FUNDAÇÃO SEADE

Região de Campinas registra queda de 8,5% em natalidade

Nasceram 7 mil crianças a menos nos 90 municípios da região administrativa em 2021

Edimarcio A. Monteiro
17/05/2022 às 08:31.
Atualizado em 17/05/2022 às 08:31
Na Região Administrativa, Campinas foi a cidade com maior número de nascimentos em 2021: 6.283 do sexo feminino e 6.547 meninos (Gustavo Tilio)

Na Região Administrativa, Campinas foi a cidade com maior número de nascimentos em 2021: 6.283 do sexo feminino e 6.547 meninos (Gustavo Tilio)

A Região Administrativa de Campinas registrou queda de 7 mil nascimentos em 2021, a segunda maior retração do Estado de São Paulo. Os 90 municípios da RA tiveram uma queda na natalidade de 8,5% no ano passado em comparação a 2019, de acordo com estudo divulgado pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade). A taxa é menor apenas do que a verificada na Região Metropolitana de São Paulo, que registrou redução de 12,5%, ou seja, 36 mil crianças a menos.

De acordo com o levantamento, o número de nascimentos vivos diminui em todas as regiões do Estado. “Essa diminuição pode ser decorrência da combinação da queda da fecundidade e da decisão do casal em adiar ou evitar a gravidez frente à pandemia”, aponta o Seade. Em 2021, pouco mais de 522 mil mulheres se tornaram mães no Estado, segundo o estudo feito com base nas estatísticas do Registro Civil.

Na RA de Campinas, nasceram 78.609 bebês no ano passado: a maioria é do sexo masculino, 40.098, e 38.511 do sexo feminino. Campinas é a cidade com o maior número de nascimentos, 12.830, o equivalente a 16,33% da Região Administrativa. No município, nasceram 6.547 meninos e 6.283 meninas. 

A técnica de enfermagem Franciele Santos acalentava o sonho de ser mãe, mas vinha adiando-o por causa de um tratamento de saúde. “Eu tinha que esperar o término desse tratamento para poder engravidar”, explica. A espera terminou este ano, com o procedimento sendo trocado pelo pré-natal. Feliz, Franciele exibe a barriga de cinco meses de gravidez, aguardando o nascimento da criança para setembro. A chegada do mês da Primavera marcará o desabrochar de uma nova mãe.

Já a cidade com a menor natalidade foi a pequena Santa Cruz da Conceição, com 27 nascimentos em 2021, média de 2,25 por mês. Ou seja, o município na região Central do Estado registrou menos de um nascimento por semana. Para ser exato, foi um a cada 13 dias. A cidade tem 4.372 habitantes, aponta o Seade.

Perfil das mães

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam diferenças no perfil das mães em Campinas em relação ao nacional. No município, o maior número de mães que tiveram filhos em 2019 estava na faixa etária de 30 a 34 anos – 25,08% do total. Em segundo lugar, aparecem as mulheres de 25 a 29 anos, 24,67%. Ou seja, os dois grupos responderam por metade dos nascimentos (49,75%). Em terceiro lugar, aparecem as mães de 20 a 24 anos (21,05%), seguido pelas de 35 a 39 anos (15,83%). 

De acordo com o professor do IFCH, essa é a realidade verificada também nas capitais brasileiras e nas cidades mais ricas. Já o perfil geral nacional aponta maior número de mães entre 20 e 24 anos (24,33%), seguido pelas de 25 a 29 anos (24,53%). As mulheres de 30 a 34 anos aparecem na terceira posição (20,83%), apontam os dados do IBGE.

No Estado

A Fundação destaca que 2021 foi o quarto ano seguido de declínio da natalidade no Estado de São Paulo. Foram quase 30 mil nascimentos a menos do que 2020, com o total chegando a 89 mil crianças a menos desde 2017. 

A queda ocorreu em todas as regiões do Estado de São Paulo em 2021. De acordo com o levantamento do Seade, os municípios da região Oeste e de Franca tiveram redução entre 8% e 11%. Já as menores quedas foram registradas nas regiões Central e de Sorocaba, onde a redução foi inferior a 6%.

O presidente da Maternidade de Campinas, ginecologista Marcos Miele da Ponte, atribuiu a queda da natalidade à pandemia de covid-19 e à crise econômica do País. O hospital é responsável pela metade dos partos na cidade, sendo referência para a Região Metropolitana. Segundo o médico, a queda se acentuou a partir do início deste século, mas foi mais expressiva em dois momentos de crise sanitária, 2017, em função do zika vírus, e mais recentemente com a pandemia de covid-19.

“Dificilmente, voltaremos ao patamar de nascimentos de 2019. Primeiro, teve o medo gerado pela pandemia, agora temos a questão econômica”, afirma Ponte. Para ele, o medo de desemprego e a queda no poder aquisitivo da população devem fazer com que as mulheres continuem a adiar a maternidade.

O Seade aponta que o efeito da pandemia teve um reflexo diferente nos nascimentos em relação aos casamentos e óbitos. De acordo com o órgão, o efeito da covid-19 foi bastante visível em 2020 e 2021 na distribuição mensal de casamentos e óbitos. Porém, “as estatísticas mensais de nascidos vivos indicam que a sazonalidade se manteve ao longo desses anos, concomitante à redução contínua no número mensal de eventos”, diz o relatório.

Na evolução mensal, aponta a Fundação, o número de nascimentos no primeiro semestre, em especial entre março e maio, é ligeiramente superior ao do segundo semestre de 2019 a 2021. No ano passado, a taxa de fecundidade geral do Estado foi de 43,5 nascidos vivos por mil mulheres em idade reprodutiva (de 15 a 49 anos), variando de 14 a 77 por mil entre os municípios paulistas. 

De acordo com a Fundação Seade, a fecundidade na região Sul do Estado é mais elevada e ao Norte é mais baixa. Entre os municípios com mais de 120 nascimentos, Bady Bassitt (77,3 por mil) e Barueri (71,7) apresentaram as maiores taxas. Já as menores foram observadas em Pradópolis (31,1) e Monte Aprazível (30). 

Consequências

Para Everton Emanuel Campos de Lima, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas e pesquisador do Núcleo de Estudos da População (Nepo) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), “o fato é que há um consenso de que a queda na natalidade e no número de filhos por família é um caminho sem volta”. Ele diz que há aspectos positivos e negativos nessa mudança da realidade demográfica do País.

Pelo lado positivo, mostra que as mulheres estão tendo ascensão profissional e econômica, o que as faz adiar a maternidade e ter um número menor de filhos. 

Em termos globais, pensando no planeta como um tudo, a redução populacional diminuirá o uso dos recursos naturais e os impactos das mudanças climáticas.

O lado negativo da queda da natalidade é a redução da População Econômica Ativa (PEA) no futuro, ou seja, das pessoas a partir de 16 anos em condições de trabalhar. A tradução disso é a diminuição da mão-de-obra disponível no mercado. Outro reflexo é o envelhecimento da população, o que pressionará o sistema previdenciário do País. Haverá um número menor de pessoas pagando a Previdência e uma fatia maior de aposentados recebendo, o que está associado também à maior longevidade do brasileiro.

Média de filhos

O resultado é o desequilíbrio da balança do sistema, o que exigirá a reforma previdenciária, um tema que o brasileiro ouve muito falar,

Para o pesquisador do Núcleo de Estudos da População, essa nova realidade se fará presente em um horizonte próximo. “Na realidade, em termos demográficos, há uma visão de que a redução de nascimentos tem um impacto negativo para a população como um todo”, afirma. Para Lima, o Brasil passa pelo processo de redução do número de filhos e envelhecimento da população de forma muito mais rápida do que os países da Europa passaram.

Ele avalia como uma média ideal dois filhos por família, ou seja, um equilíbrio entre o número de crianças e o casal. Porém, estudo do Seade mostra que o número médio de filhos no Estado de São Paulo, entre 2000 e 2020, passou de 2,08 filhos por mulher para 1,56, redução de 25%. A pesquisa foi feita com base nas informações dos Cartórios de Registro Civil.

A estimativa ano a ano mostra que esse decréscimo não foi contínuo ao longo do período. Após alcançar o patamar de 1,70 filho em 2007, manteve-se relativamente estável por uma década. A partir de 2019, iniciou-se nova queda, quando o número de filhos por mulher chegou a 1,65. 

O pesquisador do Nepo acrescenta que o envelhecimento da população exigirá também mudanças no sistema de saúde, com a oferta de serviços voltados para pessoas de mais idade, como de geriatria. Além disso, será preciso atender à necessidade de mão de obra, de forma que as pessoas continuarão a trabalhar mesmo depois de aposentadas. Empresas europeias, explica, já se adaptaram a essa realidade.

CIDADES COM MAIOR NÚMERO DE NASCIMENTOS NA REGIÃO ADMINISTRATIVA DE CAMPINAS EM 2021 

MUNICÍPIO           MASCULINO              FEMININO              TOTAL

Campinas                  6.547                           6.283                  12.830

Jundiaí                       2.778                          2.702                   5.480

Piracicaba                  2.412                          2.267                   4.679

Sumaré                      1.691                          1.685                   3.376

Limeira                       1.598                          1.576                   3.174

Fonte: Seade

CIDADES COM MENOR NÚMERO DE NASCIMENTOS NA REGIÃO ADMINISTRATIVA EM 2021

MUNICÍPIO                                MASCULINO               FEMININO             TOTAL

Santa Cruz da Conceição                  18                                9                        27

Águas de São Pedro                          19                               11                       30

Analândia                                           24                               14                       38

Corumbataí                                        24                               16                       40

Mombuca                                           38                                23                      61

Fonte: Seade

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