Reforma da caravela navega em calmaria no Parque Taquaral

Três meses após o início da quinta reforma da réplica da caravela Anunciação, na Lagoa do Taquaral, em Campinas, a estrutura de madeira continua praticamente a mesma. A equipe de reportagem do Correio entrou nesta terça-feira (20) no estaleiro improvisado onde a caravela está desde que foi retirada da água, que está cercado por tapumes, e no interior da embarcação. No local, três homens trabalhavam no corte das madeiras. Uma carpintaria com diversas máquinas foi montada para a realização do trabalho, que deve ser concluído apenas em 2015.Do lado de fora, muitos visitantes da lagoa observam com descrédito a nova reforma e desconfiam se será mesmo concluída. O secretário de Serviços Públicos de Campinas, Ernesto Paulella, visitou a Lagoa na manhã desta segunda e garantiu que, dessa vez, a nau será entregue. Apesar das muitas tentativas de reforma desde 2008, é a primeira intervenção realizada na caravela pela atual Administração.A situação em que está a caravela indica que os carpinteiros terão muito trabalho pela frente. As madeiras estão podres e até mesmo as que foram trocadas há poucos anos terão de ser substituídas. “Estava muito deteriorada, porque ela ficou dentro da água muitos anos sem manutenção e a água apodreceu todo o sistema. A reforma iniciada em anos anteriores usou também madeira inadequada, que já está totalmente podre. É praticamente uma reforma completa”, afirmou o secretário.Vista pelo lado de fora, a parte da frente da embarcação está aparentemente inteira, mas o real estado de conservação do madeiramento que foi trocado há pouco mais de três anos está escondido pela pintura. A má qualidade da madeira utilizada é evidente. Do lado de dentro, é possível ver as toras apodrecidas. Os compartimentos internos estão muito deteriorados. O assoalho do convés se soltou e uma lona cobre parte da nau.Diferentemente de outras reformas, apenas cinco pessoas realizam o trabalho no local diariamente. Em uma obra realizada há três anos, 30 homens foram designados para a troca das madeiras. Mas, segundo o secretário de Serviços Públicos, a recuperação que está sendo feita é artesanal, por isso, o número reduzido de carpinteiros. “A caravela está numa fase inicial de reforma, que está concentrada na espinha dorsal, que é o que a gente chama de caverna, a parte estruturante da caravela. Nós estamos trocando todo o madeiramento. Essa é a parte mais difícil porque é totalmente artesanal. Não são peças iguais, cada uma tem um tamanho e um formato. Cada peça é desenhada, cortada e recolocada, uma a uma. Por isso o trabalho é lento.”As opiniões entre os frequentadores da Lagoa do Taquaral se dividem. Enquanto alguns não veem a hora de rever a caravela reformada, outros acreditam que, mais uma vez, o projeto irá por água abaixo. “Esperança a gente sempre tem, quem sabe? Eu até ouvi algum barulho aí dentro (na área onde está a caravela), mas não tem progresso. Acho que colocam uma madeira por dia”, disse o aposentado Edgard Osmar de Carvalho, de 76 anos.“Vai continuar parada por muito tempo, mas eu acredito que agora vai”, declarou Dirceu Demonte, de 76 anos. O amigo de caminhada do frequentador, Antonio Carlos Palmieri, de 78, discordou. “Já perdeu muito dinheiro aí. Acho que não sai nunca mais.”Em outros tempos, Cleusa Ribeiro, de 58 anos, levou muitos turistas para a Lagoa do Taquaral, que tinham a caravela como parada obrigatória para fotos. Hoje, agente de turismo aposentada, ela ironizou o estado em que se encontra a embarcação que já foi símbolo do parque. “Está linda do jeito que está. Olha isso, horrível. Melhor seria tacar fogo e acabar com ela. Está uma coisa horrorosa. Isso é péssimo para nós, que estamos aqui todos os dias. Imagine para os turistas. Um horror”, criticou. Em 2015Se até hoje as promessas de entregar a caravela nunca foram cumpridas, Paulella garante que agora a população verá o monumento reaberto. “Temos esse compromisso. Em respeito à cultura que a cidade desenvolveu. A caravela faz parte de uma geração, por isso, a nossa decisão foi de reformar. O custo dessas obras corresponde a um terço do valor para fazer uma nova. Se optássemos por construir uma outra caravela, seriam gastos cerca de R$ 3 milhões.”A estimativa é de que as obras sejam concluídas em dois anos. Os trabalhos são acompanhados por um arquiteto e um museólogo do Rio de Janeiro que já trabalhou na Marinha. A ideia é criar um museu naval para contar a história da caravela e de boa parte da navegação. A embarcação será encaixada em um deque de madeira construído em seu entorno. Parte dele ficará suspenso na água. O espaço deverá ter 60 metros de extensão por dez metros de largura e abrigar um café, com cadeiras e mesas.Além disso, a caravela será coberta por uma estrutura de 45 metros de altura. O tipo de cobertura ainda está sendo estudado pela Secretaria. Quando o projeto da caravela estiver concluído, adiantou Paulella, o plano é criar o Complexo Taquaral. Ele planeja uma passarela de pedestres ligando o Parque Portugal e o Lago do Café. “É um projeto que está em fase inicial de desenvolvimento e que pretende integrar esses dois parques, criando um complexo de lazer.”