Diferentemente do presidente Jair Bolsonaro, que alegando receio de crise econômica pede a volta dos cidadãos brasileiros ao trabalho, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), tem defendido o isolamento social para frear o avanço da covid-19. Durante anúncio da prorrogação da quarentena no Estado, Doria voltou a criticar Bolsonaro. "Não pauto minhas ações por populismo. Pauto pela verdade e pela ciência. Todas as iniciativas de São Paulo são amparadas na ciência e opinião médica", disse o tucano. "Temos que nos afastar dos que pregam o ódio, que não assumem o interesse maior que é salvar as vidas", disse. E continuou: "Aqueles que incentivam a vida normal, que pressionam o prefeito da Capital e que me pressionam pelo whatsapp, por cartas e que violam os princípios da Medicina, a eles eu pergunto: vocês estão preparados para os caixões com as vítimas do coronavírus? Vocês que defendem a abertura, aglomerações, que minimizam a crise gravíssima em que estamos, vão enterrar as vítimas? Depois de salvar vidas, vamos salvar a Economia", afirmou Doria. Prorrogação Doria prorrogou a quarentena em São Paulo para conter o avanço do novo coronavírus por mais 15 dias. A quarentena começou em São Paulo no dia 24 de março e teria validade até hoje, mas foi prorrogada até o dia 22 deste mês. O anúncio foi feito em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes, ontem,e participaram dela diversos médicos, entre eles David Uip, chefe do Centro de Contingência da Coivd-19, que estava afastado por ter sido infectado pelo vírus. O Estado de São Paulo registrava ontem um total de 304 mortes pelo novo coronavírus. Com 29 novos óbitos e 4.861 casos, a doença chega a todas as regiões administrativas do Estado: 107 municípios têm pelo menos um caso confirmado da doença — em Campinas são quatro vítimas. O número de mortes pela COVID-19 entre 17 de março e 5 de abril já é quase igual ao total de óbitos por gripe registrado ao longo de todo o ano passado. As internações de pacientes com a confirmação da doença em leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) cresceram 1.500% desde 20 de março, passando de 33 para 524, no último dia 3. As mortes subiram 180% em uma semana. Para tentar conter o avanço dos casos, que já está lotando hospitais — somente no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, são 220 pacientes suspeitos ou confirmados, dos quais 110 internados em UTI —, o Governo do Estado determinou a prorrogação da quarentena por mais 15 dias. A recomendação é que as pessoas fiquem em casa. Os serviços considerados essenciais continuam em funcionamento, como nos primeiros 15 dias da quarentena. A decisão segue orientação da OMS (Organização Mundial da Saúde), da Opas (Organização Pan-americana de Saúde), do Ministério da Saúde e do Centro de Contingência do coronavírus de São Paulo, formado por epidemiologistas, cientistas, pesquisadores, infectologistas e virologistas sob a coordenação do médico David Uip. Conforme projeção do Instituto Butantan, centro de pesquisas biomédicas vinculado à Secretaria de Estado da Saúde, a prorrogação da quarentena pode evitar 166 mil óbitos em São Paulo, além de 630 mil hospitalizações e 168 mil internações em UTIs. A extensão da quarentena também é importante para que o Estado organize a rede pública de saúde ao número crescente de doentes. Já foram ativados 1.524 novos leitos de UTI em hospitais estaduais, municipais e filantrópicos. Além disso, o Governo de São Paulo prepara a implantação de um hospital de campanha no Complexo Esportivo Ibirapuera, na capital. Hospitais Ao todo, mais de 400 hospitais, entre públicos e privados, notificaram casos suspeitos de coronavírus. O total de mortes por COVID-19 (275 em 20 dias) já está próximo das 297 vítimas fatais por gripe registradas em 2019. Os dados também apontam que o coronavírus mata dez vezes mais do que todos os tipos de meningite. Até o momento são 13,7 mortes diárias, em média, por COVID-19, contra 1,3 morte/dia por meningite no Estado em 2018, conforme informações consolidadas pela Vigilância Epidemiológica do Estado. Entre as vítimas fatais da Covid-19, 85,8% tinham 60 anos ou mais. Desses, 92,1% tinham algum tipo de comorbidade. Do total de mortos pela doença, de todas as faixas etárias e que tinham alguma comorbidade, 69,1% eram cardiopatas; 47,1% tinham diabetes; 16,1% apresentavam pneumonia; 12,6% tinham algum tipo de doença neurológica; 7,6% possuíam imunodeficiência; 3,1% eram asmáticos; e 2,2% apresentavam doença hematológica. Os boletins são divulgados diariamente no site do Centro de Vigilância Epidemiológica do Estado (http://www.cve.saude.sp.gov.br). Cenários O cenário epidemiológico de São Paulo em relação ao coronavírus é, no momento, melhor que em relação a outros países. O Governo do Estado decretou quarentena apenas 26 dias após o primeiro caso, quando havia 810 infectados e 22 mortes. Com isso, a curva de casos apresentou tendência de achatamento. Na Itália, por exemplo, a quarentena foi decretada 49 dias do primeiro caso, já com 47.021 casos e 4.032 mortes, e mesmo assim a curva de contágio continuou crescente. O mesmo ocorreu na Espanha, onde a quarentena começou 45 dias depois do primeiro caso, quando havia 11.826 casos e 533 mortes. Em São Paulo, o distanciamento social está ajudando a mitigar a transmissão de casos. As pessoas estão tendo menos contato entre si e, com isso, a taxa de contágio por Covid-19 caiu. Antes das medidas de restrição, a velocidade de transmissão do vírus era de uma para seis pessoas. Em 20 de março esse número caiu para uma para três. No dia 25, já era de uma para menos de duas. Mas somente quando a taxa for menor do que um para um poderá se dizer que a epidemia foi controlada. A redução do contágio permitiu retardar o pico de internações nos hospitais da cidade de São Paulo, que ocorreria já na primeira semana de abril se nada tivesse sido feito. Conforme projeções do Instituto Butantan em parceria com a UnB (Universidade de Brasília), haveria mais doentes por coronavírus do que leitos necessários no SUS de São Paulo, e seria preciso acrescentar 20 mil novas vagas, das quais 6,5 mil de UTI. O sistema, portanto, iria colapsar. Uip fala do ‘extremo sofrimento’ provocado pela doença David Uip, que chefia o Centro de Contingência contra a Covid-19 criado pelo governo do Estado de São Paulo, voltou ao trabalho ontem e participou da coletiva de imprensa na qual foi anunciada a ampliação da quarentena no Estado. Uip foi infectado pelo novo coronavírus e estava afastado. O médico deu um depoimento emocionado sobre como sofreu com a doença. "Vou dar meu depoimento para mostrar do que se trata essa doença. Há dois domingos, eu me senti muito mal. Estava extenuado, sentado em uma cadeira e, pela primeira vez na vida me neguei a falar com um emissora de televisão. Na segunda de manhã, o teste deu positivo para coronavírus. A semana que se seguiu foi de extremo sofrimento", contou. Uip explicou que depois, em uma tomografia, foi detectada pneumonia. "Esse sentimento de se ver com uma pneumonia, como médico, foi muito angustiante. Indo dormir sem saber como ia acordar. Mas Deus me ajudou e venci a quarentena. É de extremo sofrimento ficar isolado, mas é absolutamente fundamental. Me reinventei nesse período." "Meu depoimento é como paciente, não como médico. Meu testemunho é de quem ficou do outro lado. A quem está subestimando, desejo ardentemente que saiba que não é pouco. Quem vai sair vivo é quem estiver sendo atendido em estruturas hospitalares bem equipadas e com equipes médicas bem estruturadas", finalizou. Rede estadual de ensino ganha canais e aplicativo A programação do canal 2.3 TV Educação e do aplicativo Centro de Mídias SP foi inaugurada ontem, com uma aula de robótica da professora Débora Garofalo. O secretário estadual da Educação, Rossieli Soares, entrou no ar para dar as boas-vindas a todos os alunos, professores e demais participantes da transmissão. O Centro de Mídias SP disponibilizará aulas ao vivo ministradas pelos professores da rede, permitindo que os alunos façam interações por meio de chat e vídeos. As aulas serão operadas em dois estúdios da Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Professores da Educação do Estado de São Paulo (Efape), vinculada à Secretaria Estadual da Educação (Seduc). Além dos professores da rede, a plataforma contará com aulas de youtubers. O download do aplicativo do Centro de Mídias SP está disponível para os sistemas Android e IOS. Para ter acesso, estudantes e professores da rede estadual terão de fazer o login com os mesmos dados usados na Secretaria Escolar Digital (SED). O Governo de São Paulo também fechou um contrato com a TV Cultura, que transmitirá as aulas por meio do Canal digital 2.3 – TV Educação. (Das Agências) Fatec de Americana está à frente de iniciativas Desde o começo da semana passada, professores e alunos voluntários de Escolas Técnicas (Etecs) e Faculdades de Tecnologia (Fatecs) estaduais em todo Estado de São Paulo se mobilizaram em várias iniciativas solidárias de enfrentamento ao novo coronavírus. Com toda expertise e recursos instalados para produzir equipamentos de proteção individual (EPI), a Fatec Americana precisava de matéria-prima para começar uma linha de produção. Foi lançada, então, a campanha Máscara Solidária, para arrecadar doações de tecido por indústrias têxteis da região de Campinas. A iniciativa envolve professores e estudantes dos cursos superiores tecnológicos de Produção Têxtil e Têxtil e Moda, e também está em busca de voluntários. “Temos muito trabalho pela frente e ainda necessitamos de apoio no corte e costura das máscaras, logística e entrega”, explica o diretor da Fatec, Wladimir da Costa. “Além disso, estamos buscando doações de elásticos e linhas de costura para terminar a confecção do material. Nossa meta é produzir mais de duas mil unidades”, completa. Quem quiser participar da campanha como voluntário ou doador pode entrar em contato com a Fatec Americana pelo Facebook e Instagram. (Das Agências)