LAVA JATO

Propina pagou reforma da casa de Dirceu em Vinhedo

Recurso ilegal era passado por empresas para conseguirem contratos com a Petrobras e lavado na firma de consultoria do político petista, a JD Assessoria e Consultoria

Cecília Polycarpo
03/08/2015 às 22:12.
Atualizado em 28/04/2022 às 18:06
Condomínio Vale da Santa Fé, em Valinhos ( César Rodrigues/ AAN)

Condomínio Vale da Santa Fé, em Valinhos ( César Rodrigues/ AAN)

A reforma de R$ 1,3 milhão em uma das casas do ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu, em um condomínio de luxo em Vinhedo, foi paga com dinheiro de propina. O recurso ilegal era passado por empresas para conseguirem contratos com a Petrobras e lavado na firma de consultoria do político petista, a JD Assessoria e Consultoria. A informação consta no relato do lobista Milton Pascowitch e teve peso decisivo no decreto de prisão de Dirceu, que ocorreu nesta segunda-feira (3) em Brasília, durante a Operação Pixuleco, 17° capítulo da Lava Jato.De acordo com despacho do juiz federal Sérgio Moro, o ex-ministro recebeu um “mensalinho”, fruto de recursos desviados da Petrobras entre os anos de 2009 e 2014, mesmo após ele ter sido preso depois do processo do mensalão. No depoimento Pascowitch declarou que intermediou propinas a Dirceu de outras empresas, como a Hope Recursos Humanos e a Personal.O lobista declarou que, provavelmente entre o final de 2012 e início de 2013, contratou a arquiteta Daniela Fachini para fazer a reforma de uma casa vizinha a de Dirceu em Vinhedo, no Condomínio Vale da Santa Fé. A ideia era transformá-la em escritório e também moradia oficial do ex-ministro. A casa estaria em nome da TGS Consultoria e Assessoria em Administração Ltda, empresa de Júlio Cesar dos Santos, sócio minoritário da JD, já desativada.Daniela, segundo Pascowitch, foi a responsável por tocar a reforma, contratando subempreiteiros e fornecedores. O valor completo da obra, de R$ 1,3 milhão, teria sido repassado pelo irmão de Pascowitch, José Adolfo, à conta pessoal da arquiteta. O montante teria sido declarado em Imposto de Renda, de acordo com o lobista.O recurso milionário tem origem em uma contrapartida pelo contrato do polo Cacimbas II, além de contratos com as empresas Hope Recursos Humanos e Personal Service. A cidade de Cacimbas (ES) tem um gasoduto da Petrobras que vai até Catu (BA).A obra já é investigada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) desde 2014 por lavagem de dinheiro, falta de projeto básico, superfaturamento e pagamento sem a prestação do serviço contratado.Pascowitch disse ainda acreditar que Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras, não tinha conhecimento detalhados dos recursos repassados a Dirceu por meio das reformas. No depoimento, ele falou, porém, que Duque “tinha conhecimento que os valores beneficiavam o grupo do José Dirceu”. Duque saberia também que a reforma do apartamento do político em São Paulo foi paga com dinheiro de propina. A arquiteta Daniela Fachini também saberia que as reformas que comandou eram de imóveis de Dirceu, de acordo com o depoimento.CondomínioO Correio esteve na porta do condomínio e moradores falaram que Dirceu possui pelo menos três imóveis no local. As casas estariam sempre cercadas por seguranças e câmeras na rua complementariam o monitoramento ostensivo. O político não apareceria no local desde o ano passado.Em novembro de 2014, o político petista foi a Vinhedo quando soube que o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu sua autorização de viagem. Dirceu foi condenado a 7 anos e 11 meses, por corrupção ativa, no processo do mensalão.O condomínio de luxo fica em local afastado, entre Vinhedo e Itatiba. O ex-ministro foi preso por conta do Caso Mensalão no dia 15 de novembro de 2013, mas conseguiu no dia 28 de outubro de 2014 o direito de cumprir a pena em regime domiciliar, em Brasília. A mansão de Dirceu na região, que está penhorada desde 2009, se tornou um refúgio do político nos últimos anos.NA CADEIAConfira os oito detidos na 17ª fase da Lava JatoPrisão preventiva:José Dirceu, ex-ministro-chefe da Casa Civil; Fernando Antônio Guimarães Hourneaux de Moura, lobista suspeito de representar José Dirceu na Petrobras; e Celso Araripe, gerente da Petrobras.Prisão temporária de 5 dias:Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, irmão de Dirceu; Roberto Marques, ex-assessor de Dirceu; Júlio Cesar dos Santos, sócio da JD; Olavo H. de Moura Filho, irmão de Fernando de Moura; e Pablo Kipersmit, presidente da Consist Software.

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