Dois dos três professores são docentes do curso de medicina há mais de 30 anos e, segundo os alunos, nenhum dos demitidos possui manchas no currículo
Alunos da PUC protestam contra demissão de professores ( Dominique Torquato/ AAN)
Apesar de protestos de alunos, a Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas manteve a demissão dos três professores do curso de medicina que foram citados na CPI dos Trotes da Assembleia Legislativa de São Paulo. Os docentes foram demitidos essa semana e a medida gerou polêmica entre os estudantes, que protestaram e paralisaram as atividades de internato no Hospital Celso Pierro. Dois dos três professores são docentes do curso de medicina há mais de 30 anos e, segundo os alunos, nenhum dos demitidos possui manchas no currículo. Nesta sexta-feira, 26, a PUC-Campinas informou, por meio de nota, que cancelou a reunião na próxima terça-feira, quando reavaliaria as demissões dos docentes. A reunião foi marcada na quinta-feira à noite. A direção da instituição havia assinado um documento com representantes dos alunos se comprometendo a reavaliar o caso. No entanto, em nota oficial divulgada à tarde, a PUC-Campinas informou que anulou o documento porque a decisão foi tomada sob “forte pressão física e psicológica, inclusive do direito de ir e vir de gestores” na instituição. Na quinta-feira, estudantes fizeram campana na frente da reitoria, no campus I da PUC, evitando a saída e entrada do prédio durante a noite.A PUC-Campinas também informou que a situação comprometeu toda a possibilidade de livre diálogo entre as partes. A instituição também informou que “as decisões tomadas em relação ao desligamento de docentes obedeceram aos ritos regulares internos e normas trabalhistas cabíveis, sem prejuízo e com integral respeito à honra e à intimidade dos envolvidos”. A PUC não explicou o motivo da demissão dos professores.Cinco representantes dos alunos tentaram, pela manhã, ouvir o áudio da gravação da reunião que definiu a demissão dos professores. No entanto, eles não foram recebidos pela Reitoria. O objetivo é saber os motivos das demissões, que não foram divulgados pela instituição. ProtestoNa manhã desta sexta-feira, 26, cerca de 200 alunos do curso fizeram um protesto em frente ao Hospital Celso Pierro contra a demissão dos professores. Os estudantes garantiram que manterão o apoio nos serviços de urgência e emergência. Ao todo, cerca de 200 internos exercem atividades no hospital.O estudante Guilherme Amorim Souza Faria, de 25 anos, disse que a perda dos professores é irreparável, pelo ensino médico e qualidade técnica dos docentes. “A demissão foi injusta. Uma professora foi por justa causa, e os outros de forma arbitrária. São professores homenageados, patronos de turma, são queridos. É incompatível”, disse.Os alunos informaram que irão procurar auxílio jurídico, além de fazer um abaixo assinado com estudantes e ex-estudantes.ComissãoOs professores demitidos foram citados na CPI dos Trotes, que ouviu professores de universidades de São Paulo após denúncias de abusos. À CPI, os professores disseram desconhecer as práticas do trote, como agressões, venda de kits e cobrança de dinheiro para ser usado para compra de bebida em festas — que faziam parte das denúncias de estudantes do 1º e 2º anos da PUC-Campinas. São três professores demitidos, duas mulheres e um homem, sendo um deles por justa causa. Em depoimento na comissão, uma das médicas, com especialidade em medicina clínica, negou as acusações de que tentou excluir alunos que não participavam das atividades da chamada “Família Puccamp”. O relatório da CPI dos Trotes foi concluído em março deste ano.Um dos exemplos citados no relatório da CPI, é que a médica foi organizadora de um grupo de Whatsapp que divulgou fotos de alunos que se posicionaram contra a associação da comissão de formatura com a Associação Atlética da Medicina da PUC, como também aos alunos que os apoiaram.Os outros dois professores, que também atuavam na clínica médica, afirmaram desconhecer as práticas do trote, como agressões, venda de kits e cobrança de dinheiro para ser usado para compra de bebida em festas. Os alunos dos professores disseram que eles não têm contato com os estudantes do 1º e 2º anos, responsáveis pela denúncia à CPI dos Trotes.Os três professores foram procurados para comentar o caso, mas não quiseram falar com a reportagem. O presidente da CPI dos Trote, o deputado Adriano Diogo (PT), foi procurado pela reportagem, mas não atendeu as ligações.