Pesquisa nacional revela também que 32% delas foram assediadas no ônibus
Pesquisa nacional revela também que 32% delas foram assediadas no ônibus (Gustavo Tilio)
Uma pesquisa nacional feita em parceria entre o Instituto Patrícia Galvão e o IPEC, com apoio de uma empresa de aplicativo de mobilidade, revelou que 45% das mulheres entrevistadas foram tocadas sem consentimento em local público e 32% passaram por alguma situação de importunação/assédio sexual no transporte público. Questionados na pesquisa, somente 5% dos homens admitiram a prática de tocar o corpo de alguém sem consentimento publicamente, enquanto todos os entrevistados negaram terem importunado e assediado sexualmente uma mulher no transporte público.
A pesquisa "Percepções sobre controle, assédio e violência doméstica: vivências e práticas" revelou outros dados: 41% das mulheres foram xingadas ou agredidas por recusarem investidas de uma pessoa que estava interessada nelas e 31% sofreram tentativa ou abuso sexual. A pesquisa completa pode ser acessada neste link.
Em Campinas, Silvana, 58 anos, contou que andava todos os dias de ônibus e passou por uma situação repugnante muitos anos atrás. Sentada, ela percebeu que um homem, de pé, encostava o pênis no braço dela. Ela disse que não conseguiu reagir e que os tempos eram diferentes. Na opinião de Silvana, a sociedade hoje se posiciona de maneira mais firme contra os abusos. Na época em que sofreu a violência, o medo de reagir era maior.
Mesmo nunca tendo sido importunada dentro do transporte público, Rose Eliane Soares, 43 anos, disse que vê "muita safadeza, muita coisa horrível" nas viagens que realiza. Ela contou que costuma calcular o lugar em que vai ficar dentro do ônibus com a filha de 12 anos e lamentou que as mulheres não possam usar saias curtas para não serem acusadas de provocação, de causar as injustificáveis agressões. "Você não pode usar roupa bonita, ser um pouco charmosa porque isso significaria que você está se oferecendo. Agora, se vier para cima de mim, vai ter. Eu sento a mão".
Em relação à Lei Maria da Penha, a maioria dos participantes da pesquisa tem uma visão positiva. 93% acreditam que ela contribui para que mulheres busquem ajuda para sair da relação violenta/abusiva, mas a quantidade dos que considera que ela protege a mulher e pune adequadamente o agressor é menor: 68%.
Embora a maioria dos homens reconheça os aspectos positivos, 31% acreditam que ela interfere em uma questão particular e privada que diz respeito apenas ao casal. 49% dos homens com mais de 60 anos possuem essa opinião.
A diretora de conteúdo do Instituto Patrícia Galvão, Marisa Sanematsu, opinou que a Lei Maria da Penha é um marco para a legislação brasileira em termos de proteção à mulher, porém nunca foi implementada em sua totalidade.
Para ela, o Estado não garante a proteção adequada às mulheres. Quando a dificuldade para buscar ajuda é superada, as mulheres encaram outra situação: o menosprezo no atendimento e a falta de garantia de proteção contra o agressor. Além disso, se o Estado avançou na proteção de algumas mulheres, ele ainda falha em relação às negras agredidas, que muitas vezes são pobres e estão em situação de vulnerabilidade social ou dependência do parceiro.
"A lei é boa, mas não vale em todo o Brasil. Sabemos que há uma desigualdade muito grande no acesso à justiça e há pouquíssimas delegacias especializadas no atendimento - e a maioria concentrada em capitais, grandes cidades, mas sabemos que a violência acontece em todo lugar (...) A desigualdade no acesso aos serviços, à Justiça, faz com que a gente tenha diferentes realidades para as mulheres que vivem em situação de violência doméstica", concluiu.