RETALIAÇÃO

Promotores do Gaeco são alvo de ameaças

Responsáveis por apurar suposto elo de policiais e traficantes recebem "aviso" de risco a familiares

Felipe Tonon
13/09/2013 às 08:43.
Atualizado em 26/04/2022 às 02:24
Procurador-geral Márcio Fernando Elias Rosa se reuniu com promotores ontem na Cidade Judiciária, em Campinas: investigação continua ( Edu Fortes/AAN)

Procurador-geral Márcio Fernando Elias Rosa se reuniu com promotores ontem na Cidade Judiciária, em Campinas: investigação continua ( Edu Fortes/AAN)

Promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de Campinas começaram a receber ameaças de morte após a prisão de 23 pessoas, entre elas policiais civis, que são suspeitas de ligação com o tráfico de drogas na cidade.Em uma correspondência endereçada ao promotor Amauri Silveira Filho, entregue esta semana na sede do MP de Campinas, estavam fotos das fachadas de imóveis onde moram familiares dos promotores. Ontem, o procurador-geral de Justiça do Ministério Público de São Paulo, Márcio Fernando Elias Rosa, esteve em Campinas para uma reunião com os membros do Gaeco e afirmou que as ameças não intimidam os trabalhos. O órgão, informou, já iniciou uma nova fase nas investigações para identificar possíveis ramificações da quadrilha.“Eles (quem ameaça) tentam atingir os familiares dos promotores. Alguns tiveram os filhos ameaçados, no meu caso foi minha mãe. Fotografaram os imóveis para mostrar que sabem onde moram”, disse Silveira Filho, sem dar mais detalhes sobre as ameaças.O procurador-geral de Justiça lamentou as ameaças e disse que esse tipo de ação é indesejada, mas previsível. “Isso só indica a qualidade do trabalho dos promotores e a periculosidade dos autores das ameaças”, afirmou.Rosa afirmou que o MP não será intimidado e anunciou a sequência dos trabalhos de apuração. “O fato de surgirem ameaças não altera nada. O nosso compromisso é com a imparcialidade. O Gaeco iniciou uma nova fase de investigação, mas ainda temos muito o que apurar e teremos as conclusões em alguns meses”, afirmou.Sobre a possibilidade de participação de outros policiais com o tráfico de drogas, o procurador ponderou. “É prematuro dizer se há mais policiais envolvidos. A Polícia Civil não está no banco dos réus nesta ação, mas alguns policiais civis”, frisou.Durante mais de uma hora ele participou de uma reunião com os membros do Gaeco na sede do MP em Campinas, na Cidade Judiciária, e formalizou apoio aos promotores. Ele ressaltou o trabalho de investigação que resultou nas prisões de policiais. “Agora esperamos que haja a efetiva punição e em breve a ação seja julgada.” O casoO Gaeco, após uma investigação de quase um ano, levou para a prisão 11 policiais civis suspeitos de cobrarem um mensalinho para permitir que os traficantes ligados a quadrilha do sequestrador Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, pudessem operar livremente em Campinas. Entre eles, os investigadores Renato Peixeiro Pinto e Mark de Castro Pestana, que atuavam no 10 Distrito Policial.Foi a partir de uma investigação contra Andinho que os promotores chegaram até os policiais. Com autorização da Justiça, o Gaeco grampeou ligações telefônicas do traficante, que mesmo preso, continuava a comandar o tráfico em Campinas.As escutas identificaram um pagamento mensal dos traficantes de Campinas no valor de R$ 30 mil a investigadores do Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc) da Capital e mais um repasse anual de R$ 30 mil para que o tráfico pudesse ser efetuado livremente. Em paralelo, dois investigadores de Campinas receberiam cerca de R$ 20 mil também para evitar coibir o crime no bairro São Fernando e na região.Os policiais cumpriram prisão temporária em julho, mas na terça-feira o juiz da 6 Vara Criminal de Campinas, José Guilherme Di Rienzo Marrey, aceitou denúncia contra eles, que voltaram para a cadeia.

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