crueldade

Reencontro põe fim a cativeiro de idosa

Uma mulher de 63 anos foi resgatada anteontem, pela Polícia Civil de Vinhedo, após passar cerca de 20 anos em cárcere privado. Um casal foi preso

Alenita Ramirez
26/06/2019 às 07:52.
Atualizado em 30/03/2022 às 23:47

Uma mulher de 63 anos foi resgatada anteontem, pela Polícia Civil de Vinhedo, após passar cerca de 20 anos em cárcere privado. Um casal foi preso. Iva da Silva de Souza estava sem contato com a família há cerca de 40 anos e era mantida em condições de escravidão, cuidando de uma idosa de 88 anos, no porão de uma casa alugada, no bairro João 23. Ela trabalhava sem salário, sem assistência médica e odontológica e não podia sair do interior do imóvel. Ontem à noite houve o reencontro da família com a vítima. O casal acusado foi enviado à cadeias regionais. A polícia descobriu Iva durante uma investigação sobre estelionato. Em maio passado, uma comerciante recebeu um cheque de R$ 3,9 mil de uma mulher de nome Iva e como estava sem fundo, a comerciante registrou Boletim de Ocorrência (BO). Com base na denúncia, há duas semanas, os investigadores começaram a levantar o caso e descobriram o endereço de Iva. “Não fomos atendidos e insistimos até que apareceu a mulher de 63 anos. Ela se apresentou como Iva e mandamos a foto dela para a vítima do estelionato, que não a reconheceu como a mulher que passou o cheque. Deixamos uma intimação para dona Iva ir na delegacia prestar depoimentos”, contou um investigador, cujo nome foi preservado. Segundo o investigador, após algumas horas, Marina Okido, de 65 anos, ligou na delegacia dizendo que Iva não poderia ir ao local. Marina é filha da idosa de 88 anos. “Achamos estranho a ligação. Quando falamos com dona Iva pela manhã, ela se mostrou desorientada e nos pediu ajuda, dizendo que tínhamos que conhecer a verdade. Então passamos a pesquisar e achamos um BO de desaparecimento, de 1996, com nome semelhante ao dela”, contou o policial. Os policiais voltaram na casa de Iva e encontraram Marina e o companheiro, o representante comercial Ecio Pilli Júnior, de 47 anos. Eles descobriram que Marina foi quem passou o cheque no comércio e ela estava com os documentos de Iva havia, pelo menos, dois anos. “Iva nos contou que era obrigada a não atender ninguém, não podia sair na rua, não tinha salário e era agredida”, contou o investigador. “Marina disse que Iva estava na casa por sua livre vontade e negou as agressões”, acrescentou o policial. O casal foi levado para a delegacia. A idosa, que é mãe de Marina e cadeirante, estava muito debilitada e foi socorrida e levada pelo resgate do Corpo de Bombeiros a Santa Casa, onde ficou internada. Iva também foi atendida por uma assistente social da Prefeitura e levada a um abrigo. “Iva estava muito abalada. Disse que nunca fugiu porque tinha medo. Ela não tinha vida social, foi privada de tudo e nem sabia onde ficava Vinhedo”, disse o policial. Segundo os investigadores, Marina havia aberto uma conta-corrente em nome de Iva, com a justificativa de que depositaria o salário, no entanto, passou a usar cheques para dar golpes em comércios. O casal foi preso pelos crimes de sequestro e cárcere privado, além de estelionato. Apesar de alegar para a polícia que morava com a mãe, não havia roupas de Marina na casa, que é de dois cômodos e muito humilde. Mãe de Iva nunca perdeu as esperanças Iva da Silva de Souza é natural de Colorado (PR) e teria saído de casa aos 16 anos para ajudar a família, que morava na roça. Na época, o pai de Marina, contratou a jovem para trabalhar como doméstica na casa deles, em São Paulo. Segundo Luis Lino, cunhado, Iva seria a mais velha de dez irmãos. A esposa dele, Odete da Silva Souza, tinha 10 anos quando Iva saiu de casa. “Ela teria se comunicado por uns cinco anos, mas depois perdeu-se o contato. Os irmãos procuraram e gastaram o que tinham atrás dela, mas não se tinha notícia”, contou Lino, que mora em Araraquara, há 30 anos. Segundo a polícia, Marina era de família rica, mas acabou perdendo tudo. Enquanto o pai dela era vivo, Iva recebia seu salário, mas após a morte do patriarca, há uns 18 anos, a vítima passou a ter vida de escrava. A mãe de Iva mora em Colorado e atualmente está com cerca de 88 anos. Segundo Lino, a sogra nunca perdeu a esperança de encontrar a filha. O reencontro ocorreu ontem com Odete saiu de Araraquara. SAIBA MAIS Iva e a idosa de 88 anos viviam no porão de uma casa na Rua Espirito Santo há, pelo menos, quatro meses. As duas nunca foram vistas pela vizinhança. Os moradores só souberam da existência delas anteontem, quando a Polícia Civil chegou no local. Ontem pela manhã, os moradores mais antigos ainda estavam indignados e surpresos com a história. “Estou muito surpresa. Chocada. Olha que é do lado da minha casa. Eu não vi quando essas mulheres mudaram para cá e nem ouvia nada”, disse a aposentada Maria dos Santos, de 83 anos, que mora no local desde 1976.

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