ESTUDO DA SEADE REVELA

RA de Campinas é líder em produção industrial no Brasil

Região se destaca no setor farmoquímicos/farmacêuticos e de produtos químicos

Edimarcio A. Monteiro/[email protected]
07/07/2024 às 07:34.
Atualizado em 09/07/2024 às 11:45
A principal empresa farmacêutica do país possui duas de suas cinco unidades na região, situadas em Hortolândia e Jaguariúna; a Região Administrativa (RA) de Campinas se destaca como líder na fabricação de produtos químicos e farmacêuticos, contribuindo com 30,7% da produção nacional do setor (Divulgação)

A principal empresa farmacêutica do país possui duas de suas cinco unidades na região, situadas em Hortolândia e Jaguariúna; a Região Administrativa (RA) de Campinas se destaca como líder na fabricação de produtos químicos e farmacêuticos, contribuindo com 30,7% da produção nacional do setor (Divulgação)

A Região Administrativa (RA) de Campinas, composta por 90 municípios, destaca-se como a maior contribuinte para a riqueza industrial do Brasil, conforme estudo realizado pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), baseado na Pesquisa Industrial Anual (PIA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A RA de Campinas foi responsável por 11,8% do Valor de Transformação Industrial (VTI) nacional, que totalizou R$ 2,2 trilhões em 2021. A região liderou em dois dos cinco setores analisados - produtos farmoquímicos/farmacêuticos e produtos químicos - e ocupou a segunda posição nos outros três setores: fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias; máquinas e equipamentos; e equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos.

O VTI representa a diferença entre o Valor Bruto da Produção Industrial (VBPI) e o Custo com as Operações Industriais (COI), refletindo o total produzido. O estudo da Seade desmembrou São Paulo em suas 14 regiões administrativas, comparando-as com os outros 25 estados brasileiros e o Distrito Federal. A RA de Campinas superou todas essas unidades federativas. Apesar da defasagem de dois anos nos dados, essa participação permanece inalterada, conforme explicou Vagner Bessa, gerente de Indicadores Econômicos da Seade. "Se o Estado de São Paulo não existisse e fosse dividido por suas regiões administrativas, a RA de Campinas seria o estado com a maior participação na produção industrial do país", afirmou o pesquisador.

Minas Gerais ocupou a segunda posição no ranking, com uma participação de 10,5% no VTI, enquanto a Região Metropolitana de São Paulo, que já foi o maior polo industrial do país, ficou em terceiro lugar com 9,9%. "A Região Metropolitana de São Paulo começou a perder relevância a partir dos anos 2000, especialmente após 2010. A cidade de São Paulo passou por um processo de desindustrialização, com empresas se transferindo para cidades num raio de 100 quilômetros", explicou Wagner Bessa. Segundo ele, esse processo ocorreu devido ao estrangulamento da infraestrutura local, principalmente na área de transporte, embora a capital ainda seja o maior centro de negócios do país. 

QUESTÃO PONTUAL 

Nas últimas décadas, muitas novas empresas da indústria automobilística que se instalaram no Brasil optaram pelo interior paulista. Em 2021, um em cada cinco veículos produzidos no país saiu da Região Administrativa (RA) de Campinas, que teve uma participação de 19,6% na produção nacional, ficando atrás apenas da Região Metropolitana (RM) de São Paulo, com 20,5%. No entanto, o gerente da Seade destacou que a RA de Campinas já é a maior produtora de veículos. "Em 2021, houve um problema pontual de falta de componentes produzidos na Ásia, o que levou a uma redução na produção e afetou mais a região de Campinas", explicou. 

Atualmente, a RA de Campinas abriga quatro montadoras, todas asiáticas: duas japonesas (em Indaiatuba e Itirapina), uma sul-coreana (Piracicaba) e uma chinesa (Iracemápolis). A planta de Indaiatuba está prevista para ser desativada em 2026, mas uma nova fabricante chinesa que está chegando ao país já iniciou negociações para adquiri-la, o que pode impulsionar ainda mais o crescimento do setor na região.

As montadoras destinaram R$ 8,9 bilhões em investimentos para a RA de Campinas ao longo de 13 anos, período que se encerrará em 2025. No entanto, um novo ciclo de investimentos já está programado. Outros R$ 15,7 bilhões estão previstos até 2032, principalmente para a introdução de novas tecnologias no país, com as fabricantes lançando automóveis híbridos e elétricos. "Acreditamos que essas novas tecnologias vêm ao encontro da questão da sustentabilidade e da preservação do meio ambiente. Elas vão colaborar significativamente com a redução das emissões de carbono e aprimorar os conceitos de manufatura", afirmou Ricardo Martins, vice-presidente administrativo da gigante sul coreana para a América do Sul e Central. 

OUTRAS ÁREAS

A Região Administrativa (RA) de Campinas se destaca como líder na fabricação de produtos químicos e farmacêuticos, com uma participação de 30,7% na produção nacional do setor. A principal empresa farmacêutica do país possui duas de suas cinco unidades na região, localizadas em Hortolândia e Jaguariúna, e continua investindo para manter sua posição de liderança. Este ano, a empresa conclui um investimento de R$ 120 milhões em tecnologia digital, treinamento de funcionários, governança digital e roadmap estratégico, um guia para orientar equipes ao longo de projetos. "O Departamento de TI (Tecnologia da Informação) é vital para o futuro dos negócios da companhia, por isso criamos um novo setor com equipes multidisciplinares", afirmou Marcus Sanchez, vice-presidente da empresa. 

A companhia oferece uma ampla gama de produtos para diversas áreas da medicina, incluindo medicamentos de prescrição, genéricos, de marca e hospitalares. Com 5 mil funcionários, a empresa possui unidades fabris em Manaus (AM), Brasília (DF) e na Sérvia, como parte de sua estratégia de internacionalização, exportando para 55 países. "A robótica, machine learning, big data e inteligência artificial vão melhorar o controle de qualidade e a produtividade. A digitalização dos processos, com assinaturas eletrônicas e melhor gestão do ciclo de vida dos contratos, colaborará com os processos de compras, vendas e contratações", explicou Sanchez.

Machine learning é um subcampo da engenharia e da ciência da computação que aprimora os processos de produção através do reconhecimento de padrões e da teoria do aprendizado computacional baseada em inteligência artificial. Os investimentos permitirão o "gerenciamento ágil de dados sobre farmácias, hospitais, médicos e parceiros, possibilitando um melhor entendimento da demanda e das inovações que movimentarão o mercado", acrescentou o executivo. 

A liderança da RA de Campinas na fabricação de produtos químicos é atribuída principalmente a Paulínia, o maior polo petroquímico da América Latina. A transformação econômica da região começou há 51 anos, com a inauguração da Refinaria de Paulínia (Replan) em maio de 1972, a maior do país. A refinaria atraiu novas empresas e impulsionou a expansão das já existentes. Uma empresa, em particular, possui 27 fábricas em seu complexo em Paulínia, empregando cerca de 800 funcionários e produzindo anualmente 1,2 milhão de toneladas de produtos para cuidados pessoais e domésticos, alimentos, tintas e vernizes, automóveis e vestuário, entre outros.

"O que começou como uma fazenda em 1942, para o plantio de cana-de-açúcar e produção de álcool para uma de nossas fábricas, tornou-se um dos maiores complexos químicos do grupo no mundo", disse Daniela Manique, presidente do grupo para a América Latina. 

Segundo Vagner Bessa, gerente de Indicadores Econômicos da Seade, a transformação industrial da RA de Campinas deve-se à sua infraestrutura rodoviária, à presença do Aeroporto Internacional de Viracopos, à proximidade com o Porto de Santos e à qualidade de vida. "Campinas, assim como São Paulo, passou por um processo de desindustrialização, mas se transformou em um importante centro de serviços e logística. A cidade se beneficiou da expansão de todos os setores econômicos do estado, inclusive da agropecuária", afirmou.

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