O rendimento médio entre os trabalhadores formais foi de R$ 4.577,00
De acordo com o estudo, o setor de serviços, que inclui a área de alimentação, é o principal empregador, com uma participação de 46% (Rodrigo Zanotto)
A Região Administrativa (RA) de Campinas registra salário médio de R$ 4.577,00 entre os trabalhadores formais, o maior do interior paulista. A constatação é de estudo divulgado pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), com base nos dados de dezembro de 2023 da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério do Trabalho e Emprego. No Estado, o valor é inferior apenas a média de R$ 5.857 constatada entre os funcionários com carteira assinada na cidade de São Paulo. A remuneração na Região Administrativa é 47,74% maior em comparação aos R$ 3.098 pagos na RA de Itapeva, que tem o menor salário médio.
O estudo foi realizado com base nos vencimentos das 2,29 milhões de pessoas com emprego formal na área de Campinas, o equivalente a 16,27% dos 14,08 milhões no Estado. Ou seja, a RA é praticamente responsável por um em cada seis celetistas do Estado. Para a economista Eliane Navarro Rosandiski, professora da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas, a média regional é influenciada por seu perfil econômico, predominando pelos setores de serviços e indústria. “Você tem uma complexidade tanto de serviços quanto industrial aqui que coloca a região num polo dinâmico bastante importante. Isso resulta em uma massa salarial mais elevada”, afirmou ela.
De acordo com o estudo, o setor de serviços é o principal empregador, com uma participação de 46% na RA de Campinas, com a indústria aparecendo em seguida, com 27%. A região está em segundo lugar no Estado em postos de trabalhos gerados pelo setor industrial, empatado com as Regiões Administrativa de Sorocaba e Central. A primeira colocação é ocupado por Franca, com 28%. “Quando a gente olha os dados médios da remuneração da indústria, ela ainda é maior do que a do comércio e dos serviços”, explicou Eliane Rosandiski.
OUTRAS ÁREAS
O salário médio pago nesse segmento na RA de Campinas ficou em R$ 5.251, maior do que a média verificada no Estado, de R$ 5.148. Segundo dados da Seade, a região fechou 2024 com 687.435 trabalhadores atuando no setor industrial. É como se a soma de toda a população de três cidades da região – Indaiatuba, Hortolândia e Santa Bárbara d´Oeste – fosse empregada pela indústria.
O setor de serviços tem uma média salarial de R$ 4.754, colocando Campinas com o segundo maior salário do segmento no Estado. A busca de uma melhor remuneração atraiu o maranhense Flávio Silva, que há 17 anos deixou o trabalho na agricultura na região de São Luís e migrou para a região em busca por nova colocação. “O salário está bom. Lá não conseguiria ganhar a mesma coisa”, afirmou ele, que hoje trabalha como garçom em uma churrascaria e vai para a terra natal apenas nas férias para visitar os parentes.
A média salarial mais elevada acaba pesando nas contas das empresas. “Esse custo acaba tornando a alimentação mais cara”, disse o empresário Raimundo Paula Sampaio, sócio-proprietário de uma rede de cinco churrascarias, com unidades também em outras regiões do Estado. No seu caso, a mão de obra chega a representar 35% dos custos da filial do bairro da Ponte Preta, onde trabalham 25 funcionários. A folha de pagamento é a segunda maior despesa da empresa, atrás apenas da carne.
De acordo com ele, os salários pagos em Campinas são em torno de 10% mais altos em comparação com os de São José do Rio Preto e Goiás, onde também já atuou. “Aqui é mais alto até porque os funcionários também têm gastos maiores”, explicou Raimundo Sampaio.
PODER DE COMPRA
A churrascaria se enquadra no setor de serviços, que emprega 952.691 trabalhadores na RA de Campinas, quase a metade do total com carteira assinada. “O salário maior não necessariamente se reflete em poder de compra, o quanto de mercadoria se coloca dentro do carrinho com esse salário. Aqui em Campinas, em especial, a gente sabe que tem um custo de vida muito alto, em especial pelos serviços, como aluguel, e alimentos”, explicou Eliane Rosandiski.
Um indicador dessa realidade é o preço da cesta básica. Em março, ela custou R$ 801,04 na cidade, de acordo com levantamento mensal feita pelo Observatório da PUC. O valor foi o quarto maior em relação as 17 capitais brasileiras pesquisadas pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Ele foi 9,05% mais baixo em relação aos R$ 880,72 da cesta mais cara, encontrada em São Paulo, mas 40,66% acima da mais em conta, que ficou em R$ 569,48 na capital sergipana, Aracaju.
Adão Adir da Silva deixou o interior do Rio Grande do Sul e se mudou para o interior paulista em busca de melhorar os ganhos. Após passar por várias cidades, chegou em Campinas há 22 anos. Ele começou a trabalhar como garçom, fez carreira e hoje é gerente de restaurante. “O salário aqui é melhor”, afirma o gaúcho. Porém, pensaria melhor se fosse para se mudar gora. “Hoje não sei se compensa”, disse Adão Adir. Para ele, o custo de vida em Campinas é muito alto.
COMÉRCIO
O terceiro setor que mais emprega na Região Administrativa é o comércio, com uma participação de 19% do total. Esse segmento tem um salário médio de R$ 3.579, aponta a pesquisa da Seade. Ele não chega a ter um peso tão grande nos custos de Helder Fabrício, dono de uma loja na Rua 13 de Maio, a principal do comércio de Campinas, mas é onde ele consegue fazer cortes em busca do equilíbrio financeiro. Ele chegou a ter oito funcionários, mas hoje conta com apenas dois, representando em torno de 4% de suas despesas. “Os maiores gastos hoje são com aluguel, impostos e outros custos operacionais. Mas também não adianta contratar mais porque não tem fluxo, demanda”, afirmou o microempresário.
O estudante de análise de sistema Richard Camargo de Almeida trabalha como auxiliar de loja, mas pretende trocar de emprego após o final do ano, quando se forma, em busca de um salário maior. “Trabalho para dar uma ajuda para ela”, explicou o rapaz de 21 anos, que mora com a mãe e dois irmãos menores de idade. Para o auxiliar, com a remuneração atual “dá para fazer o básico”.
De acordo com a pesquisa da Seade, a construção civil tem uma participação de 4% na oferta de empregos na RA, enquanto a agropecuária, 3%. Na construção, o valor médio é de R$ 3.862, contra a média estadual de R$ 3.664. No agro, são R$ 3.054, próximo a média paulista, R$ 3.029. Para a professora da PUC Campinas, isso é explicado pela oferta e procura. “Quando você tem maior demanda por mão de obra, favorece um salário melhor”, disse. Segundo o estudo realizado, há uma elevada concentração de empregos formais na capital, no seu entorno e na RA de Campinas.
O perfil da distribuição dos empregos na região difere da média estadual. O maior empregador no Estado também é o setor de serviços, representando 57% do total. Na RA de Santos, esse segmento se destaca, com uma participação de 70%. No ranking estadual, a segunda colocação é do comércio, com 19%. A indústria aparece em seguida (17%), vindo depois a construção civil (5%) e a agropecuária (2%).
De acordo com a Seade, a liderança de São Paulo nos salários médios foi puxada pela administração pública, com média de R$ 14.206, e atividades de prestação de serviços de informação, R$ 13.605. Os maiores salários em Santos são explicados pela extração e refino de petróleo, com salário médio era de R$ 47 mil, seguido pela fabricação de coque e derivadores de petróleo e biocombustíveis, R$ 30 mil.
Siga o perfil do Correio Popular no Instagram.