REGIÃO ADMINISTRATIVA

RA de Campinas responde por 13% das empresas abertas no Estado de São Paulo

Em média, foram registrados 7,7 novos cadastros por hora nos últimos 12 meses, acumulando 67.873 unidades

Edimarcio A. Monteiro/[email protected]
28/05/2025 às 12:58.
Atualizado em 28/05/2025 às 14:16
Depois de trabalhar em um bar por 36 anos, Fábio Guilherme Jorge inaugurou seu próprio estabelecimento há dois meses, no Taquaral: "Agora cuido do meu bar, antes cuidava do estabelecimento dos outros" (Alessandro Torres)

Depois de trabalhar em um bar por 36 anos, Fábio Guilherme Jorge inaugurou seu próprio estabelecimento há dois meses, no Taquaral: "Agora cuido do meu bar, antes cuidava do estabelecimento dos outros" (Alessandro Torres)

A Região Administrativa (RA) de Campinas teve, em média, a abertura de 7,75 empresas por hora nos últimos 12 meses, de acordo com estudo realizado pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade). Entre abril de 2024 e março passado, ela acumulou 67.873 novos cadastros, o segundo maior volume do Estado de São Paulo, com participação de 13,13% dos 516.767 registros paulistas, apontou o levantamento feito com base nos dados do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), da Receita Federal. Os dados desconsideram os registros de microempreendedores individuais (MEIs).

A liderança na criação de empresas ficou a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), com 307.356, representando 59,48% do geral. A terceira colocação ficou com a RA Sorocaba (23.261), seguida de São José dos Campos (22.927) e Santos (16.242).

Após 36 anos trabalhando como funcionário de um bar, Fábio Guilherme Jorge inaugurou sua própria casa há dois meses, no Taquaral, onde já investiu aproximadamente R$ 50 mil. “Não sei onde arrumei tanto”, afirmou, abrindo caminho para o espírito empreendedorista. “Levei uma rasteira, mas só cresci depois disso. Agora cuido do meu bar, antes cuidava do estabelecimento dos outros”, contou Fabinho, apelido usado para batizar o novo estabelecimento.

O volume de trabalho continua o mesmo e ele faz de tudo: cuida do atendimento, cozinha, faz os pedidos, limpeza e outras tarefas, mas está satisfeito com o novo negócio. O estabelecimento é uma pequena empresa familiar, onde também trabalham a esposa, a mãe e uma tia, além de contar com a ajuda de um colaborador. Porém, Fabinho tem planos para crescer. “Quero contratar uma nutricionista, mas precisava abrir o bar para fazer virar”, disse. Para isso, a casa aposta também em diferenciais, além do cardápio. Ela é o consulado da torcida do Palmeiras, reconhecido pelo clube, e um espaço pet friendly, ou seja, “amigo dos animais”, em tradução livre. A designação refere-se a locais preparados para oferecer bem-estar aos animais de estimação.

SEGMENTOS

De acordo com a Seade, o setor com a maior abertura de empresas no Estado foi o de serviços, com 358.548, o equivalente a praticamente sete em cada dez novas. Em seguida, vem o comércio, com 105.815, construção (26.639), indústria (23.643) e agropecuária (2.419). Para a economista Alessandra Ribeiro, “a abertura e fechamento de empresas representam indicadores importantes sobre o estado da economia e a dinâmica do mercado. A abertura de novas empresas indica crescimento e dinamismo, enquanto o fechamento pode ser um sinal de dificuldades econômicas ou estruturais”. 

O estudo da Seade não considerou os fechamentos, mas outro indicador dá pista para um resultado positivo na criação de novos negócios. Campinas, a maior cidade da Região Administrativa, por exemplo, fechou o primeiro quadrimestre deste ano com o saldo de 2.591 novas empresas, de acordo com os dados do Departamento de Economia da Associação Comercial e Industrial de Campinas (Acic). O saldo foi obtido a partir dos 3.767 negócios abertos e 1.176 fechados no período. No ano passado, foram 3.157 novas empresas e 1.064 encerramentos, saldo positivo de 2.093. Na comparação entre os dois primeiros quadrimestres, o aumento foi de 23,79% no saldo de novas empresas neste ano. O levantamento foi feito com base nos dados da Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp).

Esse resultado contribui também para a geração de empregos. O Painel do Trabalho, da Seade, apontou que 61.615 novos postos foram abertos na RA de Campinas nos últimos 12 meses, resultado das 1.319.710 admissões e 1.258.095 demissões no período. Ou seja, representou a criação de cerca de 170 vagas por dia. “Normalmente, as micro, pequenas e médias empresas são responsáveis por aproximadamente 50% dos empregos com carteira assinada no setor privado”, comentou Alessandra Ribeiro.

MEI

O estudo da Seade apontou que a RA de Campinas se destacou na criação de MEIs nos últimos 12 meses, 131.589 cadastros, com participação de 15,64% no total de 841.300 novos microempreendedores individuais do Estado de São Paulo. O dado da Região Administrativa é um pouco menor em comparação aos 139.052 que são obtidos na soma das três RAs que ocupam as posições logo abaixo: São José dos Campos (47.039), Sorocaba (46.832) e Santos (45.181).

A primeira colocação na abertura de MEIs ficou com a Região Metropolitana de São Paulo, com 417.124. Em março passado, o Estado teve 85.268 novos registros de microeemprendedores individuais, representando uma leve retração de 0,8% em relação aos 85.972 de fevereiro. Nos últimos 12 meses, o setor de serviços foi responsável por 554.720 cadastros, seguido por comércio (154.338), indústria (69.050), construção (59.434) e agropecuária (3.758).

O barbeiro Lucas Gonzales está entre os novos MEIs. Ele trabalha por comissão em um salão na Vila Industrial, em Campinas. “A renda é melhor”, comemorou o profissional, que antes trabalhava como pasteleiro. O interesse na busca pelo registro como microempreendedor é para garantir direitos, como a contagem de tempo para aposentadoria. “Nunca trabalhei registrado”, explicou Lucas Gonzales, de 22 anos. O setor de serviços foi responsável por 57.097 novos MEIs em março passado no Estado, seguido por comércio (14.695), construção (5.956), indústria (7.142) e agropecuária (378).

DESEMPENHO MENSAL

Janeiro deste ano foi o mês com maior registros de MEIs no Estado (116.828) no período analisado pela Seade, vindo em seguida fevereiro (85.972) e março (85.268). Ou seja, o primeiro trimestre de 2025 concentrou 34,24% de todos os cadastros dos últimos 12 meses. “O MEI, portanto, tem a força de movimentar a economia, assegurar mais empregos e facilitar a vida das pessoas”, opinou o gerente de Relacionamento com o Cliente do Sebrae, Ênio Pinto.

Uma pesquisa realizada pelo órgão em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostrou que a formalização dos microempreendedores individuais gerou um ganho de até R$ 69,56 bilhões na economia do país. “A condição de MEI permite que você tire um empreendimento da informalidade. A partir do momento que ele é formal, terá condição de ter notas fiscais, vender para outras empresas, para o próprio governo. Acho que a figura do MEI é um divisor de águas na economia brasileira porque tira muita gente da informalidade e catalisa, impulsiona, acelera o processo de empreendedorismo na economia como um todo”, destacou Ênio Pinto.

“Na medida em que o empreendedor formaliza, ele interage, inclusive globalmente, para que possa alcançar escala no seu negócio, ter longevidade e aumentar a sua própria renda”, disse o presidente do Sebrae, Décio Lima. Para ser um microempreendedor individual é necessário faturar até R$ 81 mil por ano - em média R$ 6.750 mensais). Também não pode ter participação em outra empresa como sócio ou titular e pode contar com, no máximo, um empregado contratado que receba um salário-mínimo ou o piso da categoria.

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