MEDIANTE SINDICÂNCIA

PUC-Campinas vai apurar atos xenofóbicos contra nordestinos

Xingamentos e ameaças teriam sido feitos por estudantes da universidade católica

Ronnie Romanini/ ronnie.filho@rac.com.br
06/10/2022 às 09:13.
Atualizado em 06/10/2022 às 09:13

Prédio da Faculdade de Direito da PUC-Campinas: sindicância deve durar 30 dias e poderá ser prorrogada (Divulgação)

A PUC-Campinas anunciou a abertura de uma sindicância para apurar denúncias de comentários xenofóbicos que teriam sido realizados por estudantes da universidade. Após a eleição realizada no domingo, áudios que circularam pela internet mostram um suposto estudante da Faculdade de Direito proferindo xingamentos contra nordestinos e ameaças direcionadas a quem votou no candidato à presidência do Partido dos Trabalhadores (PT). No Nordeste, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ficou à frente do atual presidente Jair Bolsonaro (PL) com grande diferença, 66,7% x 27%, enquanto, no Sudeste, Bolsonaro venceu Lula por 47,6% a 42,6%.

Em nota, a PUC-Campinas afirmou que defende "uma sociedade justa e fraterna, o que inclui o respeito às origens e às culturas diversas que compõem a nação brasileira. Em relação a este caso, a universidade abriu uma sindicância para avaliar quais serão as medidas adequadas."

A sindicância deve durar 30 dias e há a possibilidade de prorrogação. Qualquer penalização será definida apenas ao término da sindicância. 

O Centro Acadêmico XVI de Abril, da Faculdade de Direito da PUC-Campinas, solicitou a participação na sindicância, enquanto representantes dos estudantes, e a expulsão dos alunos que, comprovadamente, cometeram xenofobia contra nordestinos e ameaças a um estudante. Além disso, o C.A. deve entrar com representação no Ministério Público contra os autores das ofensas.

Em nota, o Centro Acadêmico destacou que a universidade católica tem negros, LGBTs, índigenas, nordestinos, em seu corpo discente e que não é a primeira vez que a faculdade vira o centro das atenções por conta da propagação de discursos e ofensas preconceituosas. 

Os áudios

Ao menos três áudios - além de publicações em redes sociais - teriam conteúdos xenofóbicos ou de ameaça. Em um deles, um rapaz profere diversos xingamentos aos berros contra os nordestinos, dizendo-se "revoltado". Em outro, de pouco mais de 40 segundos, são quase 20 xingamentos. Nele, o agressor diz que os nordestinos são "um bando de burro" e que eles "têm que morrer comendo frango com farofa", entre outras agressões verbais mais violentas.

Em outro ainda, um estudante ameaça um rapaz que teria votado em Lula e pede o número da sala de aula para que ele possa ir até lá para "arregaçar a sua cara".

Nas redes sociais uma estudante lamentou a votação de Lula no 1° turno também com palavras pejorativas, e chamou a região Nordeste de "depravada". "Nordeste, seria um orgulho se vocês realmente quisessem trabalhar. Assim, é fácil continuar sendo a região mais depravada do Brasil (sic)."

A onda de ataques aos nordestinos por parte de eleitores contrários às candidaturas petistas não é uma novidade. Em todas as últimas eleições presidenciais as agressões foram proliferadas nas redes sociais e causaram revolta. 

No final da nota divulgada em repúdio aos comentários xenofóbicos, o Centro Acadêmico afirma que "Vivemos em uma democracia na qual as eleições gerais devem ser a maior celebração dessa conquista do Estado democrático de Direito. Não há espaço na nossa faculdade e em todo o Brasil para discursos preconceituosos e criminosos. O Nordeste brasileiro é uma região que resiste a toda desigualdade regional e toda exploração histórica. Região rica de cultura, de diferenças, meio ambiente e povos! Respeitem o Nordeste!".

Polêmica na Replan

Outra controvérsia referente às eleições de 2022 acontece na Refinaria de Paulínia (Replan). Trabalhadores afirmam que a empresa está tentando impedir que carros adesivados em apoio à candidatura de Lula ou com referências a outros políticos e partidos de esquerda entrem no estacionamento da refinaria. A orientação é a de retirar o adesivo, sob o risco de ter a entrada proibida.

Questionada sobre a denúncia dos trabalhadores, a Petrobras afirmou que "visando ao cumprimento da legislação eleitoral, o Código de Conduta Ética da Petrobras requer de todos os colaboradores 'não promover ou participar de atividades ou propagandas político-partidárias nas dependências da companhia ou em seus canais de comunicação'".

A estatal informou que a restrição não abrange o uso de adesivos em veículos particulares dos colaboradores desde que eles não configurem atividades ou propagandas político-partidárias.

O diretor do Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo (Sindipetro-SP) e da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Arthur Ragusa, rebateu as alegações. Segundo ele, em outras eleições não houve qualquer constrangimento ou impedimento de entrada de veículos em período eleitoral, independentemente de como estivessem. "Sobre o Código de Conduta Ética e a legislação eleitoral, a empresa pode colocar um padrão para vestimenta, porém, não pode impor qualquer constrangimento em relação aos automóveis. 

A Petrobras alega que o estacionamento é uma instalação dela, mas, em uma refinaria no meio da rodovia, onde o trabalhador e a trabalhadora vão deixar o carro? Na nossa interpretação, o estacionamento não é o posto de trabalho. A pessoa não usa o carro para exercer o trabalho, é a locomoção dela. No nosso entendimento não há qualquer conflito ou ofensa ao Código de Ética."

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