MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Queda de raio aumenta 200% em dezembro em Campinas

Na primeira quinzena, foram 3.009 descargas, contra 958 no mesmo mês de 2021

Rodrigo Piomonte
05/01/2023 às 08:49.
Atualizado em 05/01/2023 às 08:49
Raios são comuns nesta época do ano, no entanto, o fenômeno tem se intensificado nos últimos tempos (Kamá Ribeiro)

Raios são comuns nesta época do ano, no entanto, o fenômeno tem se intensificado nos últimos tempos (Kamá Ribeiro)

Com as tempestades típicas do verão, Campinas e demais cidades da Região Metropolitana devem ficar em alerta para um fenômeno natural que se mostra mais intenso e perigoso: as descargas elétricas, popularmente conhecidas como raios. De acordo com dados do Grupo de Eletricidade Atmosférica (ELAT) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a incidência de raios em Campinas aumentou em mais de 200% na primeira quinzena de dezembro de 2022, em comparação com o mesmo mês do ano anterior.

O instituto contabilizou a queda de 3.009 raios no período entre 1 e 11 de dezembro do ano passado na cidade. Desses, 660 tocaram o solo. No mesmo intervalo de dias no ano anterior ocorreram 958 raios, sendo que 144 raios tocaram o solo campineiro. Historicamente, a incidência de raios em Campinas e na RMC é maior que a média nacional. Há dez anos, por exemplo, a região recebia uma média anual de quase nove descargas elétricas por quilômetro quadrado, enquanto no País a média era de quase seis raios por quilômetro quadrado. Essa diferença se mantém, porém, em períodos com muito mais descargas devido ao aumento das temperaturas por conta das questões ambientais.

As chuvas com descargas elétricas, provocadas por calor intenso e alta umidade do ar, são típicas no fim da primavera e em todo o verão. Segundo informações do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a incidência de raios começa no fim de outubro até atingir o nível máximo nos meses de janeiro e fevereiro. Segundo informações do Inpe, a elevação gradual da temperatura nos últimos anos tem contribuído para a queda de mais raios.

Dados históricos do Cepagri apontam que a ocorrência de chuva forte com raios aumentou pelo menos 25% nos últimos 30 anos. Raio é um fenômeno natural caracterizado pela descarga elétrica de grande intensidade, que conecta o solo e as nuvens de tempestade na atmosfera. A intensidade típica de um raio é de 30 mil Ampères, cerca de mil vezes a de um chuveiro elétrico. A descarga percorre distâncias da ordem de cinco quilômetros. Em geral, os raios provocam um clarão e, logo em seguida, o barulho denominado trovão, por causa do deslocamento de ar.

Municípios como Campinas e cidades da RMC - como Hortolândia, Sumaré, Paulínia, Americana e Santa Bárbara D´Oeste - são as que concentram a maior incidência de raios por quilômetro quadrado na região. O recorde de descargas elétricas é estabelecido conforme a extensão territorial e a quantidade de raios registrada em determinado período. Nos últimos cinco anos, por exemplo, Hortolândia recebeu 10,8 mil descargas. Em média, foram 34,8 raios por quilômetro quadrado na cidade, que possui apenas 62 quilômetros quadrados de área territorial. Na avaliação de especialistas, uma região é considerada com alta incidência de raios quando registra mais de 10 descargas atmosféricas por quilômetro quadrado por ano.

O fato de Campinas e das cidades da RMC serem municípios industriais é o fator que influencia a concentração de raios. A explicação está no fato dessas cidades serem muito urbanizadas o que contribui para a formação das chamadas "ilhas de calor", que ao se encontrarem com as nuvens formam tempestades mais intensas e, consequentemente, raios.

O aumento gradativo da quantidade de raios nos últimos anos, devido às alterações climáticas provocadas pelo crescimento das cidades e substituição da vegetação pelo asfalto, é um fenômeno que vem sendo acompanhado, junto com o aquecimento das águas do Oceano, e que favorecem o aumento de tempestades.

O coordenador regional da Defesa Civil de Campinas, Sidnei Furtado, afirma que os raios são a grande preocupação para os próximos meses. Para ele, a única alternativa para minimizar os efeitos dos raios é orientar e conscientizar a população para os riscos. "Campinas e a região historicamente concentram grande quantidade de raios e descargas atmosféricas. Temos feito um trabalho de orientação com a população há alguns anos. A única forma de se prevenir é a informação", disse.

Ele explica que a melhor coisa a fazer é se proteger antes da descarga, ou seja, antes da tempestade se iniciar. "Quanto for percebido que uma tempestade vai acontecer, a melhor coisa é já se abrigar da chuva e não ficar em locais abertos. E isso antes que os raios aconteçam de preferência", conclui.

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