índios da etnia na região — 42 estão em Campinas e os outros 16 vivem em Hortolândia. O novo grupo — todo formado por parentes — está vivendo em uma pensão na região central de Campinas. A presença dos adultos com crianças nas calçadas da Avenida Francisco Glicério, entre Conceição e Moraes Salles, causa indignação em alguns lojistas e funcionários e também desperta solidariedade em quem transita pelo trecho. Ontem pela manhã, ao menos dois casais, com filhos pequenos, e uma viúva, com duas filhas — uma adolescente e uma menina de 5 anos —, mais o neto de um ano, pediam ajuda na área central. O Conselho Tutelar foi acionado e foi ao local para conversar com alguns índios. “Só estamos pedindo ajuda. Precisamos ajudar nossa família que ficou lá, na Venezuela. Estão passando fome. Precisamos de alimentos e roupas”, disse uma jovem que se identificou como Maria Hatia, em um português quase que incompreensível. Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), há aproximadamente 4.500 mil índios venezuelanos no território brasileiro, a maioria deles da etnia Warao. Os refugiados estão espalhados em cidades como Belém, Teresina, Maranhão, Santarém, Manaus, Rio de Janeiro e Santa Catarina. Esses indígenas são monitorados pela Funai e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur). Em Campinas, o grupo é monitorado pelo Conselho Tutelar e a Secretaria Municipal de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos. Segundo o conselheiro tutelar Natan Cyrino Volpini, existem tentativas de negociações com o grupo, porém, os integrantes recusam ajuda. “Oferecemos abrigo no Samim (Setor de Atendimento ao Migrante, Itinerante e Mendicante), na Estação Cultura, sem contar que estão sendo acompanhados pelo SOS Rua e o Movimento Vida Melhor (MVM), mas eles recusam”, disse. Os indígenas se destacam pela forma de como se vestem — as mulheres com vestidos coloridos e cabelos longos — e pedem ajuda. Ficam sentados em algum canto ou esquina, segurando uma placa de isopor com palavras em português para pedir ajuda. “Eu não sabia que eram índios e que eram da Venezuela. Que dó. Mas independente de onde são ou etnia, eu ajudo. Temos que ser solidários e estamos em melhor condição do que eles”, disse a desempregada Sandra Lira, de 47 anos, que doou dinheiro para Alessandra, de 20 anos, mãe de uma bebê de 8 meses e de um menino de cerca de 2 anos. Ela ainda estava acompanhada do irmão, de 10 anos. “Preciso de dinheiro para comer e roupas”, disse. O grupo afirmou que estava em Campinas de passagem e que o objetivo é seguir viagem nos próximos 15 dias. Mas que para se manter em Campinas, necessitavam buscar uma casa, na região central da cidade, cujo aluguel fosse até R$ 500, já que poderiam dividir entre eles. “Estamos pagando muito caro na diária do hotel”, disse Jonny Cássio, pai de três crianças — 2, 4 e 6 anos. Imigração Os índios Warao são a 2ª maior população indígena da Venezuela, atrás da etnia Wayúu. A imigração para o País intensificou-se na região Norte do Brasil, a partir de 2014, em um processo de deslocamento por estrada e rio, que envolveu também os estados de Roraima, Amazonas e Pará. O Correio apurou que representantes da Prefeitura estão em contato com o Ministério dos Direitos Humanos para discutir o tema.

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