Área administrativa, que engloba 90 cidades, tem 5º pior desempenho do Estado no Ranking da Presença Feminina no Parlamento 2017, diz estudo
Sessão da Câmara de Campinas: Mariana Conti (PSOL) é a única mulher a ocupar uma das 33 cadeiras da Casa (Elcio Alves / AAN)
Apesar de constituírem 53% do eleitorado brasileiro, as mulheres estão sub-representadas na política. No cenário estadual, a Região Administrativa de Campinas tem o quinto pior desempenho do Estado no Ranking da Presença Feminina no Parlamento 2017, produzido pelo Projeto Mulheres Inspiradoras (PMI). De acordo com o levantamento, 97,3% (4.947) das mulheres que se candidataram a vereadoras na região não foram eleitas e 21% receberam menos de 10 votos nominais. A presença de candidatas a outros cargos do Executivo e do Legislativo também é baixa apesar da lei eleitoral que obriga o cumprimento de cota mínima de 30% para o gênero feminino desde 2009. A Região Administrativa de Campinas considera 90 municípios. Ao todo, 4.947 mulheres foram candidatas ao cargo de vereadora nas eleições passadas, das quais 130 foram eleitas, o correspondente a 2,3% para cada 100 mil habitantes. As outras 97% não se elegeram, sendo que 21,3% das candidatas tiveram 10 ou menos votos nominais (1.076 candidatas) e 293 candidatas não receberam nenhum voto. Na Região Metropolitana de Campinas, enquanto Monte Mor aparece com 3 vereadoras eleitas entre 54 candidatas e uma média de 69,28 eleitas para cada 100 mil habitantes, Campinas teve apenas uma vereadora eleita entre 250 candidatas, apresentando uma média de 1,26 mulheres eleitas para cada 100 mil habitantes. O estudo aponta a sub-representação feminina na política assim como a necessidade de avanços que garantam às mulheres o direito de participar, mas principalmente condições para que participem da política em condições de igualdade com os homens. Especialistas destacam que o sistema político precisa passar por uma reforma estrutural que favoreça, em geral, a inserção novas lideranças, qualificadas e vocacionadas ao serviço público. "A região de Campinas é desigual nesse sentido, o município de Corumbataí e Monte Mor estão acima da média do Estado, proporcionalmente a cada 100 mil habitantes, mas cidades como Várzea Paulista, Vargem Grande do Sul, Tambaú e outras mais com 0 eleitas, acabam derrubando a média da região" , afirma Marlene Campos Machado diretora-executiva do PMI. Única vereadora eleita de Campinas, a feminista Mariana Conti (PSOL), a política ainda é vista como um espaço majoritariamente para homens e as estruturas partidárias ainda são machistas. As mulheres enfrentam as barreiras do preconceito para serem eleitas e estarem em espaços de poder e decisão. "Temos representatividade baixíssima. Em Campinas, sou a única vereadora e 15ª na história municipal. E isso está relacionado a várias coisas, especialmente ao preconceito e discriminação que as mulheres sofrem na sociedade por serem submetidas a padrões machistas. Os partidos lançam mulheres para cumprir as cotas, mas com pouco investimento. As direções partidárias são basicamente masculinas. Mariana destaca a importância de criar condições das mulheres assumirem espaços de decisão. "É necessário construir formas das mulheres participarem da política. Isso não é natural. Precisamos ter formas de incentivo. Para isso acho que feminismo é fundamental porque empodera as mulheres para atuar na política em situação de desigualdade" . Ela acrescenta que é favorável à política de cota na eleição, mas também nas direções partidárias. Presidente do PCdoB em Campinas, Márcia Regina Quintanilha afirma que apenas a lei de cotas não é suficiente para garantir a representação feminina na política. "Os partidos precisam criar condições para que as mulheres possam realmente participar da política, das lideranças, dos órgãos diretórios com investimento em suas campanhas eleitorais, formação política" . Márcia também reforça as barreiras que as mulheres encontram ainda dentro de casa. "Tem que ter condições na vida privada para poder participar. Mas isso também tem a ver com política pública, com mais creches" , disse. Ela acrescentou que o seu partido tem proposta para reforma política com lista fechada e alternância de gênero. Professor de ciência política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Wagner Romão afirma que a sub-representação feminina na política é um fenômeno global no Brasil. "Os espaços da política institucional, dos partidos políticos são praticamente vedados para as mulheres. A dificuldade de participação tem a ver sim com um estado machista. Isso é fruto de séculos de dominação masculina e me parece que está mais do que na hora da gente tentar estabelecer em legislação eleitoral uma forma de se combater essa discriminação" . Ele ressaltou ainda que a atual legislação eleitoral é muito tímida quando trata das questões de desigualdade de gênero. "A última legislação foi essa que reservou no mínimo 30% de candidatura feminina para os parlamentos. Temos outros países em que o incentivo a essa participação das mulheres é muito mais forte" . O professor também defende um sistema de voto em lista fechada em que haja alternância de sexo em sua composição para garantir a paridade de gêneros nos parlamentos. “Ou a gente vai esperar uma evolução da sociedade no sentido da diminuição ou do fim do machismo, que é um processo lento e gradativo que não sabemos se realmente vai acontecer algum dia, ou vamos tomar medidas para chamar as mulheres para a política, obrigar os partidos a reforçarem seus quadros com mulheres, e estabelecer estratégias de formação política em que sobretudo as mulheres jovens sejam incluídas”, completou Wagner Romão.