Entretanto, alguns resistem à ideia por considerar que o ‘barato pode sair caro’
Para escapar do pedágio de Indaiatuba, na Rodovia Santos Dumont, o mais caro da região, os motoristas trafegam por uma estrada vicinal em meio a carroças e bicicletas (Kamá Ribeiro)
Usuários da malha rodoviária do Estado de São Paulo foram surpreendidos com o anúncio do reajuste de até 11,8% nas praças de pedágio, que passou a valer a partir desta sexta-feira (16) e virou preocupação para muitos motoristas. Para compensar os gastos típicos do período de festas e início de ano, as chamadas rotas de fuga - acessos laterais às rodovias com localização próxima às praças de pedágio -, utilizada por alguns usuários, passa a ser uma alternativa interessante para reduzir os custos com o transporte. O reajuste foi anunciado na última quarta-feira pelo governador do Estado de São Paulo, Rodrigo Garcia, contrariando a promessa feita por ele mesmo em junho de que não aumentaria as tarifas esse ano.
De acordo com o professor titular e coordenador do Laboratório de Aprendizagem em Logística e Transportes, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Orlando Fontes de Lima Junior, o aumento de pedágio tem um impacto bem conhecido. "Além de aumentar o custo individual do usuário, cria uma pressão inflacionária, normalmente repassada aos produtos transportados". Para ele, o valor a mais gera um transtorno imediato aos motoristas, "sejam eles ocasionais ou os que passem por praças de pedágios diariamente, mas, com a pressão inflacionária que atinge outras áreas na sequência, a questão logo é absorvida".
Quando perguntado pela equipe do Correio Popular sobre o risco das rotas de fuga serem mais utilizadas em um primeiro momento, o professor esclarece que a região tem bom monitoramento pelas concessionárias de rodovias locais. "As concessionárias monitoram esse tipo de situação e criam barreiras ou restrições sempre que possível, no intuito de impedir o uso". Ele também diz que "principalmente na região metropolitana de Campinas as rotas envolvem um tráfego maior de carros e congestionamentos que dificultam o uso. Não trazem significativa economia que justifique a troca", pondera.
Por outro lado, a alternativa a uma rota pedagiada por outra não pedagiada pode compensar em trajetos de longas distâncias dentro do Estado. "Isso já é bem consolidado e estes reajustes afetam pouco (nesses casos), já que a rota foi traçada com esse objetivo e pensada com antecedência em função do valor já vigente".
O professor ponderou que o aumento de preço das tarifas se justifica quando revertido em benefícios aos usuários. "Nesse aspecto, temos na nossa região rodovias como as de primeiro mundo. Temos, como exemplo, o Grupo CCR (companhia responsável pelas concessionárias AutoBAn, das rodovias Anhanguera e Bandeirantes), que tem cuidados de padrão internacional de qualidade", finaliza Lima Junior.
Para o engenheiro civil José Luiz Rodrigues Molina a notícia do reajuste caiu como uma bomba. "Eu quase caí para trás quando soube. Por menor que seja o aumento, no momento atual da nossa economia, somado com os gastos de fim e início de anos, geram um impacto gigante". Morador de Campinas, ele costuma viajar quase que diariamente pelo Estado. "Quando não circulo por outras cidades estou em Indaiatuba, onde temos um dos pedágios mais caros da nossa região. São mais de trinta reais por dia, isso pesa no fim do mês e não é pouco não", afirma.
Para ele, as rotas de fuga costumam ser caminhos rotineiros. "Só utilizo o pedágio para Indaiatuba quando estou com horários mais apertados. Havendo uma certa folga, vou via Monte Mor. São dez quilômetros a mais. Agiliza no bolso, mas pesa no tempo", conta.
Atuante na logística de carga de alimentos perecíveis, o caminhoneiro Gilson Miranda, de Descalvado, a 150 quilômetros de Campinas, utiliza rotas alternativas raras vezes, mas diz repensar momentaneamente. O motorista teme que o reajuste dos pedágios comprometa o seu orçamento a longo prazo. Com gastos mensais em torno de R$ 3 mil apenas com pedágios, assim que soube do último aumento afirmou que será forçado a repassar o valor a mais. "O combustível diminuiu e o frete também, mas agora o pedágio fica mais caro e logo ali na frente, daqui uma semana, os alimentos também ficam mais caros. Tudo isso em uma semana antes do período de fim de ano. Não tenho como não aumentar o meu serviço, preciso acompanhar ou eu não vou comer. Vou precisar, sim, ter minhas alternativas, mesmo que por um tempo", exclama.
Não compensa
Embora com cerca de 4% da renda familiar comprometida diretamente com custos de deslocamentos para trabalhar, o professor universitário federal M.L. afirma não usar rotas de fuga. Morador de Jaguariúna, é usuário diário das praças de pedágio na rodovia Adhemar de Barros, a Campinas-Mogi-Mirim; as de Itatiba e Atibaia, na D. Pedro I; e as do sistema Bandeirantes, da AutoBAn. Para ele, o valor com gastos de deslocamentos vem crescendo cada vez mais e o fato é agravado por não ter tido ajuste salarial desde 2012. "Esses gastos estão cada vez maiores e são decisivos para muitos planos da família", afirma.
Quando perguntado se o uso por rotas de fuga pode ser uma alternativa em uma viagem, por exemplo, M.L. é categórico em negar: "Não usamos rota de fuga. No nosso caso, pensando no cotidiano, o desvio seria muito grande e/ou incluiria trechos de estrada de terra. A emenda sairia pior do que o soneto", brinca.
Amarílio Lipporini, pequeno produtor rural de Andradas (MG), que tem gastos médios de pouco mais de R$ 100 por viagem, apenas com pedágios, prefere não utilizar as rotas alternativas. "Já fiz muito isso, mas o crime não compensa. Para quem tem caminhão, as estradas não oficiais são muito ruins em sua maioria, corro o risco de ter problemas mecânicos, de suspensão, de ser assaltado e ter a carga levada e o que era pra fugir de dez ou vinte reais, vira mil em estragos", conta.
Para ele, que produz bananas e vem à Campinas três vezes por semana para fazer entregas, o problema fica no lucro que sai prejudicado. "Ainda mais nesse período de entressafra, que o ganho já é menor, vivo um dia de cada vez. Em um determinando período do ano ganho mais e em outros (períodos) menos, os gastos já são contabilizados aí. Mas, claro, cada gasto que entra a mais de uma hora para a outra pesa muito", finaliza.