Inversão demográfica a partir de 2040 forçará governos a renovar políticas para saúde
Rua 13 de Maio, em Campinas: população crescerá 1,2% até 2015 na região (Cesar Rodrigues/AAN)
A região de Campinas vai crescer cada vez menos e a partir de 2040 começará, de forma inédita, a encolher. A taxa de crescimento populacional — de 1,21% ao ano entre 2010 e 2015 — sofrerá redução progressiva até se tornar negativa. Assim, por causa da queda da fecundidade e redução das migrações, a região perderá, entre 2040 e 2050, mais de 100 mil pessoas, totalizando 7,3 milhões ao final do período. Isso exigirá um grande esforço das cidades para dar conta da nova realidade e que, segundo especialistas, deveria começar a ocorrer desde já.O cenário de redução populacional ocorrerá, na Região Administrativa de Campinas, com 90 municípios, com uma estabilização da população economicamente ativa e redução do número de jovens. Será, então, preciso criar políticas públicas incisivas para dar conta de um cenário que terá grande impacto na saúde, educação, qualificação profissional e bem-estar social, segundo a Fundação Seade.Um dos fenômenos que serão bastante sentidos na região de Campinas, como ocorrerá em todo o Estado, é que, a partir de 2027, o grupo de maiores de 60 anos superará o de crianças e adolescentes com menos de 15 anos. A participação dos maiores de 60 anos, que era de 11,57% da população em 2010, mais que duplicará em 2050, passando a representar 29,8%. Enquanto isso, os menores de 15 anos, que eram 21,4% da população em 2010, terão participação reduzida para 14,04%.Isso significa, segundo a Fundação Seade, que a oferta de mão de obra ficará mais escassa e que a economia do Estado tenderá ao pleno emprego em um cenário de crescimento econômico. Esse processo será condicionado por fatores tecnológicos e de produtividade — o que envolve a capacitação de trabalhadores —, bem como de maior ou menor inserção no mercado de trabalho de pessoas mais velhas.Aos primeiros sinais de inversão de curvas de qualquer aspecto estatístico, disse o presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) em Campinas, Alan Cury, os planejadores devem iniciar imediatamente uma alteração de rumos, sempre buscando o equilíbrio entre a demanda, a oferta e as oportunidades. “Não dá para se pensar, em pleno século 21, uma cidade sem um planejamento efetivo e estratégico, com visão de futuro, mas acima de tudo, em constante atividade e independente de calendários eleitorais.”Para o arquiteto e urbanista, algumas perguntas têm de ser feitas e respondidas já. Será que as habitações sociais atualmente estão contemplando tamanha mudança de perfil de seus habitantes? Será que estamos nos preparando para dar qualidade de vida e acessibilidade a nossos idosos? Estamos ampliando nossos parques e espaços de convívio, atentos a essas novas demandas? Nossos postos de saúde e centros médico-hospitalares estão se reformulando? A resposta a essas perguntas, disse, é de conhecimento de todos.Segundo ele, para estar qualificada a receber os 120 milhões de passageiros anuais em Viracopos, para absorver de forma positiva os impactos do trem de alta velocidade (TAV) e o Trem Metropolitano, para continuar sendo o sítio da alta tecnologia da América Latina e referência na educação universitária, Campinas necessita urgentemente instituir o seu Escritório de Planejamento. “Estando preparada para o futuro, qualquer que seja a alteração dos perfis, Campinas estará atualizada aos novos cenários. As cidades inteligentes são cidades com facilidade para se reinventar, sempre inovadoras e criativas. Cidades para as pessoas, cidades sustentáveis, cidades planejadas”, disse.Para a socióloga Maria Erlinda de Castro, pelo menos três desafios estão vindo pela frente. O primeiro é que a razão de dependência, ou seja, o coeficiente entre número de idosos e população em idade de trabalhar dará um salto. “Hoje são as crianças a serem sustentadas. Em 30 anos serão os idosos”, disse. O segundo é que o crescimento da economia vai depender especialmente da produtividade e o terceiro é que, para ser produtivo, será preciso educar mais a juventude, esse sim, disse, o grande desafio. “O que temos no futuro é um cenário que poderá ser de grande desenvolvimento ou de tragédia. Com redução de mão de obra, se não houver qualificação, se não houver inserção tecnológica, perderemos o bonde da história. Isso tudo tem a ver com educação, que tem que começar já”, afirmou.