FORÇA DO INTERIOR

Região detém maior índice de Valor de Transformação Industrial no Estado de SP

Segundo a Fundação Seade, o indicador saltou de 25,5% para 33,1% na RA de Campinas em 18 anos; na RM de São Paulo, caiu de 40,5% para 28,4% no mesmo período

Edimarcio A. Monteiro/ [email protected]
17/10/2023 às 09:15.
Atualizado em 17/10/2023 às 09:15
Levantamento realizado pela Fundação Seade indica que cada vez mais as indústrias de alta tecnologia, que produzem bens de alto valor agregado, têm se instalado na Região Administrativa de Campinas; outras cidades do interior, como Paulínia, também tem se destacado em relação ao Valor de Transformação Industrial (VTI) (Rodrigo Zanotto)

Levantamento realizado pela Fundação Seade indica que cada vez mais as indústrias de alta tecnologia, que produzem bens de alto valor agregado, têm se instalado na Região Administrativa de Campinas; outras cidades do interior, como Paulínia, também tem se destacado em relação ao Valor de Transformação Industrial (VTI) (Rodrigo Zanotto)

A Região Administrativa (RA) de Campinas, formada por 90 municípios, ultrapassou a Região Metropolitana (RM) de São Paulo e passou a ter o maior Valor de Transformação Industrial (VTI) do Estado. O indicador é calculado subtraindo os custos da operação do valor bruto da mercadoria fabricada. A participação da RA de Campinas no VTI estadual saltou de 25,5% para 33,1% em 18 anos, mudando a geografia industrial paulista, de acordo com estudo divulgado pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), que analisou o parâmetro de 2003 a 2021.

No mesmo período, a contribuição da RM de São Paulo caiu de 40,5% para 28,4%. Das 16 Regiões Administrativas do Estado, além de Campinas, outras 11 apresentaram crescimento: Sorocaba, Central, Bauru, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Marília, Barretos, Franca, Araçatuba, Presidente Prudente e Registro. O levantamento mostra ainda que São Paulo e outras duas regiões, São José dos Campos e Santos, tiveram redução e uma ficou estável - Itapeva.

Para a Seade, a pesquisa mostra o avanço da indústria de alta tecnologia para o interior, com os segmentos mais modernos e de alto valor agregado se instalando na região. "Se a região de Campinas fosse um Estado, seria o mais industrializado do país", disse o gerente de Indicadores Econômicos da fundação, Vagner Bessa. O resultado vai ao encontro de outros dois estudos realizados pela fundação. Um deles, divulgado em junho, mostrou que a RA de Campinas assumiu a liderança na produção de máquinas e equipamentos para agricultura, pecuária, construção civil e extração mineral, com participação de 39,3% no total de São Paulo, Estado que tem participação de 51% do volume nacional.

Outra análise apresentada no mês passado relevou que a região do Estado que mais recebeu novos investimentos no primeiro semestre deste ano, concentrando R$ 16,7 bilhões, o que representou 36,54% do total de R$ 45,7 bilhões no Estado. De acordo com o gerente da Seade, esses números são resultados da política de interiorização do desenvolvimento adotada pelo governo do Estado a partir dos anos 1990, com a ampliação da infraestrutura para atender as empresas. Os resultados começaram a surgir nas últimas duas décadas.

CIDADES

"A interiorização se deu principalmente a partir de 2010, com as empresas investindo principalmente em cidades em um raio de 100 quilômetros em torno da Capital", explicou Bessa. O estudo da Seade mostra ainda que Paulínia é o município com o maior VTI individual do Estado, com crescimento de 6,9% para 7,3%, enquanto São Paulo registrou queda de 14,7% para 6,5% entre 2003 e 2021. A tendência de declínio se repetiu em outros grandes municípios do Estado, como São José dos Campos (7,1% para 4%), Guarulhos (4% para 3,8%), Cubatão (4,1% para 3,4%), São Bernardo do Campo (5% para 3,1%) e Campinas (2,5% para 1,9%).

Por outro lado, outras cidades que se destacaram positivamente e registraram crescimento foram Sorocaba (1,5% para 2,6%), Jundiaí (1,7 para 2,5%), Piracicaba (1,4% para 2,5%) e Indaiatuba (0,7 para 1,5%). Paulínia registrou avanço principalmente por causa das indústrias de petróleo, gás e petroquímica.

O Valor de Transformação Industrial é calculado subtraindo os custos das operações industriais - aqueles ligados diretamente à produção, como matéria-prima, energia, combustíveis e manutenção - do valor bruto da produção industrial, composto da receita líquida industrial mais a variação dos estoques dos produtos acabados e em elaboração e a produção própria realizada para o ativo imobilizado. Paulínia é sede da maior refinaria de petróleo do país, que está recebendo um investimento de R$ 100 milhões no aprimoramento da produção de derivados de petróleo.

Em agosto, a planta processou 2,13 milhões de metros cúbicos do combustível fóssil, o maior volume desde 2014, de acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). A produção foi 29,7% maior do que igual mês de 2022.

A maior produtora de resinas termoplásticas nas Américas instalou uma fábrica em Paulínia em 2008, que hoje produz 42 toneladas/hora, o equivalente a duas carretas cheias. A empresa também investiu R$ 67 milhões em Indaiatuba em 2022 para instalar sua primeira unidade de reciclagem mecânica no país. Outros R$ 44 milhões estão sendo investidos na cidade para instalação de uma unidade de reciclagem avançada, que é feita quimicamente por um processo conhecido como pirólise - transformação por aquecimento de uma mistura ou de um composto orgânico em outras substâncias.

O gerente de Indicadores Econômicos da Seade explicou que as indústrias de alta tecnologia se caracterizam por terem um pequeno número de funcionários na produção. Porém, Vagner Bessa ressaltou que esses investimentos são importantes por movimentarem e gerarem empregos em todo a cadeia produtiva, que vai desde a construção civil, compra de equipamentos e depois investimentos em pesquisa e desenvolvimento.

A migração dos investimentos levou ao surgimento de novos polos de desenvolvimento, com Indaiatuba, Jundiaí e Piracicaba integrando a RA de Campinas. "Piracicaba é hoje o segundo maior polo do setor automobilístico", exemplificou o pesquisador.

Uma gigante desse segmento inaugurou sua fábrica na cidade em 2012 e no final do ano passado instalou sua primeira fábrica de motores para automóveis da América Latina. A nova unidade recebeu um investimento de R$ 500 milhões e gerou 256 novos empregos, com os motores deixando de ser importados da Coreia do Sul. "A planta de motores possui alto nível de automação em seus processos, proporcionando a flexibilidade necessária para adaptar as linhas de produção de forma ágil", disse o presidente e CEO da multinacional para o Brasil e Américas Central e do Sul, Ken Ramirez.

As empresas de alta tecnologia também têm mão de obra altamente qualificada e bem remunerada, o que aquece outros setores da economia, como o de serviços. Para o economista Cristiano Monteiro da Silva, professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas, os investimentos feitos na última década, tanto privado quanto público, preparam Campinas para o futuro. Eles estão ligados ao desenvolvimento sustentável, tecnologia e à modernização e ampliação da infraestrutura da cidade, aponta o estudo "Panorama de Investimento no Município de Campinas (2012-2022)", feito pelo Observatório PUC-Campinas com base no banco de estudos Seade.

"São investimentos importantes no sentido dinâmico socioeconômico, com forte participação da indústria, serviços intensivos em conhecimento e tecnologia e de infraestrutura", diz Cristiano Monteiro, autor do estudo. De acordo com o levantamento, o município se destaca pelos recursos se destinarem à implantação de novos projetos, representado 57% no período analisado. Os 43% outros recursos são destinados para ampliação, ampliação/modernização e modernização.

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