TEMPORAL DE DOMINGO

Região passou a segunda-feira avaliando prejuízos e fazendo reparos por causa das chuvas

Várias cidades da Região Metropolitana de Campinas registraram estragos por causa da tempestade, como alagamentos, quedas de árvores e danos ao pavimento

Do Correio Popular
10/10/2023 às 08:51.
Atualizado em 10/10/2023 às 08:52
Temporal de domingo derrubou árvores, muros, desalojou famílias e causou enchentes em diversas cidades da Região Metropolitana de Campinas (RMC) (Rodrigo Zanotto)

Temporal de domingo derrubou árvores, muros, desalojou famílias e causou enchentes em diversas cidades da Região Metropolitana de Campinas (RMC) (Rodrigo Zanotto)

A forte chuva no domingo à noite causou estragos na região, com alagamentos em Campinas e Sumaré, queda de árvores, famílias desalojadas e queda de muros. Sumaré registrou o maior volume de todo o Estado de São Paulo em três dias, com o acumulado de 174 milímetros, entre as manhãs de sexta-feira e de segunda-feira (9), de acordo com o Centro de Gerenciamento de Emergências da Defesa Civil do Estado (CGE). Houve alagamentos em bairros ao longo do Ribeirão Quilombo, atingindo o São Domingos, Jardim Primavera, Três Pontes e Jardim Picerno, com 20 famílias ficando desabrigadas.

Em Sumaré, os moradores do bairro Três Pontes que não tiveram condições de ir para casa de parentes ou amigos estão abrigados temporariamente no salão paroquial da igreja do bairro. Na segunda-feira (9) de manhã, o Corpo de Bombeiros usou barcos infláveis para retirar famílias que tiveram as casas inundadas no Picerno. "A água subiu até o teto. Perdi tudo, móveis, colchão, não sobrou nada", disse o aposentado Manuel Davi, que deixou a residência na Rua Reginaldo Aparecido Rodrigues e foi para a casa de uma filha.

Ao lado de vizinhos, ele acompanhava a situação no local, sem condições de voltar para casa no final da manhã de segunda-feira (9). O nível da enchente já havia baixado, mas as pessoas andavam com água na altura das coxas. "Os políticos só aparecem aqui na época de eleição. Não fazem nada para acabar com as enchentes", protestou Davi, que mora no bairro há 30 anos.

Essa situação levou outro morador da rua, o aposentado Manuel Messias Filho, a se mudar há um ano para a casa de uma filha em Americana. "Eu e a minha mulher estamos doentes, com problemas nas pernas. Não dá para viver assim", disse ele, que enfrentou inundações no local durante 20 anos. A casa do Picerno foi cedida para um parente, que perdeu tudo com a chuva de domingo à noite.

Um morador da Rua Krenak, no mesmo bairro, conseguiu evitar que a água do Quilombo invadisse a casa ao fazer uma comporta usando borracha de porta de geladeira. "Aprendi isso ao ver uma reportagem sobre inundação em São Paulo", explicou o aposentado Luiz Carlos de Oliveira. Ele já ajudou outro vizinho a instalar a comporta na residência. Nessa rua, os moradores tinham que usar bota de borracha para sair de casa, com a água batendo na altura da canela. "Isso nunca acontece em outubro. As enchentes ocorriam em dezembro e janeiro", disse Luiz Carlos de Oliveira.

A Prefeitura de Sumaré anunciou que todas as famílias atingidas pela enchente receberão isenção do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e iniciou a limpeza das vias públicas. Quando a água baixar, também fará o saneamento das ruas inundadas. Além disso, a administração fez a distribuição de cestas básicas e as famílias abrigadas no salão paroquial recebem alimentação e atendimento de saúde.

CAMPINAS

Campinas registrou nos primeiros dias de outubro o maior volume de chuvas para o mês dos últimos cinco anos, com o acumulado até a manhã de segunda-feira (9) de 132 milímetros, de acordo com o Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Universidade Estadual de Campinas. O volume é inferior apenas aos 142,5 mm registrado em todo o mês de outubro de 2018.

De acordo com a Prefeitura, em pontos da cidade chegou a chover 82,8 mm apenas na noite de domingo, o que levou à determinação, segunda-feira (9) de manhã, do fechamento de todos os 25 parques públicos por 24 horas. "A gente vive um dilema terrível. Há risco de árvores caírem e provocarem tragédias. Quando a gente poda as árvores, é criticado. Esse meio termo não é fácil", disse o prefeito Dário Saadi (Republicanos).

Após duas mortes por quedas de árvores entre o final de dezembro e janeiro passado, a administração decidiu determinar o fechamento dos parques sempre que a chuva acumulada ultrapassar os 80 mm. Saadi deixou temporariamente por três vezes um evento público segunda-feira (9) de manhã na Prefeitura para participar de reuniões de avaliação dos estragos provocados pelas chuvas.

O temporal de domingo (8) à noite foi acompanhado por fortes ventos e raios, que chegaram, às 20h05, a 81,5 quilômetros por hora na estação medidora do Aeroporto Internacional de Viracopos. Durante a chuva, os moradores do Jardim Von Zuben ficaram sem energia elétrica. A CPFL Paulista informou interrupções também nos bairros Jardim dos Oliveira, Jardim São Gabriel, Parque Valência, Parque das Figueiras, Vila Industrial, Santa Mônica e Santa Genebra.

Uma forte enxurrada inundou a Avenida Princesa d´Oeste, arrastando vários carros que estavam estacionados. A Defesa Civil municipal registrou a queda de 94 árvores, 26 imóveis alagados, queda de muros em sete locais, dois deslizamentos e um destelhamento. Ninguém precisou ser desalojado e não houve vítimas.

Os Centros de Saúde Santa Bárbara, Cássio Raposo do Amaral, São Cristóvão, Tancredo Neves, São Quirino, 31 de Março, Caps AD Sudoeste e o Centro de Referência do Idoso (CRI) estavam segunda-feira (9) com o atendimento parcial em razão de alagamentos causados pela forte chuva. O CS Figueira ficou sem energia elétrica e suspendeu parte do atendimento até às 8h, quando o fornecimento da eletricidade foi restabelecido. Os CSs Valença, Ipaussurama, São Vicente, Joaquim Egídio e Orosimbo Maia tiveram o atendimento normalizado também por volta das 8h. As Escolas Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Júlio de Mesquita Filho, no Jardim São Vicente, e Castelo Branco, no Jardim Nova Europa, tiveram partes das salas alagadas, mas as aulas foram mantidas.

O atendimento no Hospital Municipal Dr. Mário Gatti foi prejudicado temporariamente no domingo à noite porque partes do Pronto Socorro e da recepção ficaram alagadas. Segundo a Administração Municipal, as galerias de água pluviais não deram conta do grande volume de chuva e transbordaram. A Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento (Sanasa) fez na segunda-feira (9) a recuperação de alambrados e taludes que caíram no Parque das Águas. Segundo a empresa, que é responsável pela área de lazer, os espaços frequentados pelos visitantes não foram atingidos.

De acordo com a meteorologista Ana Maria Heuminski de Ávila, pesquisadora do Cepagri, as chuvas são normais nesta época do ano, mas o que chamou a atenção foi o grande volume no final de semana na região. A chuva acumulada de 132 mm entre o dia 1º deste mês e na segunda-feira (9) é superior a média histórica para outubro. Segundo o Centro de Pesquisas Meteorológicas da Unicamp, a média para o mês registrada entre 1990 e 2022 foi de 112,5 mm.

Ana explicou que as tempestades foram causadas pela chegada de uma frente fria, que se encontrou com uma zona de baixa pressão. "Essa zona de baixa pressão suga toda a umidade e propicia a formação de nuvens em grandes alturas", disse. Esse quadro, associado a altas temperaturas, dá origem as tempestades.

A meteorologista apontou que novas chuvas devem atingir a região entre quinta e sexta-feira, quando uma nova frente fria deve chegar. De acordo com Ana, até lá continuará predominando a alta temperatura, com máxima entre 32 e 34º C. "A grande questão é as pessoas procurarem não se expor ao risco durante chuvas fortes", disse. Ela orientou a procurarem abrigo em locais cobertos nessas ocasiões e não tentarem atravessar inundações ou pontos com fortes enxurradas.

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