ABASTECIMENTO

Região já prepara medidas de emergência

Prefeituras cadastram caminhões-pipas e poços profundos para garantir o mínimo de água

Maria Teresa Costa
06/02/2014 às 17:46.
Atualizado em 26/04/2022 às 22:12
Nível do Rio Atibaia, em Campinas está cada vez mais baixo por causa da estiagem ( Dominique Torquato/AAN)

Nível do Rio Atibaia, em Campinas está cada vez mais baixo por causa da estiagem ( Dominique Torquato/AAN)

As perspectivas de caos hídrico na região das Bacias Piracicaba, Capivari e Jaguari levaram as cidades que integram o Consórcio PCJ a iniciar o cadastramento dos caminhões-pipas de empresas e prefeituras a elencar os poços profundos da região, para estarem preparadas para adotar o chamado abastecimento de salvação - garantir, em situação extrema de seca, o fornecimento de 20 litros de água diário por pessoa.   Se a ausência de chuva persistir e com o Sistema Cantareira recebendo 5 m3/s e retirando 35 m3/s, os reservatórios secarão em 80 dias e, segundo o consórcio, as represas podem levar até cinco anos para se recuperarem e voltarem a armazenar água. Cinco cidades na região já estão em sistema de racionamento de água.   Sem chuva   A decisão do momento a adotar esse abastecimento de salvação vai depender de como os reservatórios irão se comportar. Não há perspectiva de chuva até segunda-feira. O grupo de eventos extremos do consórcio se reuniu nesta quinta-feira (6), em Americana, e orientou as cidades a declararem estado de emergência - medida adotada ontem por Valinhos. A cidade, que já havia adotado sistema de rodízio no fornecimento de água, iniciou  o racionamento, que deixará cada um dos sete grupos de bairros sem água duas vezes por semana durante 18 horas. As cidades também estão sendo orientadas a aumentar o estoque de produtos químicos para tratar a água porque, na baixa vazão, há aumento da concentração de poluentes e a necessidade de elevar o uso de cloro na água que será tratada. Campinas, por exemplo, desde o mês passado quadruplicou o uso de cloro.   Dificuldades "Todas as cidades que dependem das calhas dos rios para abastecimento estão Foto: Carlos Sousa Ramos/AAN Representantes dos municípios que formam o Consórcio PCJ se reuniram para discutir a crise no abastecimento com dificuldades para captar água e fazem manobras técnicas para não deixar a população sem água", disse o diretor do Consórcio PCJ, Francisco Lahoz. O consórcio está fazendo monitoramento diário e trabalha em sistema de gabinete de crise, para discutir e propor medidas às prefeituras.   "Não estamos livres de adotar o abastecimento de salvação, como é feito no Nordeste, quando os açudes secam e todas as fontes de abastecimento se esgotam, situação em que a água do Litoral é levada para as regiões afetadas e distribuída por caminhões-pipa na base de 20 litros por pessoa", disse. O consumo médio para atender as necessidades é de 200 litros diários por habitante.   Autorização O uso de águas de poços profundos para o abastecimento público precisa de autorização do Departamento de Águas e Energia Elétrica (Daee). O departamento não informou a quantidade de poços operados por prefeituras e empresas existentes na Bacia PCJ. Campinas tem quatro - Jardim São Domingos, Monte Belo, Monte Belo II e Vila de Campinas - que respondem por menos de 1% do abastecimento da cidade.   O consórcio decidiu também apoiar a proposta do Ministério Público que está em análise na Agência Nacional de Água (ANA) e que recomenda que a agência desconsidere o banco de água da Sabesp, para garantir as vazões primárias para a região de Campinas. O banco de águas é uma reserva que tanto a Bacia PCJ quanto a Sabesp possuem no Sistema Cantareira para ser usado em situações emergenciais. Esse banco é formado pela economia feita ao longo do tempo e que, no caso da Bacia PCJ, já foi toda usada.RacionamentoCerca de 441 mil pessoas em cinco cidades na região de Campinas já estão sofrendo cortes no fornecimento de água. Valinhos, Vinhedo, São Pedro e Cosmópolis adotaram o racionamento por causa da baixa vazão dos mananciais e da dificuldade de retirar a água. Em Valinhos, que ontem entrou em estado de emergência, a cidade foi dividida em sete grupos e cada um deles ficará sem água duas vezes por semana, por 18 horas, entre 10h e 4h do dia seguinte.   Além do racionamento, Valinhos implantará também medidas que incluem penalização com multa de R$ 336,00 - dobrando no caso de reincidência - às pessoas flagradas pelos fiscais molhando jardins e quintais, lavando calçadas, tanto residenciais quanto comerciais, e veículos em residência.   Situação preocupante   Cosmópolis entrou em esquema de racionamento nesta quinta-feira depois de ter ficado sem energia elétrica na estação de tratamento entre 19h e 3h.Com a paralisação, a cidade decidiu adotar o racionamento, com parada no fornecimento de água das 22h às 7h, intercalando diariamente as duas áreas em que a cidade foi dividida. "A situação é preocupante e estamos monitorando as vazões o tempo todo", disse o secretário de Saneamento Básico, Vital Caió Filho.   A cidade de São Pedro também iniciou ontem o racionamento durante quatro horas por dia, porque mesmo com alertas em carros de som, cartazes e divulgação na mídia local, a autarquia da Prefeitura de São Pedro encontra dificuldade em conscientizar os moradores sobre o consumo racional. Na capitação do bairro Santana, o nível do Rio Pinheiros, que abastece 60% do município, está 40% abaixo da média de sua capacidade.   Sem chuvas, o racionamento prossegue diariamente, das 13 às 17 horas. "Hoje fazemos a captação, o tratamento e a distribuição de 12 milhões de litros de água por dia, o que significa 375 litros por pessoa no dia", explicou o diretor da autarquia, Sérgio Jorge Patrício - a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda 180 litros de água por pessoa ao dia. "Infelizmente, aqui em São Pedro o consumo é exagerado", disse.   De onde vem a água que abastece a RMCRio Atibaia - Campinas, Itatiba, Sumaré, ValinhosRio Jaguari - Hortolândia, Jaguariúna, Monte Mor, Paulínia, PedreiraRio Pirapitingui - CosmópolisRio Capivari - Campinas, VinhedoRio Capivari-Mirim - Indaiatuba, Monte MorRio Piracicaba - AmericanaMananciais Superficiais/Mistos - Artur Nogueira, Cosmópolis, Engenheiro Coelho, Holambra, Indaiatuba, Jaguariúna, Nova Odessa, Santa Bárbara d’Oeste, Santo Antônio de Posse, Sumaré, Valinhos, VinhedoPoços - Campinas, Hortolândia, Itatiba, Monte MorSem rodízioO abastecimento em Elias Fausto, Hortolândia, Itatiba, Monte Mor e Paulínia está normal, segundo comunicado da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) enviado à imprensa nesta sexta-feira (7). Por esse motivo, o racionamento está, por enquanto, descartado. A Sabesp reforça o pedido para que a população use água de forma racional adiando atividades como lavar o carro, quintais e calçadas.    Veja também Calor forte aumenta em 8,3% o consumo de água Campinas consumiu no mês passado 9,8 bilhões de litros, valor que não inclui, ainda, a água de poços artesianos Região e SP acirram a guerra pela água Sabesp pediu redução da vazão para a Bacia PCJ, o que causaria caos no abastecimento Interior está à beira do colapso em relação à água O rio Piracicaba está agonizando registrando a vazão mais baixa dos últimos 50 anos

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