Agente mostra como o Sistema de Polícia Judiciária (SPJ), com a tecnologia IA, cruza diferentes bancos de dados para chegar, com exatidão, aos suspeitos (Kamá Ribeiro)
A Polícia Civil do Estado de São Paulo adotou uma nova tecnologia no início do mês que irá descartar o reconhecimento em álbuns de fotografia de suspeitos de crimes, como era feito até o momento. Por meio de Inteligência Artificial (IA), a plataforma Sistema de Polícia Judiciária (SPJ) cruza diferentes bancos de dados para chegar, com exatidão, aos acusados. Além da precisão, o sistema garante agilidade nas investigações e deve dar celeridade aos inquéritos instaurados.
O investimento na nova tecnologia foi de R$ 60 milhões e já se encontra em funcionamento em Campinas. De acordo com o delegado titular do Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo Interior 2 (Deinter 2), José Henrique Ventura, a implantação do SPJ trará uma mudança radical na atuação das polícias.
“Ela garantirá a agilidade entre o registro da ocorrência e o início da investigação”, ressalta o delegado. “Porque isso (investigação) seria feito em uma segunda etapa, depois de passar por investigação da unidade onde foi registrado o BO. Com a integração dos dados, ela pode começar no mesmo momento”, comemora.
O processo começa com a unificação dos boletins de ocorrência da Polícia Civil e Militar, também recém-implementado no Estado. A partir dessa unificação, a Polícia Militar, ao atender uma ocorrência, poderá determinar se o registro é aberto ou fechado. Se for aberto, as partes não precisarão ir até a delegacia e, pelo próprio sistema SPJ, as informações que o policial militar registrar no local da ocorrência vão direto para a Polícia Civil.
No caso do BO ser fechado, nomenclatura usada para distinguir crimes graves e que precisam que as partes se apresentem à delegacia no ato, as informações da PM também constarão para a Polícia Civil e esta terá a oportunidade de iniciar a investigação instantaneamente.
“Como funcionava: depois do registro do BO, ele era encaminhado ao Distrito Policial, encaminhado para a investigação e, então, o policial entrava nos sistemas e passava a buscar os suspeitos. Agora não. Por exemplo: em um caso de roubo, as vítimas têm a oportunidade de visualizar os suspeitos no momento do registro da ocorrência.”
Isso tornou-se possível devido à Inteligência Artificial aplicada no SPJ. O sistema cruza dados civis, criminais e da Receita Federal, a partir de um vasto banco de dados.
Com as características dos suspeitos, não será mais o policial quem buscará em álbuns de fotografia os possíveis autores do crime, mas o próprio sistema. Ele apresentará os suspeitos de acordo com as características fornecidas pelas vítimas.
O sistema ainda trará, junto aos dados pessoais, todos os antecedentes criminais e quais eram os parceiros ou parceiras que o suspeito tinha em outros delitos cometidos.
Até a implementação do SPJ, todo esse processo somente era iniciado a partir da identificação pelos álbuns de fotografia. A metodologia era duramente criticada por entidades ligadas aos direitos humanos, devido a falhas que acabavam indiciando inocentes, mesmo com o posterior reconhecimento presencial. O objetivo é o de que o novo sistema também reduza esse tipo de situação, que coloca inocentes na prisão.
No início da semana passada, o delegado contou que o sistema foi testado e utilizado na resolução de um crime ocorrido no município de Atibaia.
Na segunda-feira passada (4), uma professora aposentada, de 62 anos, foi vítima de latrocínio em sua casa, no bairro Jardim Siriema. Os assaltantes invadiram a residência e, armados, desferiram um disparo contra a porta. O projétil atravessou o móvel e atingiu a idosa, que morreu no local.
Segundo o delegado, o sistema rastreou os dados e, no mesmo dia, os suspeitos foram identificados, inclusive pela família. “Ou seja: em um dia, nós praticamente esclarecemos um roubo de muita repercussão. E é isso que é importante”, pontua.
Com 26 mil inquéritos policiais só na região do Deinter 2, a expectativa é a de que o novo sistema garanta a resolução célere dos crimes.