PSDB escolhe João Doria para eleição ao governo

O PSDB definiu ontem, já no primeiro turno das prévias, o prefeito de São Paulo João Doria como candidato do partido ao governo do Estado. A eleição interna é inédita nos 30 anos de existência da legenda. Na região de Campinas, onde apenas 6,5% dos 18.284 filiados em 22 cidades votaram, Doria venceu com 89,6% dos votos. Na somatória geral do Estado, o prefeito recebeu 10.225 votos, ou 80,45% do total de quase 13 mil votos válidos. Confirmou-se o que o grupo de Doria previa. Ao saber do resultado, o prefeito festejou com amigos, colegas de partido e correligionários no diretório da sigla, na Zona Sul da Capital paulista, a conquista do direito de disputar o governo do Estado. Disputaram as prévias, além de Doria, o suplente de senador José Aníbal, que teve 56 votos na região de Campinas, o cientista político Luiz Felipe D’Ávila, com 40 votos, e o secretário de Desenvolvimento Social, Floriano Pesaro, com 25. O prefeito de Praia Grande (Baixada Santista) Alberto Mourão, que vinha na disputa, acabou retirando sua pré-candidatura. A disputa no Estado foi acirrada não pelo placar, que conferiu vitória folgada ao prefeito de São Paulo, mas pelo ambiente tenso pela polarização criada entre Doria e seus três oponentes, Aníbal, Pesaro e D’Ávila, ao longo do processo. O trio acusou a direção do partido de favorecer o prefeito. Menos tradicional em realizar prévias que o PT, por exemplo, o tucanato sempre procurou evitar embates, o que vem sendo quebrado desde a pré-candidatura à Prefeitura do hoje prefeito e pré-candidato a governador, Doria. Avaliação A deputada Célia Leão, que coordenou as prévias na região, avaliou que o resultado foi o esperado. Ela dividiu as 22 cidades da base regional do partido em quatro grupos. No grupo de Campinas, onde votaram também os filiados de Holambra, Jaguariúna, Valinhos e Vinhedo, Doria obteve 319 votos, Floriano Pesaro recebeu 12, José Aníbal, 11 e Luiz Felipe D’Avila, 19. Houve ainda dois votos nulos. Nessas cinco cidades, onde o partido tem 6.934 filiados, segundo o último levantamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), apenas 5,2% participaram das prévias tucanas. No grupo de Americana, que recebeu filiados de Artur Nogueira, Cosmópolis, Nova Odessa e Santa Bárbara d’Oeste, Doria teve 481 votos. Já no grupo de Hortolândia (que inclui os filiados de Monte Mor, Sumaré e Paulínia), o prefeito de São Paulo recebeu 229, e no grupo de Mogi Guaçu ele levou 49 votos. Prognóstico Para o deputado federal Carlos Sampaio, Doria é o que tem mais chance no partido para ganhar a eleição, mesmo deixando a Prefeitura de São Paulo no início do segundo ano de mandato. “Ele não está abandonando a Prefeitura. No seu lugar ficará Bruno Covas, que é identificado com ele, tem experiência de governo. Foi secretário de Meio Ambiente, duas vezes deputado estadual, é secretário das Prefeituras Regionais e conhece São Paulo”, disse. Covas assumirá a Prefeitura de São Paulo dia 7 de abril. Célia Leão avaliou que todos os que concorreram à eleição interna do partido são bons tucanos, têm história, mas cada um tem seu momento e o atual é de João Doria. “É o candidato do partido com chances de ganhar a eleição”, afirmou. A militância se envolveu nas prévias, segundo ela. “O PSDB não está acostumado com prévias, embora estejam previstas no estatuto, no regimento do partido e estão previstas nas normas do Tribunal Regional Eleitoral”, disse. Alckmin não prestigia festa do candidato Causou extremo mal-estar no PSDB a ausência de Geraldo Alckmin no diretório estadual do PSDB depois da acachapante vitória de João Doria nas prévias. Aliados do prefeito e agora candidato a governador se diziam “estupefatos” com o silêncio de Alckmin. Ainda que não queira melindrar o vice, Márcio França, a impressão dos tucanos é que o presidenciável precisaria fazer um gesto de unificação do próprio partido após um processo de disputa conturbado. Com o silêncio, continua tensa a relação dos antes melhores amigos Alckmin e Doria. Tucano vai ter de superar críticas O prefeito João Doria (PSDB) vai disputar a eleição para governador, mas levará para a campanha a mácula de mais um tucano que abandona um mandato no meio para disputar cargo eletivo maior. A mesma mancha grudou na imagem do senador José Serra, que por duas ocasiões deixou o mandato que cumpria pela metade para alçar voos mais altos. Por estar deixando o mandato de prefeito para se candidatar a governador, Doria foi alvo de uma saraivada de críticas e xingamentos nas redes sociais na semana passada. Internautas que admitem ter votado no tucano para prefeito e que acreditam que ele esteja fazendo uma boa gestão no comando do Executivo municipal deixaram claro que não votarão nele para governador. O prefeito que já é atuante nas redes sociais terá que intensificar o uso da ferramenta para tentar mudar a imagem junto aos internautas. Enquanto isso, o governador de São Paulo e pré-candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin, procurou se manter neutro no decorrer de todo o processo que culminou nas prévias de ontem. Tomou seu café da manhã de ontem na companhia do pré-candidato Floriano Pesaro, mas participou de inauguração de um conjunto habitacional no Bairro do Jaraguá, na Zona Norte da Capital paulista, ao lado de Doria e do vice-prefeito Bruno Covas. Pouco antes das 10h, o governador votou nas prévias, no Bairro do Butantã, na Zona Oeste da Capital, onde também votou sua mulher, Lu Alckmin. Depois o governador foi para o Jaraguá, onde Doria e Covas o esperaram por cerca de 40 minutos. O vencedor Doria votou por volta do meio-dia. Floriano Pesaro e Luiz Felipe D’Ávila votaram ao redor das 10 horas. Em nota, o deputado federal Pesaro disse que “sem ressentimentos, agora é hora de união em torno do vencedor Doria para governador e de Geraldo Alckmin para presidente”. D’Ávila disse que apoiará Doria. José Aníbal não compareceu ao diretório do PSDB e não se pronunciou sobre o resultado da prévia interna.