O déficit da balança comercial da Região Metropolitana de Campinas (RMC) superou a casa dos US$ 5,3 bilhões entre os meses de janeiro e agosto deste ano. No período, as exportações atingiram a marca dos US$ 3,05 bilhões, ao passo que as importações foram de US$ 8,37 bilhões. Diga-se de passagem, a RMC nunca exportou tanto. O drama é que as importações crescem em um ritmo mais acelerado. Os números fazem parte de um levantamento elaborado periodicamente pelos pesquisadores do Observatório PUC-Campinas, voltado ao monitoramento de dados socioeconômicos regionais. O que se contatou foi a confirmação de uma tendência de duas décadas: a balança é sempre negativa. O economista Paulo Ricardo Oliveira, há cinco anos na PUC-Campinas, responsável por analisar os dados fornecidos pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, afirma que o resultado reflete, principalmente, a queda de vendas de motores à combustão para o Exterior, sobretudo para a Argentina, historicamente um grande parceiro comercial, mas que vem enfrentando uma forte crise econômica, com desvalorização de sua moeda e inflação crescente. “É um número ruim para um dos polos tecnológicos mais importantes do País. A exportação de produtos complexos representa maior capacidade de geração de renda, produtividade e distribuição de renda”, avalia. Apenas em agosto, especificamente, houve queda de 28,6% nas exportações de produtos de alta complexidade, em comparação com os primeiros oito meses do ano anterior. Essa gama de produtos — como os motores e os instrumentos de laboratório — são os que mais dependem de tecnologia avançada. É um setor essencial para a região, pois está associado a salários mais altos e mão de obra qualificada. Setores em alta Apesar do déficit comercial, o estudo do Observatório constatou o aumento da exportação de produtos como veículos (31,34%), autopeças (11,49%) e partes de motores (20,09%). No que diz respeito aos produtos importados, destaque para sementes de soja (25,06%), alho e cebola (40,29%), fios, cabos e condutores (4,6%) e, de forma mais expressiva, pneus novos (197,91%). O desempenho da indústria, no caso, reflete uma estratégia de produção histórica. Os grandes conglomerados internacionais, por exemplo, se estabeleceram no Brasil para abastecer o mercado interno. Então, se gasta na compra dos componentes lá fora, e não se exporta o produto pronto. E a importação das peças é conjuntural. Há alguns casos em que importar sai mais barato que fabricar aqui. Em outros, a matriz estrangeira determina a compra de componentes de parceiros estrangeiros. “Na prática, quando importamos mais estamos exportando empregos. As linhas de produção lá de fora é que geram emprego e renda”, resume o economista. Campinas Campinas — cidade de maior expressão econômica na RMC — fechou o período de janeiro a agosto com US$ 736,7 milhões em exportações (ou 24,11% de todo o que foi exportado pelos 20 municípios). Mas as importações, no período foram de US$ 2.144,08 bilhões, o que representa um déficit de 1.407,36 na balança comercial. O destaque do crescimento das exportações na RMC no período ficou com Engenheiro Coelho (194,65%), que teve aumento expressivo na venda de resíduos vegetais para alimentação animal e frutas. Artur Nogueira (43,11%) também se destaca pelo crescimento da exportação da fruticultura. Nos dois casos, são produtos de menor valor agregado, ou seja, menor complexidade. Dentre os municípios que apresentaram maiores quedas nas exportações, destacam-se Cosmópolis (-26,56%) e Jaguariúna (-28,01%). O caso de Cosmópolis está associado à queda das vendas de açúcar de cana e medicamentos. Em Jaguariúna, houve queda expressiva na exportação de bombas de ar e de vácuo, compressores e medicamentos.