MUDANÇAS NO TRÂNSITO

Projeto polêmico da Emdec na Delfino divide as opiniões em Campinas

Intervenção jamais vista na cidade causa estranheza de alguns e apoio de outros

Rodrigo Piomonte
12/08/2022 às 12:44.
Atualizado em 12/08/2022 às 12:44
José Antônio Teodoro Davini atravessa a Rua Delfino Cintra com a mãe em uma cadeira de rodas: "A via ficou mais estreita, dá uma sensação de atravessar mais rápido” (Dominique Torquato)

José Antônio Teodoro Davini atravessa a Rua Delfino Cintra com a mãe em uma cadeira de rodas: "A via ficou mais estreita, dá uma sensação de atravessar mais rápido” (Dominique Torquato)

O motorista e o pedestre que utilizam a Rua Delfino Cintra, no trecho entre o viaduto da avenida Barão de Itapura e o acesso à Avenida Andrade Neves, certamente percebeu mudanças no trânsito do local. A Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec) instalou um projeto chamado de "Urbanismo Tático". A iniciativa, que segundo a Emdec, é aplicada em diversas cidades do mundo, busca readequar o espaço viário com foco nos espaços públicos e na segurança do trânsito.

Com a inauguração prevista para hoje, o projeto que vem sendo instalado nas últimas semanas já divide opiniões de usuários das vias da região. Com intervenções urbanas e até mudança de fluxo de ruas, motoristas e pedestres tentam se adaptar às diversas adequações propostas pela iniciativa.

A região ganhou uma nova pintura colorida no solo, novas passagens de pedestres, estreitamento de via a partir da colocação de balizadores de trânsito, que reduzem a largura das faixas de rolamento, e ampliação da área de passeio a partir de ilhas de refúgio. Vasos e bancos e uma redução da curvatura das esquinas foram implantados.

A empresa explica que a escolha do local para a instalação da intervenção ocorreu após um estudo realizado na via e que identificou pontos preocupantes para a segurança, tanto do pedestre quanto dos motoristas que usam e trafegam na região da rua Delfino Cintra. Entre os pontos observados, foi destacada as velocidades excessivas aplicadas pelos motoristas, com veículos circulando a mais de 70 km/h numa via local, cuja velocidade regulamentada é de 30 km/h.

Outro ponto do estudo foi em relação ao respeito à sinalização. Pelo levantamento da Emdec foi identificado desrespeito à sinalização viária no trecho, com veículos transpondo linha dupla amarela de solo, cruzando canalizações zebradas e até realizando conversões na contramão.

A Emdec informa que o estudo apontou ainda que a região concentra grande fluxo de pessoas com mobilidade reduzida por conta das clínicas instaladas próximas, o que reforçou a escolha do local para a intervenção. A empresa informa que o projeto contou com o apoio de especialistas em segurança viária e mobilidade ativa da Iniciativa Bloomberg para Segurança Viária Global e do WRI Brasil, entidade que possui um estudo que aponta que, a cada metro a menos na largura da travessia, diminui em 6% o risco de morte por atropelamento na via.

Repercussão

A fisioterapeuta Eliane Olivieri Roston, 54 anos, que trabalha na região e usa diariamente o local, disse que ficou surpresa com o projeto e destaca a redução na velocidade dos veículos como um aspecto positivo da intervenção. "A gente não entendeu muito todas essas mudanças. O pessoal da mobilidade da Emdec disse que era para melhorar a acessibilidade. Reduziu a velocidade dos carros, mas temos encontrado muita dificuldade para estacionar, principalmente, os pacientes com locomoção mais reduzida", disse.

A auxiliar de limpeza Fran Santiago, 35 anos, afirma que se sente mais segura com toda a transformação implementada nas vias. "Acho que deu um ar mais de liberdade, agora é preciso todos respeitarem as sinalizações", disse.

O auxiliar de produção José Antônio Teodoro Davini, 45 anos, que atravessou a Delfino Cintra auxiliando a mãe em uma cadeira de rodas, disse que sentiu mais respeito dos motoristas durante o trajeto. "A via ficou mais estreita, dá uma sensação de atravessar mais rápido. Deu para notar que os motoristas respeitam os bastões que foram colocados", disse.

A supervisora de marketing Taciana El Kouri, 34 anos, estava com a mãe sentiu ainda dificuldades para atravessar na faixa de pedestres. "Não resolveu muito não. Muito motorista nos viu tentando atravessar e ninguém parou. Isso é cultural no Brasil", lamentou.

O manobrista Renato de Almeida Dias, 49 anos, que trabalha em um estacionamento que funciona na região, disse que enfrentou dificuldades para trabalhar desde que a intervenção foi instalada devido o congestionamento nos horários de pico. "Ficou muito difícil o embarque e o desembarque. Desde que foram instalados a mudança ficou bem complicado nos horários de pico", disse.

Ele conta que já presenciou a Emdec trocando os bastões de trânsito devido terem sido derrubados por veículos que desconheciam a nova sinalização. "Até o vaso que colocaram na rua passaram para calçada. Senão ia dar é acidente", disse.

A Emdec informa que todo o projeto é alinhado à Política Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU - Lei Federal 12.587/12), e tem como característica chamar a atenção para a segurança no trânsito. A expectativa é o projeto ser testado e ampliado para outras regiões da cidade com características de receber o conceito do "urbanismo tático".

Alterações

Entre as outras alterações propostas pelo projeto estão ainda o prolongamento da esquina da praça na Rua Dr. Otávio Mendes para ampliação de espaço público e encurtamento das travessias e a ampliação de uma faixa para veículos na aproximação à Av. Andrade Neves, garantindo que a extensão de passeio não implique na piora no fluxo de veículos.

Na Rua Talvino Egídio de Souza Aranha ocorreu a implantação de uma inserção de barreira na descida para conversão dos veículos em velocidade segura. Ocorreu também a inversão de sentido de circulação na Rua Culto à Ciência, no trecho entre a Rua Dr. Otávio Mendes e a Avenida Barão de Itapura, reordenando o tráfego.

Além da implantação de semáforo para garantir acesso seguro dos veículos na Av. Barão de Itapura, inclusão de ilhas de refúgio junto às travessias para melhorar a visibilidade entre pedestres e motoristas, e baias para ônibus. A Emdec destaca que foram também implantadas vagas de estacionamento e chicana, que são sinuosidades na via no trecho do viaduto para iniciar a redução de velocidade dos veículos que acessam a região da praça. 

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