MÁRIO GATTI

Projeto leva sala de aula para crianças internadas

Projeto desenvolvido pela Secretaria de Educação leva o conteúdo escolar para crianças internadas em hospitais municipais da cidade. Até pacientes em períodos curtos de permanência são atendidos para evitar a defasagem no ensino

Eduardo Mansur
18/04/2017 às 09:28.
Atualizado em 22/04/2022 às 19:45
Professora Arlene Machado com a paciente Pâmela da Silva na Classe Hospitalar: brincadeiras auxiliam no principal objetivo, que é pedagógico (Dominique Torquato/AAN)

Professora Arlene Machado com a paciente Pâmela da Silva na Classe Hospitalar: brincadeiras auxiliam no principal objetivo, que é pedagógico (Dominique Torquato/AAN)

Quem entra na sala 402 do Hospital Municipal Dr. Mário Gatti tem a sensação de que está em um ambiente que mistura um espaço de brincar com biblioteca, mas na verdade trata-se de uma sala de aula. É preciso até um esforço para lembrar que estamos dentro de uma unidade de saúde. Assim é a radiante e colorida Classe Hospitalar, capaz de relembrar aos pequenos pacientes que eles ainda são crianças, mas que tem objetivo estritamente pedagógico. Cercado pelos corredores repletos de médicos e enfermeiros, o recanto infantil integra o Programa Classe Hospitalar, do núcleo de educação especial da Secretaria de Educação de Campinas, e que atende pacientes de zero a 15 anos. Quando os alunos não podem ir ao colégio, uma verdadeira força-tarefa é montada para levar o ensino a quem está internado. Formado por educadores, o grupo desenvolve atividades ligadas à aprendizagem de crianças e adolescentes. Matemática, português, inglês e outras disciplinas da grade curricular são lecionados em uma sala especialmente montada para os pacientes da pediatria. Há ainda um plano de apoio pedagógico específico de acordo com o caso, mesmo para crianças e adolescentes em curtos períodos de internação. Os professores investigam o histórico escolar de cada aluno com o objetivo de complementar possíveis déficits, mas também buscando a evolução no aprendizado. A professora de educação especial Arlene Machado ressalta que o serviço tem a função de garantir o atendimento escolar. “As instituições de ensino nos mandam todo o material. As provas são feitas aqui, como também a completa atividade educacional. A criança é acompanhada durante todo o período de internação”, explica a educadora. Em um dos casos mais emblemáticos, Arlene lembra de uma paciente com paralisia cerebral. “Ela morou sete anos no hospital. Veio ainda criança e saiu adolescente.” As atividades lúdicas e de ensino são adequadas também às limitações causadas pelas enfermidades, regra fundamental para que os pacientes se sintam à vontade nas tarefas e apresentem ganhos cognitivos. Até mesmo as crianças atendidas na UTI ou no pronto-socorro infantil recebem acompanhamento. Quando os pequenos enfermos têm dificuldade de ir à sala de aula no hospital, a equipe pedagógica atende no leito. “Se for preciso dar as atividades na cama, a gente se prepara para isso. O importante é dimensionar e planejar o conteúdo do trabalho”, afirma Silvia Regina Orloski, professora do Ensino Fundamental que também integra a equipe multidisciplinar do Mário Gatti. O programa Classe Hospitalar é desenvolvido ainda no Complexo Hospitalar Ouro Verde, que atendeu 76 internos no mês de março. No Mário Gatti, esse número chegou a 108 pacientes, segundo a Secretaria de Saúde. O serviço foi implementado em 1996 e desde então vem passando por readequações e atualizações de conteúdo programático. Os atendimentos acontecem sempre de segunda a sexta-feira, das 7h às 17h. O programa funciona como uma extensão da Secretaria de Educação e segue o mesmo horário das escolas municipais campineiras, conforme a coordenadora pedagógica Célia Regina Fialho Bortolozo. “É uma classe de aula com uma organização de tempo e espaço específicos, diferente do que acontece em uma escola popular”, acrescenta a pedagoga. Ainda de acordo com a profissional, todas as atividades são planejadas com objetivos estabelecidos. “Não existe o brincar pelo brincar.” Ainda assim, as atividades alegram o dia a dia na ala pediátrica e chegam a amenizar os incômodos causados pelas doenças nos pequenos pacientes. Atividades oferecem ‘fuga’ da rotina na enfermaria Agulhas, exames complexos e todos os procedimentos médicos que assustam ou causam dor são esquecidos durante as sessões pedagógicas especiais. As atividades, que ajudam a fugir um pouco da rotina e da realidade das enfermarias, são consideradas a melhor hora do dia entre as crianças. A dona de casa Josiane Reginaldo aprova o programa, que tem ajudado na recuperação do filho Ryan, de 11 anos, internado com pneumonia. “Ele adora vir aqui”, conta a mãe. No caso da pequena Pâmela, que trata uma apendicite, a sala de aula e os jogos ajudaram a superar o medo do hospital. A doméstica Maria José dos Santos, avó da menina de 5 anos, conta que a neta ficou mais alegre. “Quando chegou aqui ela não queria nem tomar banho. Agora está mais calma e sempre que pode vem aqui para brincar.” A aparência da sala de aula ajuda a disfarçar o objetivo pedagógico das brincadeiras. O espaço conta com mesas infantis, bonecos, carrinhos e jogos. Parte do material foi doado pelos próprios servidores municipais. O ambiente colorido enche os olhos de quem visita o local. Também não faltam recursos tecnológicos como TV, tablets e laptops, equipamentos bastante utilizados nos trabalhos de estímulo à aprendizagem. Pais são incentivados a participar Os pais e familiares também podem participar das atividades. Há casos em que eles aprendem diferentes maneiras de brincar com as crianças e também conseguem entender um pouco mais sobre o desenvolvimento cognitivo dos filhos. “Alguns pais nos pedem orientações em relação à escola. O trabalho tem uma extensão muito grande”, ressalta a professora Arlene. Já a avó Maria José reforça: “Aqui eu também aprendo um pouco mais sobre minha neta”. Para o corpo médico, os benefícios não se limitam aos encontros com os professores. De acordo com a pediatra Maria Angélica Pereira, o Classe Hospitalar aumenta o vínculo familiar. “As aulas permitem que filhos e pais realizem juntos as atividades, algo que não é visto na escola tradicional.” O programa contabiliza sucessos e chega a estimular os pacientes a descobrir novos talentos, como o desenho, por exemplo. Para a pediatra Maria Angélica, o importante é que crianças e adolescentes se sintam acolhidos e motivados. “Tudo o que pode trazer bem-estar e conforto durante um tratamento é sempre bem-vindo. O trabalho abre um nova perspectiva para as crianças.” 

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