CAMPINAS

Projeto em Manaus ajuda combate do aedes aqui

Ainda não há uma data exata para o início do trabalho, mas planos de ação já foram discutidos por professor da PUC-Campinas, coordenador do estudo

Fábio Gallacci
28/08/2016 às 19:14.
Atualizado em 22/04/2022 às 22:45
Todos os pontos da Reserva do Tupé são ricos em sua fauna e flora, servindo de laboratórios naturais para importantes pesquisas e estudos que podem ajudar a vida das pessoas ao redor do mundo (Fábio Gallacci/AAN )

Todos os pontos da Reserva do Tupé são ricos em sua fauna e flora, servindo de laboratórios naturais para importantes pesquisas e estudos que podem ajudar a vida das pessoas ao redor do mundo (Fábio Gallacci/AAN )

A Prefeitura de Campinas vai buscar na Amazônia uma nova forma de combater a proliferação do Aedes aegypti na cidade. Os métodos de pesquisa e levantamento de dados desenvolvidos por universitários e profissionais da região na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Tupé, em Manaus (AM) — batizado como Projeto Biotupé — , serão utilizados para realizar um diagnóstico populacional da Vila Costa e Silva. A ideia é ajudar o poder público a desenvolver abordagens diferenciadas de comunicação entre os moradores sobre a ação do mosquito e fazer com que o recado educativo realmente faça efeito e reduza os focos do transmissor da dengue, zika vírus e febre chikungunya. Ainda não há uma data exata para o início do trabalho, mas os planos de ação já foram discutidos pelo professor Duarcides Ferreira Mariosa, da Faculdade de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) e um dos coordenadores dos estudos do Projeto Biotupé, e as secretarias municipais de Saúde e do Verde, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Caso tenha um resultado positivo, a proposta poderá ser estendida para toda a cidade. “Temos dificuldades muito clássicas de grandes centros urbanos. Embora as equipes passem pelas casas, isso não tem gerado uma mudança efetiva de hábito (de prevenção à presença do aedes). Voltamos repetidas vezes aos locais e encontramos os mesmos problemas, os mesmos criadouros. Com isso, o que percebemos é a pouca capacidade da Saúde de fazer com que haja uma sensibilização da população e que isso faça com que ela tenha uma aderência maior às nossas campanhas”, diagnostica Andréa Von Zuben, coordenadora municipal do programa de arboviroses da Prefeitura. “Muitas vezes, temos campanhas de massa que falam para um certo público, mas não para todos. Baseado nisso, sempre pensamos em ter abordagens diferentes em determinados grupos populacionais. Todo mundo sabe do prato, do vaso, da calha e da caixa d’água, porém, os criadouros, Verão após Verão e Inverno após Inverno, são os mesmos. Os locais problemáticos costumam ser os mesmos também. A deposição de lixo é muito inadequada. A população tem realmente muita dificuldade de lidar com os seus resíduos de forma adequada”, aponta Andréa. A parceria entre o Biotupé e a Prefeitura tem como enfoque olhar as múltiplas características sociais e culturais da população do Costa e Silva e criar uma estratégia de comunicação que leva a práticas preventivas. As ferramentas para o trabalho serão os diagnósticos social, ambiental e cultural daquela área. Esse tipo de levantamento é feito há quase uma década pelo professor Mariosa e seus colegas de projeto em seis comunidades da reserva do Tupé. O trabalho é mantido pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). “A Administração Municipal está preocupada com a persistência dos indicadores endêmicos da ocorrência da dengue. Medidas preventivas adotadas até o momento, ou passíveis de serem adotadas, têm-se mostrado inviáveis tecnicamente, custosas operacionalmente ou de eficácia duvidosa”, aponta o professor em seu projeto apresentado à Prefeitura. “O estudo tem como objetivo conhecer a distribuição socioambiental da dengue no Município de Campinas, identificando o perfil da população mais vulnerável ao risco de infecção pelo mosquito Aedes aegypti e estabelecer parâmetros ou indicadores para ações de comunicação sustentáveis”, acrescenta ele. Procurada pela reportagem, Heloísa Fava Fagundes, coordenadora de Fiscalização Ambiental da Prefeitura, lembra que já houve uma parceria de sucesso com Mariosa. “No ano de 2015 tivemos contato com o trabalho do professor. Na ocasião, desenvolvemos em parceria um projeto de identificação das vulnerabilidades e potências da região do Campo Grande, local onde existem três Unidades de Conservação — Área de Proteção Ambiental do Campo Grande, Parque Natural Municipal do Campo Grande e Parque Natural Municipal dos Jatobás. O trabalho nos trouxe subsídios para a contratação do Plano de Manejo das áreas. Com o sucesso da parceria, no primeiro semestre deste ano decidimos aliar o conhecimento prático do professor Mariosa à área de saúde”, explica ela. O cenário atual é positivo já que houve uma redução de 65.634 casos no ano passado inteiro para 3.184 de janeiro a julho deste ano. O Biotupé pode contribuir para manter esse quadro. Sem custos O projeto também é um bem-vindo retorno da comunidade acadêmica à cidade. Por utilizar informações obtidas por professores e alunos da PUC-Campinas, que poderão aproveitar o trabalho como parte de suas formações ou especializações, ele não terá custos. “As análises serão realizadas em sistemas já encontrados nos laboratórios de informática da universidade”, reforça Mariosa. PASSO A PASSO DA PARCERIA - Identificar as características das regiões de maior ocorrência da dengue no município de Campinas. - Selecionar para estudo-piloto a região para a qual existe o maior número de informações disponíveis para consulta nos arquivos das regionais de saúde, Vigilância Sanitária, Defesa Civil e IBGE e avaliar a possibilidade de sua generalização. - Identificar o perfil sociodemográfico da população infectada e não infectada na região de estudo. - Identificar possíveis correlações/associações entre as variáveis socioambientais pesquisadas e os índices históricos de ocorrência da dengue na região de estudo. - Organizar um sistema de indicadores que permita avaliar as vulnerabilidades socioambientais ao risco da contaminação por dengue. ‘GUARDIÃO’ DA FLORESTA O quintal de Pepe, um cara simpático e sempre pronto a ajudar, é literalmente um paraíso. Vivendo sozinho há duas décadas no meio da Floresta Amazônica, tendo apenas como companhia três espertos vira-latas, Francisco Roberto Silva Rodrigues, de 48 anos, é um paulista de Itapeva que chegou à Reserva do Tupé como turista. Viu, gostou e ficou. Atuando como agente de saúde, ele é responsável por zerar os casos de doenças como a malária em sua área de atuação. Além disso, está atento a ação dos biopiratas estrangeiros que vão à área de preservação localizada a 25 quilômetros de Manaus (AM) atrás de amostras da flora local para pesquisas e futuras patentes que prejudicam as comunidades dali. Não é exagero dizer que Pepe é um “guardião” da floresta. “A biopirataria acontece muito por aqui. Estrangeiros vêm, retiram material da floresta e levam. Com pequenas amostras, a pessoa consegue reproduzir várias coisas. Normalmente, eles chegam como turistas. As amostras com material genético são levadas em frascos pequenos e podem ser facilmente escondidas. São coreanos, chineses, japoneses e, principalmente, norte-americanos”, conta o agente. “Eles chegam em Manaus e compram pacotes turísticos para fazer trilhas, canoagem e vão tirando as amostras pelo caminho”, explica. Em 2004, Pepe estava em uma das praias do Tupé quando flagrou um homem abrindo uma pasta cheia de tubos de ensaio com amostras de plantas. “Eu abordei o cara, que era coreano, e falei que ele não podia levar aquilo. Outros também estavam levando orquídeas e bromélias. Fomos parar na Polícia Federal. O material foi barrado”, lembra. Biopirataria A biopirataria é a exploração, manipulação, exportação ou comercialização internacional de recursos biológicos. Com o avanço da biotecnologia e a facilidade de se registrar marcas e patentes em âmbito internacional, as possibilidades de tal exploração se multiplicaram. A ação é a apropriação de conhecimento e de recursos genéticos de comunidades (de agricultores ou indígenas, por exemplo) por indivíduos ou instituições que procuram o controle exclusivo sobre esses materiais. O caso mais famoso da apropriação indevida de uma espécie brasileira foi o cupuaçu. Em 2003, uma empresa japonesa conquistou os direitos de comercialização da marca “Cupuaçu” no Japão, Estados Unidos e Europa. Os produtos brasileiros derivados do fruto acabaram sendo barrados nesses locais por serem considerados piratas. O registro japonês foi anulado na Justiça um ano depois. Em 2006, o governo brasileiro divulgou uma lista com cerca de três mil nomes de espécies da flora, como carambola, pequi, babosa e catuaba. O objetivo foi evitar o registro por estrangeiros.

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