EPIDEMIA

Região Metropolitana de Campinas tem três mortes suspeitas de dengue

Dois óbitos estão sendo investigados em Campinas e um em Vinhedo; metrópole tem quase 80% de todos os casos da RMC

Paulo Medina/ [email protected]
01/03/2024 às 08:32.
Atualizado em 01/03/2024 às 08:41
Laboratório de patologia clínica em Campinas; o Jardim Eulina registra 664 casos, seguido do Jardim Aurélia, com 330, distrito de Sousas, com 300, São Quirino, com 295 e Santo Antônio, com 238 (Carlos Bassan)

Laboratório de patologia clínica em Campinas; o Jardim Eulina registra 664 casos, seguido do Jardim Aurélia, com 330, distrito de Sousas, com 300, São Quirino, com 295 e Santo Antônio, com 238 (Carlos Bassan)

Após Campinas confirmar a primeira morte por dengue, estatísticas da Secretaria Estadual de Saúde apontam que a Região Metropolitana de Campinas (RMC) tem mais três suspeitas de óbitos em decorrência da doença. São duas mortes em investigação em Campinas e uma em Vinhedo. O levantamento estadual também mostra que a RMC totaliza nove casos graves de dengue. As cidades da região registram 12.829 infecções pela doença e Campinas concentra, sozinha, 79,7% da dengue de toda a RMC, com 10.232 casos.

Não há detalhes sobre os óbitos suspeitos ocorridos em Campinas. Já em Vinhedo, a Prefeitura informou que a vítima faleceu no dia 19. Ela fez dois testes, sendo que o resultado de um foi positivo e do outro negativo. Era uma mulher de 67 anos, moradora da Capela. Ela possuía comorbidades O Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, fará a contra-prova para o resultado final, que está previsto para sair no dia 5 de março.

Campinas tem até o momento uma morte por dengue em 2024, confirmada na tarde de terça-feira, 27 de fevereiro. As cidades que até o dia 28 de fevereiro possuíam casos graves de dengue, são Campinas, com cinco casos, Indaiatuba e Itatiba, com um caso cada, e Nova Odessa, com dois. Ainda de acordo com o Estado, são 3.256 casos de dengue em investigação nas cidades da região. 

A Secretaria de Estado da Saúde afirmou que a definição de caso grave de dengue acontece quando o paciente apresenta um ou mais de sintomas, como choque ou desconforto respiratório em função do extravasamento grave de plasma, choque evidenciado por taquicardia, pulso débil ou indetectável, taquicardia, extremidades frias e tempo de perfusão capilar maior que dois segundos, pressão diferencial convergente, sangramento grave e comprometimento grave dos órgãos e do sistema nervoso central, inclusive com perda da consciência.

Segundo o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), a dengue grave se instala da mesma maneira que a forma clássica da doença, porém evolui rapidamente para um quadro mais grave sem que se possa prever este agravamento do quadro do paciente. “Os principais sintomas são dor abdominal, vômitos, agitação e pele seca, seguidos de queda de pressão. Se não receber tratamento imediato, o paciente pode perder a consciência e chegar ao óbito por choque em poucas horas."
Em Campinas, o Jardim Eulina registra 664 casos, seguido do Jardim Aurélia, com 330, distrito de Sousas, com 300, São Quirino, com 295, Santo Antônio, com 238, e DIC III e Vista Alegre, ambos com 228 casos. A primeira vítima fatal da dengue em Campinas, inclusive, era moradora do Jardim Eulina e tinha 94 anos. Ela apresentou sintomas em 30 de janeiro e o óbito foi no dia 12 de fevereiro. Ela teve infecção pelo sorotipo 1.

O infectologista Arnaldo Gouveia Junior advertiu que a região ainda não chegou ao pico da doença e que “o pior está por vir”. “O pior vai ser agora, de meados de março até, talvez, começo de maio. A curva ainda está em ascensão, ela é exponencial. Este ano, a previsão é que o Brasil tenha uma grande epidemia. A estimativa é que, ao final dela, podemos ter entre 4 e 5 milhões de casos, uma epidemia muito grande, como não se via há uma década. São vários fatores, principalmente três, combinados para uma ‘tempestade perfeita’. Nós temos este verão extremamente quente, uma distribuição anômala da chuva, menos chuva em janeiro, agora mais em fevereiro. Também tivemos reintrodução do tipo 3. Se você tiver o sorotipo 1 da dengue, depois você pode ter o 2, 3 e 4. Você pode ter 4 vezes."

O especialista reiterou medidas como o uso de repelentes e controle de criadouros dentro das casas para prevenir as infecções e disse que grupos de risco devem tomar mais cuidados com a doença. “As complicações, os casos de dengue mais graves, não se distribuem aleatoriamente. Tem certos grupos nos quais é mais importante o cuidado com os mosquitos, são os grupos onde há mais mortalidade. São maiores de 65 anos ou crianças menores de dois anos, gestantes, pessoas com doença pulmonar crônica, doenças cardíacas crônicas, hipertensão, diabetes, pessoas que têm doenças do sangue, como anemia. Elas têm que tomar mais cuidado.”

CAPACITAÇÃO 

Na quinta-feira (29), a Agência Metropolitana de Campinas (Agemcamp) promoveu o “Curso de Operação de Sistemas de Aeronaves Remotamente Pilotadas no Enfrentamento da Dengue”, no Parque Ecológico Monsenhor Emílio José Salim, no Parque Nova Campinas, para ampliar a capacitação das defesas civis da região e a operação de drones nos municípios.

O diretor da Defesa Civil de Campinas, Sidney Furtado, explicou a necessidade de treinamento das equipes de Defesa Civil e Saúde para obter melhores resultados contra a dengue. “A Região Metropolitana, através do Conselho de Desenvolvimento dos prefeitos e da Agência Metropolitana, a Agemcamp, disponibilizou um equipamento chamado COE, que é o Centro de Operações de Emergência, e tem a entrega também de mais um drone. Todas as cidades receberão um, mas não adianta apenas ter o drone, você precisa ter treinamento de equipe. Então nós fizemos curso de pilotagem para todas as cidades, e agora nós estamos fazendo um aperfeiçoamento focado no enfrentamento da dengue. Hoje, equipes da Saúde já vieram e tiveram uma explanação de que eles (os que estão sendo treinados) devem, efetivamente, procurar criadouros. Toda operação de drone tem que ser feita junto com a Saúde. Eles tiveram um treinamento prático do uso de drone e nós colocamos vários criadouros dentro de um campo de futebol. Amissão deles é fazer essa localização desses equipamentos, é mais uma ferramenta de apoio de enfrentamento à dengue aqui na região”, disse.

'DIA D' DE MOBILIZAÇÃO

As escolas estaduais de Campinas vão integrar as ações coletivas no "Dia D" de Mobilização Estadual contra a dengue, que acontece hoje. A expectativa é que os alunos da rede se envolvam no combate ao Aedes aegypti. A Subsecretaria e a Coordenadoria Pedagógica da Secretaria Estadual de Educação criaram materiais de apoio às escolas, de acordo com a faixa etária dos estudantes, para que o combate à dengue seja inserido como hábito e como aprendizado para os estudantes da rede. 

Os materiais de apoio trazem explicações sobre o ciclo de vida do mosquito transmissor da dengue e a importância de uma checagem semanal de eventuais criadouros, informações sobre as arboviroses, indicações sobre eventuais criadouros e tira-dúvidas sobre os sintomas da doença. As escolas foram, ainda, incentivadas a promover debates em sala de aula e a organizar campanhas de limpeza regulares dentro da escola, com foco na remoção de recipientes que acumulam água.

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