MURO DA CIDADANIA

Quem tem põe, quem não tem tira

Projeto social do Colorado Esporte Clube confia no anonimato de quem doa e de quem recebe

Daniel de Camargo
daniel.camargo@rac.com.br
10/03/2019 às 10:40.
Atualizado em 04/04/2022 às 21:05

Há pouco mais de um ano, o Muro da Cidadania reforça o valor do projeto social desenvolvido pelo Colorado Esporte Clube em Americana. O espaço, instalado sob as arquibancadas na entrada principal do Estádio Victorio Escuro, na Rua Abolição, no tradicional bairro da Conserva, é utilizado para a doação de roupas, calçados e cobertores para pessoas carentes. Segundo o médico Rogério Panhoca, de 54 anos, que preside a agremiação, a intenção é estimular a caridade nos membros da comunidade. Isso fica claro no lema da ação, grafitado no local, que diz: "Quem tem põe...quem não tem tira". O lugar é aberto, porém protegido do sol e da chuva. Não há câmeras de segurança ou burocracia para deixar ou retirar as peças. Panhoca informa que não identificar quem se envolve na iniciativa foi fundamental para o sucesso. "Basicamente, a ideia é dar dignidade para quem doa, mas principalmente para quem recebe. O anonimato é a forma mais digna de se fazer uma caridade", disse. Há apenas uma regra para fazer o bem no Muro da Cidadania: os itens doados precisam estar em boas condições de uso. Diariamente, um funcionário da instituição vai ao local logo cedo, avalia as doações e organiza os cabideiros, quando necessário. O conceito surgiu em uma conversa no grupo de WhatsApp da Associação Médica de Americana (AMA). "Um colega de profissão postou algo sobre uma iniciativa semelhante que existe, se não me engano na Síria. Em seguida, outro se prontificou a financiar. Esse era, na época, presidente de uma cooperativa de crédito da cidade. Eu, enquanto responsável pelo clube, cedi a acomodação. Então, em cerca de 15 dias tiramos a ideia do papel", comentou Panhoca. O recurso necessário para viabilizar o Muro da Cidadania foi de aproximadamente R$ 2 mil. O valor foi gasto em manutenções, como poda de mato, pintura e troca do piso, entre outros. A ausência de registro das pessoas que doam e que são beneficiadas não permite um balanço dos resultados obtidos. Esse, inclusive, é um dos objetivos. Panhoca revela, entretanto, que no primeiro mês da ação, quando havia um medo inerente de vandalismo e destruição do espaço, foram doadas cerca de 500 peças. Na oportunidade, um funcionário ficou parcialmente focado em auxiliar as atividades, o que permitiu quantificar o recebimento dos itens. Projeto social Uma das mais tradicionais agremiações de Americana, o Colorado E.C. completou 41 anos de fundação em 2018. A equipe de futebol amador chegou a ser extinta nos anos 90, mas foi reativada há cerca de 16 anos com um novo programa focado nas categorias de base. Há seis anos na presidência do clube, o médico Rogério Panhoca ressalta que o Muro da Cidadania é apenas um apêndice do projeto social realizado na instituição. As crianças atendidas, em sua maioria meninos, são acompanhadas por nutricionistas, fisioterapeutas e psicólogos, além de receber tratamento odontológico. Esses serviços são prestados por voluntários. Atualmente, o único parceiro fixo é o supermercado Pague Menos. Contudo, o aporte subsidiado mensalmente não supre todos os gastos. De acordo com Panhoca, outras pessoas realizam doações financeiras esporádicas. Desde o início da sua administração, o otorrinolaringologista investe recursos próprios para que a infraestrutura permaneça aberta. “Somos praticamente uma categoria de base de time profissional: damos condições para as crianças que têm o dom chegarem até um grande clube de futebol. Isso aconteceu com vários garotos que passaram por aqui”, afirmou.  Médico destaca apoio da comunidade O médico Rogério Panhoca diz que a comunidade abraçou a iniciativa do projeto social realizado pelo Colorado Esporte Clube em Americana. Algumas pessoas fizeram previsões pessimistas no que diz respeito ao sucesso. Isso porque o estádio era usado no passado, quando estava desativado, como ponto para o tráfico de drogas e prostituição. “Em 2012, as condições do Victorio Scuro eram inenarráveis”, recorda. Foi necessário, de acordo com ele, um vasto trabalho para reparar a infraestrutura interna. Por isso, havia um temor de que o Muro da Cidadania fosse alvo de vandalismo ou que moradores de ruas usassem o espaço para dormir. Um ano depois, nada de ruim aconteceu. “Isso, aliado às recorrentes doações, é motivo de orgulho para nós.” 

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