SOM DIVINO

Quebrando quase 30 anos de silêncio

Órgão majestoso da Catedral Metropolitana de Campinas finalmente começou a ser restaurado

Delma Medeiros
25/03/2018 às 09:19.
Atualizado em 23/04/2022 às 07:24
Monsenhor Capelato, vigário-geral da Arquidiocese: "O Cavaillè-Coll tem um total de 702 tubos de tamanhos variados" (Leandro Ferreira/AAN)

Monsenhor Capelato, vigário-geral da Arquidiocese: "O Cavaillè-Coll tem um total de 702 tubos de tamanhos variados" (Leandro Ferreira/AAN)

Depois de quase três décadas de silêncio, o campineiro poderá novamente ouvir o som melodioso do majestoso órgão Cavaillé-Coll da Catedral Metropolitana de Campinas. Por iniciativa do monsenhor Rafael Capelato, pároco da matriz e vigário-geral da Arquidiocese de Campinas, o órgão começou a ser restaurado há cerca de um mês, obra que vai consumir pelo menos seis meses de trabalho da equipe do organeiro Georg Jann, alemão radicado em Blumenau (SC), que começou a estudar a arte de construir órgãos em 1948, quando tinha 14 anos. O monsenhor explica que quando assumiu a Catedral, em março de 2016, sua primeira ação foi fazer uma revisão da parte estrutural do templo. “Avaliamos o telhado, a parte elétrica, rachaduras, e fizemos um diagnóstico do madeiramento, que constatou a presença de cupins nos altares e grande infestação no madeirame do órgão. A parte externa da peça estava bem, mas a interna tomada pelos cupins. Como teríamos que mexer em tudo para descupinizar, aproveitamos para pensar no restauro”, explica. A montagem do órgão Cavaillé-Coll foi concluída pelo organeiro Antonio Pastore em novembro de 1883, ano da inauguração da Catedral. No entanto, apesar da imponência e sonoridade, ele se tornou um problema, já que, na época, não havia organistas na cidade e ninguém conhecia seu mecanismo. “Não sabemos se é fato ou lenda, mas há uma tradição oral de que o órgão, construído pelo organeiro francês Aristide Cavaillé-Coll — considerado o mais importante construtor de órgãos do século 19 e um dos maiores da história da organeria —, teria sido encomendado pela cidade do Cairo, no Egito, mas uma revolução naquele país teria impedido a aproximação do navio que o levava. Para evitar prejuízos maiores a empresa o teria enviado para Campinas, que tinha encomendado um outro órgão”, conta o monsenhor. “No Brasil existem poucos Cavaillè-Coll. No Estado de São Paulo são cinco, instalados na Capital, Itu, Lorena, Jundiaí e o nosso, em Campinas.” O monsenhor comenta que conheceu Georg Jann quando ele esteve em Valinhos para restaurar um órgão na matriz de São Sebastião. “Ele construiu também o órgão do Mosteiro de São Bento, em Vinhedo, e restaurou pelo menos 60 instrumentos na Europa, tem grande experiência e aceitou o desafio, que não será nada fácil, o Cavaillè-Coll da Catedral tem um total de 702 tubos de tamanhos variados”, explica o pároco. “O órgão permaneceu inativo por cerca de 30 anos, desafinado, com os tubos danificados e sem manutenção. Queremos mudar isso”, afirma, citando que nos dias atuais não haverá dificuldade para encontrar organistas. A cidade tem curso de música na Unicamp que forma esses profissionais, além da Escola de Música Sacra da Arquidiocese. “A ideia, após o restauro é termos um organista regular, para garantir a manutenção do instrumento e seu uso em liturgias da igreja, celebrações especiais. É também uma forma da igreja contribuir para a cultura local”, diz o monsenhor. “Trata-se de uma peça de valor instrumental e histórico que não poderíamos deixar que se perdesse”. A iniciativa de restaurar o órgão da Catedral coincide com as comemorações pelos 110 anos de criação da Arquidiocese de Campinas. “Nossa expectativa é reinaugurar o órgão dia 8 de dezembro, em comemoração aos 110 anos da Arquidiocese e Dia de Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Campinas”.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por