Com 0,9 homicídio a cada 100 mil habitantes, Valinhos ficou na primeira posição do ranking; Indaiatuba também foi listada entre as dez com melhor índice
Com uma população de 126.373 habitantes, Valinhos registrou apenas um homicídio em 2023, o menor número dos últimos dez anos, de acordo com estatística da Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP); Guarda Municipal da cidade possui esquema tecnológico, inclusive com o auxílio de um drone, para combater a criminalidade (Kamá Ribeiro)
A Região Metropolitana de Campinas tem seis municípios entre os 21 com a menor taxa de homicídios do país, com Valinhos ocupando a liderança nacional, de acordo com o ranking 2024 realizada pela MySide, empresa especializada em tecnologia e serviços no setor imobiliário. O estudo foi feito com base na média de assassinatos a cada 100 mil habitantes, a partir de dados de 2023 disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Ministério da Saúde, com a estatística seguindo a metodologia da Organização Mundial de Saúde (OMS). De acordo com o levantamento, Valinhos apresentou o indicador 0,9, o mais baixo do país, o que significa menos de uma morte a cada 100 mil habitantes.
Também aparecem no ranking os municípios de Indaiatuba, na 7ª posição, Santa Bárbara d'Oeste (16ª), Americana (18ª), Paulínia (19ª) e Itatiba (21ª). O estudo considerou apenas as cidades com mais de 100 mil habitantes, deixando de fora da análise 11 dos 20 municípios da RMC, uma vez que possuem populações inferiores a esse número. No recorte das cidades com mais de 1 milhão de moradores, Campinas apareceu em 4º lugar no Brasil. Com uma média de 14,6 homicídios por 100 mil habitantes, a cidade não entrou no ranking geral das 30 com menor índice. A última colocação do Top 30 foi de Leme (SP), com o índice de 7,0 assassinatos a cada 100 mil habitantes.
Entre as metrópoles, Guarulhos apareceu em primeiro, com taxa de 8,1, à frente de São Paulo (11,8) e Brasília (14,3). “Esse indicador é amplamente reconhecido como uma medida sólida e universal de segurança pública. A utilização permite ajustar os números absolutos de homicídios pelo tamanho da população, facilitando análises comparativas e a formulação de políticas públicas eficazes”, explicou o coordenador técnico da pesquisa, Douglas Resmini Balena.
Para calcular o índice, foram analisados os dados de todos os 1,5 milhão de óbitos ocorridos em 2023 no Brasil, com base no Painel de Monitoramento da Mortalidade da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA), do Ministério da Saúde. A média de homicídio por 100 mil habitantes é utilizada por organizações internacionais, como a OMS e o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), em seus relatórios, considerando-a fundamental para comparações regionais e temporais.
REPERCUSSÃO
Valinhos, com uma população de 126.373 habitantes, registrou apenas um homicídio em 2023, o menor número dos últimos dez anos, de acordo com estatística da Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP). A vítima foi o motorista Ronaldo Pedro de Araújo, 59 anos, morto a tiros em 6 de outubro. Segundo testemunhas, ele estava em um ponto esperando ônibus para retornar para casa após o trabalho, quando um carro parou e dois homens saíram atirando na vítima. Eles fugiram após a execução sem levar nada.
Segundo a SSP, o único homicídio na cidade em 2024, até agora, foi em 18 de agosto. Edson Alexandre da Silva foi assassinado com um tiro de espingarda dado por Sérgio Pereira da Silva. Os dois eram amigos e estavam bebendo em uma propriedade rural, no Bairro dos Lopes, quando, à noite, ocorreu o homicídio. O acusado fugiu, mas foi preso alguns dias depois.
Apesar da posição no ranking, a população tem críticas quanto à segurança ao considerar outros crimes. “Em relação a outras cidades, Valinhos pode até estar melhor, mas já foi uma cidade boa. Agora, há insegurança”, opinou a engenheira agrônoma Maria Cecília Bampa, valinhense de nascimento. Ela já teve a casa e um carro furtados, tendo hoje seguro desses bens e alarme residencial. “Eu deixei o carro estacionado na Avenida 11 de Agosto, que é bem movimentada, para ir ao supermercado. Quando voltei, não o encontrei mais”, explicou Maria Cecília.
O professor José Armando Valdevino, que reside em Valinhos há 50 anos, afirmou que a situação da cidade hoje é diferente do passado e não a considera segura. “Isso é resultado de leis muito brandas. Os ladrões roubam e logo depois já estão na rua. Também é preciso mais empenho das autoridades de segurança”, criticou. Para ele, um dos meios para garantir a segurança é coibir todos os tipos de crime, inclusive os furtos mais simples, “mas ninguém vai atrás”.
A dona de casa Laurinda Luiz Camargo, que se mudou para a cidade há 20 anos, disse não se sentir segura para sair à noite ou sozinha. “Até a pandemia (de covid-19), em 2020, era mais tranquilo, mas agora mudou. Nem os meus sobrinhos sentem segurança para sair durante a noite”, afirmou. Ela nunca foi vítima de uma ocorrência, mas uma irmã já teve itens do carro furtados.
OUTROS CASOS
As estatísticas da Secretaria Estadual de Segurança Pública apontam a ocorrência de 141 furtos ou roubos de veículos na cidade de janeiro a julho deste ano, ou seja, média de um a cada 1,5 dia. Além disso, nos primeiros sete meses do ano, foram 576 furtos ou roubos e 24 estupros, 20 de vulnerável. Para a Polícia Militar, os registros de todas as ocorrências são importantes para o mapeamento dos pontos com mais casos e definição das ações de patrulhamento preventivo.
Segundo o ranking, o Sudeste, onde está São Paulo, é a segunda região com a menor taxa de homicídios do país, média de 19 crimes a cada grupo de 100 mil habitantes. Das 15 cidades dessa região com os indicadores mais baixos, 14 são paulistas. A exceção é a cidade mineira de Araxá, na oitava posição, com taxa de 2,6. A região Sul tem a menor média, 17,8. O Nordeste foi apontado com o índice mais alto do país, 39,2.
Uma das sete cidades com a menor proporção do país, Indaiatuba ficou em primeiro lugar entre os municípios com população de 200 mil a 500 mil pessoas. A segunda colocação ficou com Blumenau-SC (4,0). Na sequência foram ranqueadas as cidades de Araraquara (5,1), Americana (5,3) e Palhoça-SC (5,9).
São Paulo aparece em segundo lugar entre os Estados com o menor indicador, com 10,5, atrás apenas de Santa Catarina, que registrou a média de 9,2 assassinatos a cada 100 mil habitantes. Em terceiro lugar está o Distrito Federal (14,3); em quarto, o Rio Grande do Sul (18,2); e em quinto, Minas Gerais (19,9). Para o coordenador de Análise Criminal e Pesquisa (CAP) da SSP, major Rodrigo Vilardi, o resultado de São Paulo é reflexo da ação estratégica adotada nas últimas décadas.
“O cenário que tínhamos na época da virada do milênio era de conflitos constantes. O homicídio era até algo banal, de tantos casos que aconteciam. Para ter os números que temos hoje, houve um processo de reestruturação. Separamos as companhias por distritos policiais, integramos as polícias Civil e Militar e deixamos cada equipe responsável por determinadas áreas”, detalhou. Ele destacou, ainda, as ações de desburocratização dos processos internos da polícia, permitindo ao efetivo da PM passar mais tempo fazendo rondas preventivas, e a ampliação das investigações pela Polícia Civil. “Nós vamos permanecer analisando esses dados para identificarmos e trabalharmos conjuntamente justamente onde vemos o problema”, afirmou.