R$ 318 milhões vêm do setor de serviços, enquanto da indústria, R$ 697 milhões
Embora não entre na conta do relatório da Seade, um investimento anunciado foi o da Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon) na Santa Casa de Campinas (Kamá Ribeiro)
A Fundação Seade, órgão vinculado à Secretaria de Governo do Estado de São Paulo, divulgou um levantamento que aponta que a Região Administrativa de Campinas, composta por 90 cidades, é responsável por 15% do total de investimentos anunciados na área de Saúde para todo o Estado, considerando-se o período de 2019 até setembro deste ano. Essa porcentagem é equivalente a pouco mais de R$ 1 bilhão. A grande força da região de Campinas se mostrou nos investimentos anunciados na Indústria, enquanto a Região Metropolitana de São Paulo, com 71% dos R$ 6,9 bilhões anunciados ao todo para a saúde, destacou-se nos serviços, em hospitais de grande porte.
A posição da região de Campinas no ranking corrobora análises de que há um processo de aumento nos recursos financeiros outrora concentrados na Região Metropolitana de São Paulo.
Em abril, durante entrevista ao Correio Popular, o médico cirurgião Erickson Blun, ex-diretor-presidente do Hospital Vera Cruz e um dos fundadores da Associação Nacional dos Hospitais Privados (Anahp), fez a previsão de que o município se tornaria, em cinco anos, o principal polo de saúde do Brasil.
Na opinião do especialista, além de ter uma área de pesquisa e de ensino férteis e uma rede de atendimento em plena expansão, que contempla moradores de outras cidades, estados e até regiões, ainda há grandes mentes e cérebros reunidos no setor, o que levará Campinas a ocupar essa posição.
Além disso, o levantamento da Fundação Seade tratou dos investimentos anunciados e, por isso, alguns projetos futuros, principalmente em relação à Oncologia, ainda não entram nessa conta. Um deles, anunciado pelo Correio Popular, no início de setembro, é a instalação de uma Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon) na Santa Casa de Campinas, com a perspectiva de atender integralmente pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS).
Questionada se com o tempo poderia haver alguma saturação de investimentos concentrados na região de São Paulo, o que acarretaria em uma melhor distribuição para as outras regiões, a analista da Divisão de Estudos Econômicos e Projetos da Fundação Seade, Margarida Kalemkarian, disse que essa é uma tendência.
"Os investimentos estão se disseminando em várias instituições hospitalares, principalmente na área de Oncologia, à medida que se percebe a demanda crescente. Cardiologia, Oncologia, são áreas com alta demanda e que vinha se concentrando muito em São Paulo. Aos poucos a coisa está se difundindo e Campinas é uma das principais regiões para onde se deslocam esses investimentos. A tendência é a de que eles sejam distribuídos de modo que as pessoas não precisem se deslocar tanto. Quanto mais próximo o serviço da residência da pessoa, melhor".
Investimento em serviços
Do pouco mais de R$ 1 bilhão em recursos anunciados, R$ 318 milhões foram para serviços, principalmente em estabelecimentos de saúde contemplados com uma parcela das indenizações exigidas pelo Ministério Público do Trabalho de Campinas em ações judiciais contra empresas que provocaram dano ao meio ambiente e à saúde de funcionários e moradores da região.
O acordo Shell/Basf rendeu um aporte de R$ 48 milhões entre 2019 até o mês passado no Centro Infantil Boldrini, sendo que o dinheiro estava previsto para a implantação do Instituto de Engenharia Molecular e Celular - o primeiro centro de pesquisas sobre câncer pediátrico do país - e aquisição de equipamentos e mobiliários.
Outro beneficiado foi a Fundação da Área da Saúde de Campinas (Fascamp), que anunciou pouco mais de R$ 40 milhões para a instalação do Instituto de Otorrinolaringologia & Cirurgia de Cabeça e Pescoço (IOU), na Unicamp.
Houve ainda R$ 34 milhões para a construção do Hospital do Amor em Campinas e para a aquisição de carretas adaptadas para a realização de exames e R$ 28 milhões para a Associação Ilumina de Piracicaba.
A Santa Casa de Capivari também foi favorecida com a destinação de R$ 25 milhões para a construção de uma clínica de diagnóstico voltada à detecção de doenças relacionadas ao amianto na população e em empregados e ex-empregados da Brasilit, que até 2002 utilizava amianto, substância cancerígena, em sua fábrica de fibrocimento na mesma cidade. O valor de R$ 25 milhões foi definido em acordo entre a empresa e o Ministério Público do Trabalho.
Além das indenizações, há outros valores investidos na região, como R$ 500 mil para o Centro de Trauma do Hospital Vera Cruz, que foi inaugurado em 2019.
Indústria
A RA de Campinas se destacou em outro tipo de aporte no levantamento - em indústria. Foram R$ 697 milhões para a indústria da região no mesmo período de 2019 a setembro de 2022. Ao todo, o ramo farmacêutico anunciou recursos da ordem de R$ 783 milhões, sendo que as três principais empresas que divulgaram os investimentos estão na região administrativa de Campinas. A Sanofi, com R$ 187 milhões, é a primeira no ranking. O investimento foi anunciado em 2021 e seria voltado a pesquisas no centro de desenvolvimento.
Em segundo lugar no ranking aparece a Antibióticos do Brasil (ABL), em Cosmópolis. Em 2019 foi anunciado o investimento de R$ 180 milhões na empresa que desenvolve antibióticos tanto para o mercado interno como no externo. A verba tinha como objetivo aumentar a produção de cefalosporinas, um grupo de antibióticos utilizados no tratamento de infecções bacterianas. Foram feitas melhorias na fábrica de Cosmópolis com essa finalidade.
O terceiro lugar do ranking de investimentos na indústria farmacêutica foi da Cristália, que tem um complexo industrial em Itapira. Com investimentos da ordem de R$ 150 milhões a Cristália instalou a primeira planta farmoquímica oncológica da América Latina, capaz de produzir Insumos Farmacêuticos Ativos (IFAs) que são utilizados na fabricação de medicamentos para o tratamento de adenomas, câncer de mama, pulmão, medula, ossos e cérebro. Antes, a empresa importava os IFAs.
Além das três empresas do setor farmacêutico, há ainda na região a Plenun, de Jundiaí, com investimento de R$ 100 milhões, e a Dentsply Sirona, de Pirassununga, com R$ 75 milhões, ambas categorizadas dentro do segmento de produtos diversos para uso médico e odontológico.
"Campinas é reconhecida como um polo que concentra um conhecimento científico muito grande e isso atrai empresas interessadas. Há as universidades, que desenvolvem coisas inéditas de alta complexidade, o que seduz as indústrias que têm forte presença na região de Campinas. O conhecimento científico acumulado na região contribui sobremaneira para essa instalação de indústrias de alta tecnologia", afirmou Margarida.
No geral, o levantamento mostrou que o valor total de investimentos anunciados até o mês de setembro de 2022, R$ 2,15 bilhões, superou os montantes de 2020 (R$ 1 bilhão) e 2021 (R$ 1,5 bilhão), estando bem próximo de ultrapassar os R$ 2,16 bilhões de 2019 - ainda antes da pandemia. Ao contrário da região de Campinas, no Estado houve mais anúncio de recursos para o setor de serviços (80% - ou R$ 5,7 bilhões) do que a empreendimentos industriais (17% - R$ 1,2 bilhão).