Apenas em 2023 foram anunciados R$ 2,25 bilhões para a construção ou ampliação de centros voltados à busca de novas soluções tecnológicas
O maior investimento em pesquisa e desenvolvimento na região (R$ 1,8 bilhão) foi destinado ao CNPEM, que construirá um laboratório (maquete) voltado à investigação de vacinas e drogas para tratamento de doenças graves (Divulgação)
A Região Administrativa (RA) de Campinas concentrou apenas em 2023 o valor recorde de R$ 2,25 bilhões em investimentos para a instalação ou ampliação de centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D). O valor é mais do que o dobro do anunciado para todo o Estado de São Paulo nos quatro anos anteriores, de 2019 a 2022, quando o montante foi de R$ 1 bilhão. Os recursos anunciados por entidades públicas e pelo setor privado reforçam a região como um dos principais parques tecnológicos da América Latina, revela estudo divulgado pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), ligada ao Governo do Estado.
No acumulado de 2019 a 2023, os investimentos anunciados na RA de Campinas totalizaram R$ 2,6 bilhões, o que representou 74,29% do total de R$ 3,5 bilhões destinados ao Estado. O montante da região é 4,36 vezes maior do que os R$ 597 milhões reservados para a Região Metropolitana de São Paulo, que aparece em segundo lugar no ranking. A terceira posição ficou com a Região Central, com aportes de R$ 100 milhões, enquanto as demais regiões paulistas somaram R$ 202 milhões.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), considerou que os anúncios feitos no ano passado como "expressivos". "Além de transformar a realidade econômica de São Paulo, o investimento em pesquisa e desenvolvimento garante mais oportunidades e empregos de alta qualificação", afirmou ele.
DESTINOS
O maior investimento em pesquisa e desenvolvimento está sendo feito no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), instalado no Polo II de Alta Tecnologia de Campinas, e soma R$ 1,8 bilhão através do novo Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal. Desse valor, R$ 1 bilhão será aplicado na construção do primeiro laboratório de máxima contenção biológica (NB4) da América Latina e o único do mundo conectado a um complexo científico de fonte de luz síncrotron. Batizado de Orion, a nova unidade permitirá ao Brasil estudar e desenvolver tratamentos e vacinas para doenças graves e com alto grau de transmissibilidade das classes 3 e 4.
O Orion será construído com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). A área aonde o laboratório será construído já recebeu terraplanagem e está na fase de final de projeto e licenças. O início da construção será neste primeiro semestre, com conclusão prevista em 2026. "O meu sonho é que o Prêmio Nobel seja dado para alguém da nossa equipe", disse recentemente o diretorgeral do CNPEM, Antonio José Roque da Silva, ao receber a visita da ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, acompanhada por uma comitiva de deputados federais e senadores para conhecer mais detalhes do projeto.
Os outros R$ 800 milhões destinados ao Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais são para as obras da fase 2 do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, que prevê a construção de dez novas linhas de luz síncrotron. As quatro primeiras deverão ser entregues em dois anos. Essa ampliação será feita simultaneamente ao término da fase 1, com a implantação de mais duas linhas.
REFLEXOS NA ECONOMIA
O segundo maior investimento no Estado também é na RA de Campinas. São R$ 224 milhões destinados nos últimos quatro anos para o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) em Piracicaba, o maior núcleo de tecnologia de cana-de-açúcar do mundo. Desse valor, R$ 180 milhões foram anunciados no final de 2023 para investimentos em projetos de variedades transgênicas e de "sementes" criadas em laboratório, tecnologia que promete substituir o plantio por colmos (caules da cana), aumentando a produtividade e reduzindo custos.
Os recursos são da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), órgão vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). "As nossas tecnologias estão focadas no desenvolvimento de melhoramento genético, biotecnologia, solução de plantio do projeto sementes, entre outras técnicas disruptivas e sustentáveis para o setor sucroenergético", afirmou a diretora Financeira e de Relações com Investidores do CTC, Denise Francisco.
Esse segmento é estratégico para o Brasil. O país é hoje o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo. O volume que da safra 2022/2023 chegou a 610,1 mil toneladas, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O setor envolve 171,3 mil propriedades rurais e movimenta cerca de R$ 93 bilhões, com o Estado de São Paulo tendo uma participação de R$ 53,6 bilhões, de acordo com relatório do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O Centro de Tecnologia Canavieira em Piracicaba também foi contemplado com recursos para o desenvolvimento de pesquisas de interesse do setor sucroenergético (Divulgação)
Outros dois investimentos de portes anunciados na RA de Campinas são para a construção de novos centros de pesquisa de empresas que já têm fábricas na região. Uma indústria de máquinas e equipamentos agrícolas investirá R$ 180 milhões para a instalação em Indaiatuba do Centro Brasileiro de Desenvolvimento de Tecnologia, voltado à realização de estudos para agricultura tropical, considerando variáveis como solo, clima e conectividade.
A nova unidade, prevista para ser inaugurada no final deste ano, ocupará uma área de 500 mil metros quadrados e empregará 150 especialistas nas áreas de engenharia, pesquisa e desenvolvimento. A expectativa é reduzir em até 40% o tempo de desenvolvimento de novas soluções, acelerando a entrega de produtos ao mercado brasileiro. "O Brasil é um país de dimensões continentais e com uma agricultura diversificada, que exige soluções adaptadas às condições locais", disse o presidente no Brasil da multinacional norte-americana, Antonio Carrere.
OUTROS INVESTIMENTOS
Uma fabricante de fertilizantes foliares está fazendo um aporte de R$ 90 milhões na unidade em Sumaré para ampliar a área de P&D visando à criação de novos produtos de alta tecnologia. O investimento gerou 50 novos postos de trabalho. "Estamos desenvolvendo pesquisas para o lançamento de novas soluções nutricionais até 2025, que chegarão para complementar o nosso portfólio e apoiar o agricultor brasileiro a produzir mais com menor impacto ambiental, alinhado às premissas da agricultura regenerativa", afirmou o presidente da multinacional norueguesa no Brasil, Marcelo Altieri.
"A evolução da agricultura depende diretamente do investimento em pesquisa. Apenas por meio da ciência conseguiremos impactar o ecossistema de forma positiva", completou o executivo. O estudo da Seade destacou ainda investimento de R$ 23 milhões de uma petrolífera francesa na parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) para desenvolver seis projetos voltados para o aprimoramento de tecnologias digitais, incluindo o uso de inteligência artificial, aplicadas à energia solar fotovoltaica e armazenamento de energia em baterias.
Além da Unicamp, a empresa destinou R$ 80 milhões para trabalhos em conjunto com a Universidade de São Paulo (USP) e outros R$ 31 milhões para a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), totalizando R$ 134 milhões. As iniciativas buscarão soluções de geração de energia combinando fontes renováveis com sistemas convencionais, bem como o potencial eólico offshore (altomar) da costa brasileira.
"O Brasil é um país-chave para a empresa. Focamos em projetos que estejam alinhados com a nossa estratégia de reduzir custos e emissões em ativos de óleo e gás e fomentar projetos em energias renováveis", afirmou o diretor-geral da petrolífera no país, Charles Fernandes. A empresa francesa investe cerca de US$ 1 bilhão (R$ 4,91 bilhões) por ano em pesquisa, desenvolvimento e inovação em todo o mundo.
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