RISCOS

Queda de motociclista volta a expor os perigos do Cury

Garçom caiu de uma altura de quatro metros no quarto acidente em 45 dias

Luciana Félix
11/09/2013 às 08:56.
Atualizado em 26/04/2022 às 01:46
Rogério Rocha, responsável pela banca de frutas onde o motociclista caiu, observa o telhado que amorteceu a queda: comerciantes da região dizem que acidentes são comuns (Janaína Maciel/Especial para a AAN)

Rogério Rocha, responsável pela banca de frutas onde o motociclista caiu, observa o telhado que amorteceu a queda: comerciantes da região dizem que acidentes são comuns (Janaína Maciel/Especial para a AAN)

Um novo acidente no Viaduto Miguel Vicente Cury, no Centro de Campinas, deixou uma pessoa ferida na madrugada de ontem. A vítima foi um garçom, que despencou do elevado ao passar pelo local pilotando uma moto. Por sorte, ele caiu sobre uma banca de frutas e teve ferimentos leves. A queda, de uma altura de 4 metros, foi a quarta registrada no trecho em um período de apenas 45 dias. Foto: Janaína Maciel/Especial para a AAN Trecho que registra quedas no Viaduto Cury: Prefeitura diz que defensa foi refeita e o asfalto melhorado O trecho onde o garçom se acidentou é o mesmo onde, no mês de julho, um ônibus articulado despencou matando uma pessoa e deixando outras 24 feridas. Em julho, um Monza guiado por um motorista alcoolizado se chocou contra a defensa metálica. E, um dia antes do acidente com o ônibus, um motorista que fugia da Polícia Militar (PM) em alta velocidade, caiu com o carro que dirigia do viaduto.Especialistas consultados pelo Correio defendem que uma inspeção mais rigorosa no elevado deve ser feita pela Prefeitura para descobrir o que está ocorrendo. Eles alegam que é preciso redefinir novos equipamentos sinalizadores e de segurança no local. Afirmam, também, que seria necessário implantar redutores de velocidade ou até radares para evitar excesso de velocidade e novos acidentes no trecho do viaduto (leia texto nesta página).O viaduto é alvo de críticas do Sindicato dos Rodoviários de Campinas e Região, que reclama da estrutura viária dizendo que é ultrapassada para comportar o trânsito atual e que o trecho onde o ônibus caiu tem uma inclinação que acaba potencializando os acidentes, principalmente com ônibus. O sindicato entrará com uma ação na Justiça contra o laudo apresentado pelo Instituto de Criminalística (IC) que apontou o excesso de velocidade como o causador do acidente no mês de julho. O motorista do coletivo foi indiciado pela polícia por homicídio culposo (sem intenção) e lesão corporal.Já a Prefeitura afirma que refez a defensa do local dos acidentes, além de ter arrumado a pavimentação do elevado com o custo de R$ 800 mil. A Administração disse ainda que um novo estudo, mais profundo, será feito no viaduto, mas só quando ficarem definidos onde ficarão as estações do Bus Rapid Transit (BRTs) e do trem de alta velocidade (TAV) no entorno do Cury.Eles também afirmaram que não é possível fazer um estudo concreto com a presença dos camelôs no local. A Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec) informou que já refez a pintura de sinalização de solo e de placas no trecho do viaduto.O acidenteO garçom Fernando Antonio da Silva Júnior, de 24 anos, afirmou à polícia que seguia pela via no sentido bairro-Centro quando perdeu a direção da moto, bateu no guard rail e foi lançado para fora do viaduto. Ontem, a reportagem tentou entrar em contato com o motorista, mas ele preferiu não comentar o acidente. Um amigo que retirou a moto envolvida no acidente, afirmou que ele está bem.“Ele disse que tinha pedra na pista. Tentou frear, acabou perdendo o controle da moto e bateu na mureta. Ele teve muita sorte porque poderia ter morrido”, disse Josenildo Campos Filgueira. O amigo ainda disse que o garçom havia pedido demissão de um restaurante na semana passada e deve voltar para Pernambuco, onde nasceu. “Ele está assustado com o acidente. Imagina o susto.”O rapaz chegou a ficar com a perna presa em parte do telhado da banca de frutas onde caiu, na Rua Cônego Cipião. Soldados do Corpo de Bombeiros foram ao local para retirá-lo. A vítima foi socorrida por uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e levado para o Hospital Municipal Dr. Mário Gatti com dores no peito. Silva Júnior foi liberado ainda de madrugada. VizinhosNa tarde de ontem, comerciantes e vizinhos do entorno da Rua Cônego Cipião ainda comentavam o acidente da madrugada. “Imagina o susto que o motociclista levou. Ainda por cima ficou com a perna pendurada. Os Bombeiros que o retiraram de lá. Esse viaduto é um perigo”, afirmou o comerciante Manoel Barbosa.“Já é o quarto acidente em pouco tempo. Além dos motoristas que abusam, algo está acontecendo. Não é normal”, afirmou outro comerciante do entorno, Dirceu Luiz de Oliveira. O responsável pela banca onde o garçom caiu afirmou que levou um susto ao ver o amassado no teto. “Ainda tentei dar uma arrumada. Mas nem mexi muito. A banca é alugada e acho que a dona vai ver o que vai fazer”, disse Rogério Rocha.Já o morador de um prédio na área disse que já se cansou de ver acidentes graves no viaduto. “Até a carga de um caminhão já despencou nessa curva. Lembro que era um monte de latinhas de Coca-Cola que voaram pelo elevado”, disse José Maria de Oliveira. Para o especialista em trânsito e presidente do Instituto Brasileiro de Ciência do Trânsito, José Almeida Sobrinho, as condições de segurança do Viaduto Cury são críticas e se algo não for feito os acidentes continuarão. “Ele está defasado, já não aguenta segurar o tráfego de veículo da região. Sem dizer que hoje os veículos são mais ágeis e a circulação é mais pesada.” Uma alternativa, apontou Sobrinho, é repensar a sinalização do local. “Colocar lombada, colocar limite de velocidade com fiscalização ou redutor de velocidade. Tudo para fazer o motorista não cometer excesso de velocidade. Não adianta colocar a culpa no motorista. É preciso prevenir situações.” O engenheiro civil e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Creso de Franco Peixoto também acredita que uma sinalização, com punições, ajudaria a conter acidentes. “A Prefeitura pavimentou o local e com isso o motorista não percebe que está mais rápido. É preciso criar redutores de velocidade.”Para o urbanista e professor da faculdade de arquitetura da PUC-Campinas João Verde o Viaduto Cury é uma “unha encravada na cidade”. “Precisamos de um projeto viário para cidade, não existe planejamento. Prova disso é o viaduto, que é totalmente ultrapassado e só dá problema.” Veja também Ônibus cai de viaduto e uma pessoa morre em Campinas Coletivo caiu de uma altura de 5 metros; ônibus faz a linha 1.17 (DIC- Rótula) e atingiu um carro  

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