Funcionários de fábrica de argamassa e rejunte, de Valinhos, registrou crescimento de 58% na produtividade após aderir ao programa (Kamá Ribeiro)
A região de Campinas leva vantagem em relação a outras do Estado de São Paulo e do país quando o assunto é o processo de inserção na nova era da indústria 4.0, como é conhecida a 4ª Revolução Industrial. Ela está inserida no maior parque tecnológico do país, dispõem de um Produto Interno Bruto (PIB) equivalente ao do Chile e prestes a receber a internet 5G, com capacidade para entregar velocidades 50 a 100 vezes maiores do que a atual, podendo alcançar até 10 Gbps.
A avaliação foi feita ontem pelo presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) e vice-presidente da Federação das Indústrias Fiesp, Rafael Cervone, ao participar, em Campinas, do road show da Jornada de Transformação Digital.
O programa oferecerá consultoria e treinamento gratuito para micro, pequenas e médias empresas, com faturamento anual de até R$ 8 milhões, introduzirem-se na indústria 4.0, a fim de se modernizarem, aumentar a produtividade, ampliar os negócios e elevar o lucro. Durante o road show, 345 inscritos previamente na jornada puderam assinar a adesão, mas a estimativa é a de que se atenda a 5 mil empresas da região em quatro anos.
No Estado de São Paulo, a meta é atingir 40 mil indústrias nesse mesmo período. "Isto não é ficção científica, é pé no chão e totalmente acessível", afirma Cervone. De acordo com ele, uma pesquisa feita com mil empresas que já participaram do processo de modernização mostra um ganho, em média, de 40% na produtividade, muitas vezes sem a necessidade de investimento.
A indústria 4.0 envolve a utilização de recursos como inteligência artificial, computação em nuvem, big data e analytics, robótica colaborativa, manufatura aditiva, simulação digital, cibersegurança, inteligência artificial, realidade aumentada e virtual.
A jornada tem a participação do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai-SP) e Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-SP) para atender as empresas em oito etapas de consultoria e treinamento voltados à indústria inteligente, visando a para identificar em qual nível a empresa se encontra e quais as suas necessidades.
Exemplos
Uma fabricante de peças para motocicletas de Campinas, que já participa do programa, obteve um ganho de produtividade de 30% em 4 meses ao adotar a digitalização da coleta de dados da produção, o que permitiu o controle aprimorado dos estoques, processo de fabricação, vendas e lançamento de novos produtos. "A qualidade da informação e a forma de agir são muito importantes", afirma o diretor comercial da indústria, Felipe Razera.
A empresa foi fundada há 30 anos e emprega 80 funcionários. "Estamos participando do projeto, que é essencial em todos os aspectos na busca pela automatização e, o mais importante, para tornar a empresa mais competitiva", afirma Razera.
Maurício Landmann, sócio-proprietário de uma fábrica de argamassa e rejunte de Valinhos, aponta alta de 58% na produtividade após aderir ao programa. Na sequência da consultoria, a empresa adotou mudanças no ensacamento do produto de 1 quilo, organização do estoque, disposição de matéria-prima e na produção.
De acordo com ele, a fábrica, que existe há 15 anos e emprega 25 funcionários, reduziu o prazo de entrega para os clientes, de fabricação e redução de custos, o que resultou na melhoria da competitividade. "A proposta da jornada é o ganho de produtividade. Para a pequena empresa, é uma oportunidade para crescer", diz Landmann. Uma grande de lojas de roupas incentivou 250 empresas a aderirem à jornada e adotar mudanças na produção, aprimoramento da qualidade, readequação da logística e redução dos prazos de entrega.
Oportunidade
Para o presidente do Ciesp, a busca por novos fornecedores pelas multinacionais diante dos problemas enfrentados com a pandemia de covid-19 na Ásia e a guerra entre Rússia e Ucrânia é uma oportunidade para o Estado de São Paulo receber investimentos e de novos negócios para as micro, pequenas e médias empresas paulistas. "As grandes empresas já estão inseridas na indústria 4.0, mas elas precisam de fornecedores, os quais também precisam estar nesse processo", afirma Cervone.
Ele explica que o novo processo de fabricação prevê a entrega de matéria-prima ou peças em questão de horas e não mais de dias, de modo que os fornecedores precisam se manter próximos dos grandes clientes. Das 53.073 indústrias instaladas no Estado, 48.877 são micro e pequenas, o equivalente a 92% do total. Na região de Campinas estão presentes 50 das 500 maiores empresas do mundo, com as MPEs precisando estar integradas ao processo de modernização industrial.
A Jornada de Transformação Digital inclui consultoria e treinamento nas áreas de diagnóstico da empresa, estratégia, otimização de processos, avaliação da maturidade tecnológica, automação, digitalização, integração e indústria inteligente.
"Na indústria 4.0, as máquinas 'conversam', o controle da produção pode ser realizado a distância, a tecnologia é altamente presente", acrescenta Cervone. Para ele, a internet 5G, prevista para ser implantada em Campinas em janeiro próximo, torna esse processo mais ágil.
Nesse novo processo de revolução industrial, por exemplo, o treinamento dos funcionários pode ser feito em um ambiente de realidade virtual, com a simulação de uma unidade fabril. Para o diretor titular do Ciesp-Campinas, José Henrique Toledo Corrêa, o corredor de alta tecnologia - que abrange as regiões de São Carlos, Campinas e São José dos Campos - tem muito a ganhar com a modernização industrial.
"Deveremos obter aumento na produção de peças e componentes por empresas locais, tais como chips, eletroeletrônicos e produtos de química fina, entre outros", diz ele. De acordo com o Ciesp, o tempo de duração da consultoria e da implementação dos projetos varia de acordo com a necessidade e disponibilidade de cada indústria, tanto para o acompanhamento das visitas quanto para a execução das ações recomendadas pelos consultores.
A consultoria a ser dada aos participantes apontará a necessidade ou não de investimentos em tecnologias e automação da produção. Para a implantação das mudanças, várias agências de fomento disponibilizam linhas de créditos para as empresas, entre elas, o Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Fundo de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).
As taxas de juros e condições de pagamento dependem da área em que o investimento será feito e do perfil da empresa interessada. O Desenvolve SP, banco do governo estadual, está formatando uma linha de crédito especial para as empresas participantes da Jornada de Transformação Digital. Porém, a instituição ainda não definiu os detalhes do financiamento.
De acordo com o diretor do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial em São Paulo (Senai-SP), Ricardo Figueiredo Terra, os cursos de treinamento de pessoal poderão ser coletivos ou personalizados, dependendo da necessidade das empresas participantes. "Os ganhos obtidos com a produtividade viabilizam o pagamento dos investimentos que forem necessários", afirma. Após Campinas, o road show será realizado em São Paulo (Distrital Sul) no dia 4 de outubro; Diadema, dia 6; e Sorocaba, dia 18.