DESEMPENHO REGIONAL

RA de Campinas captou R$ 24,5 bi em investimentos em serviços desde 2020

Montante, impulsionado pela construção de data centers, é inferior apenas ao total destinado para a Região Metropolitana de São Paulo

Edimarcio A. Monteiro/[email protected]
04/02/2025 às 11:21.
Atualizado em 04/02/2025 às 12:09
Consta no estudo o investimento de R$ 1,8 bilhão em Pesquisa e Desenvolvimento no CNPEM, em Campinas; desse valor, R$ 1 bilhão é para a construção do Orion, o primeiro laboratório do mundo de biossegurança máxima conectado a uma fonte de luz síncrotron, o Sirius (Kamá Ribeiro)

Consta no estudo o investimento de R$ 1,8 bilhão em Pesquisa e Desenvolvimento no CNPEM, em Campinas; desse valor, R$ 1 bilhão é para a construção do Orion, o primeiro laboratório do mundo de biossegurança máxima conectado a uma fonte de luz síncrotron, o Sirius (Kamá Ribeiro)

A Região Administrativa (RA) de Campinas recebeu R$ 24,5 bilhões em investimentos em serviços em cinco anos, sendo a segunda em captação de recursos, de acordo com os dados da Pesquisa de Investimentos do Estado de São Paulo (Piesp), da Fun’dação Sistema Estadual de Análise e dados (Sede). O valor, previsto principalmente para Campinas, Paulínia e Hortolândia representou 24,09% do total de R$ 101,7 bilhões captados por todas as regiões do Estado de São Paulo entre 2020 e 2024, com o montante regional atrás apenas dos R$ 55,1 bilhões destinados para a Região Metropolitana de São Paulo.

O estudo apontou que a atividade que anunciou os maiores investimentos envolve as construções de data centers, somando R$ 39,9 bilhões. Dessa parcela, Paulínia e Hortolândia receberam praticamente R$ 3 em cada R$ 7 destinados a implantação desses centros de processamentos de dados. Juntas, as duas cidades somam R$ 17,6 bilhões, o equivalente a 44,11% do anunciado nessa área. Para o economista Igor Lobo, esse tipo de investimento é essencial para o país. “Os data centers são estratégicos para o desenvolvimento da sociedade brasileira ao representarem a base fundamental para sustentar a inovação tecnológica, crescimento econômico e competitividade internacional do país, para uma inclusão digital ainda mais ampla”, explicou.

Uma multinacional com sede nos Estados Unidos está investindo R$ 15,6 bilhões na construção, em Paulínia, de um data center em hiperescala, instalação gigante construída por empresas com grandes necessidades de processamento e de armazenamento de dados ou para atender terceiros. A empresa atua exatamente nesse último caso, fornecendo o serviço aos clientes. Ela está implantando na cidade o seu maior centro no Hemisfério Sul, que também será o maior do Brasil. O projeto prevê a construção de seis prédios em uma área de 265 mil metros quadrados (m²), o equivalente a 37 campos de futebol, e inclui a construção de uma subestação de energia elétrica de 250 megawatts (MW), com capacidade para abastecer em torno de 247,5 mil imóveis residenciais, o proporcional a metade dos domicílios de Campinas. Essa unidade é para abastecer o conjunto de prédios. 

ALTA DEMANDA

O data center é um grande consumidor de eletricidade para o funcionamento dos computadores de grande porte e controle da temperatura do ambiente onde estão instalados. “É importante que os dados gerados no Brasil fiquem no Brasil”, ressaltou o CEO da empresa, Hossein Fateh, ao justificar o investimento feito em Paulínia. Ela tem centros de processamento de dados nos Estados Unidos, Alemanha, França e Inglaterra, além de projetos para a instalação de novos na Itália, México, Holanda e outros países.

Já em Hortolândia, uma companhia está investindo R$ 2 bilhões na construção de outro complexo de data center. “Ele terá cerca de 80 mil metros de área construída e os trabalhos consumirão investimentos ao longo de quatro anos”, explicou o presidente da empresa, Eduardo Sodero. A nova unidade será a quinta da empresa, que tem outras duas em São Paulo, uma no Rio de Janeiro e outra em Bogotá, na Colômbia.

De acordo com a Seade, entre os outros investimentos em data centers no Estado está o de uma gigante do setor de informática, que destinará R$ 14,7 bilhões para expansão da infraestrutura de nuvem e serviços de inteligência artificial em suas unidades paulistas. Uma outra empresa brasileira investirá R$ 6,2 bilhões na ampliação do campus Tamboré, em Barueri. Os grandes recursos para essa área são explicados pelo crescimento da demanda por esse tipo de serviço. Em 2024, os gastos globais com serviços de computação em nuvem somaram US$ 679 bilhões (R$3,43 trilhões) e devem ultrapassar US$ 1 trilhão (R$ 5,83 trilhões) em 2027, de acordo com pesquisa divulgada por uma consultoria especializada em Tecnologia da Informação (TI).

PESQUISA

O estudo Piesp trouxe ainda o investimento de R$ 1,8 bilhão em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) em andamento no Centro Nacional de Pesquisas em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas. Desse valor, R$ 1 bilhão é para a construção do Orion, primeiro laboratório do mundo de biossegurança máxima (NB4) conectado a uma fonte de luz síncrotron, o Sirius. Ele começou a ser construído no segundo semestre do ano passado e está previsto para ser inaugurado no final de 2026.

O novo laboratório permitirá a realização de pesquisas de doenças graves, como HIV/ Aids e ebola. A nova unidade do CNPEM ainda contará com unidades com dois níveis de biossegurança, NB2 (patógenos mais perigosos, como os que causam doenças controláveis, como o sarampo) e NB3 (destinado a agentes para os quais não há vacina ou tratamento específico, como inicialmente foi o coronavírus, causador da covid-19). Importantes institutos de pesquisas do Brasil e do mundo já iniciaram contatos para usar o Orion, entre eles o Butantan, Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Pasteur e o norte-americano Instituto Nacional da Saúde (NIH, na sigla em inglês).

"O Orion é, além de tudo, um instrumento de soberania, nos possibilitando determinar nossas prioridades nessa área estratégica”, destacou a diretora do Laboratório de Biociências do CNPEM, Maria Augusta Arruda. “Sem um NB4, continuaremos dependendo de colaborações com outro centro de pesquisa no exterior, nos privando não somente da agilidade no desenho de estratégias para mitigar os efeitos deletérios desse possível agente etiológico, mas também no acesso de nossa sociedade ao desenvolvimento científico-tecnológico decorrente”, acrescentou.

MAIS RECURSOS

O novo laboratório faz parte das obras previstas no novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo. Além de recursos para o Orion, foram destinados R$ 800 milhões para a instalação de dez novas linhas de luz síncrotron no Sirius, que estão em fases diferentes de implantação. Com isso, o CNPEM passará a contar com 23 estações de pesquisa até o final de 2026.

O Sirius já é utilizado por seus cientistas e de outros institutos brasileiros e estrangeiros para diversas pesquisas. Pesquisadores do centro já descobriram, por exemplo, mecanismo de ação de moléculas que podem ser usadas no tratamento da doença de Chagas, criaram um sensor para o monitoramento de biomoléculas relacionadas às doenças neurodegenerativas e também que bactérias que vivem no intestino podem influenciar no desenvolvimento e na progressão do mal de Parkinson.

Para o economista Igor Lobo, os investimentos na área de serviço trazem benefícios de geração de tecnologia e empregos. “Precisamos de um ambiente favorável a novos negócios e investimentos, com legislações amigáveis e estáveis.”

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