REVITALIZAÇÃO DO CENTRO

Projeto do Hub Ferroviário usará 20% da área original

Proposta feita pela PUC-Campinas prevê utilização de pouco mais de 41 mil m²

Luiz Felipe Leite/[email protected]
25/03/2025 às 11:43.
Atualizado em 25/03/2025 às 12:27
Fotografia atual da rotunda (esquerda), estrutura ferroviária circular, e o croqui de como a estrutura ficará após a restauração: Hub de Inovação dará início à ocupação do Pátio Ferroviário de Campinas (Alessandro Torres;Divulgação PUC-Campinas)

Fotografia atual da rotunda (esquerda), estrutura ferroviária circular, e o croqui de como a estrutura ficará após a restauração: Hub de Inovação dará início à ocupação do Pátio Ferroviário de Campinas (Alessandro Torres;Divulgação PUC-Campinas)

O projeto final de criação do Hub de Inovação do Complexo Ferroviário de Campinas prevê o aproveitamento de pouco mais de 41 mil m² dos 200 mil m² do pátio ferroviário que já estão sob a guarda provisória da Prefeitura. Isso corresponde a cerca de 20% da área, que fica entre o Centro e a Vila Industrial. A intenção original era utilizar todo o local para o projeto, mas essa alternativa foi considerada economicamente inviável pela administração municipal. A extensão total do pátio ferroviário, que é de propriedade da União, é de pouco mais de 410 mil m2. O secretário municipal de Planejamento, Marcelo Colluccini, afirmou que a vocação das demais áreas do complexo ainda serão definidas. “Tem uma área de aproximadamente 36 mil m2 que é onde o Governo Federal quer a construção de um empreendimento habitacional de interesse social. O restante fará parte de um projeto futuro”, ressaltou o secretário. 

O estudo foi apresentado e entregue na tarde de ontem em um evento realizado no Auditório do Campus I da PUCCampinas. Ele foi criado por especialistas da universidade e é resultado de um acordo de cooperação técnica entre a instituição de ensino e a Prefeitura de Campinas. É uma ação considerada peça chave pela Administração Municipal no processo de requalificação da área central da cidade. A previsão para a realização das obras de restauro das estruturas atualmente existentes e da construção do Hub, assim que toda a parte burocrática estiver solucionada, é de dois anos, com um custo estimado de R$ 300 milhões, a serem disponibilizados pela iniciativa privada.

O estudo foi desenvolvido pelos docentes Leandro Rodolfo Schenk e Fábio Muzetti, da Escola de Arquitetura, Artes e Design da PUC-Campinas, com apoio de discentes da universidade. Ele prevê a ocupação dos antigos galpões ferroviários, próximos da antiga rotunda (construção em formato circular onde locomotivas e vagões eram guardados) que precisarão ser restaurados e adaptados para abrigar escritórios de alta tecnologia, startups e empresas de inovação. Com espaços amplos, os galpões devem atender finalidades culturais, sociais e de inovação, para eventos ligados à cultura, além de lojas destinadas a um futuro 'boulevard', na Rua Doutor Salles de Oliveira. O projeto prevê também um estacionamento para mais de 400 veículos, restaurante, um mercado e praças de alimentação. Considerando a área total da intervenção, 23 mil m² estão previstos para inovação, 11 mil m² para empresas e 8 mil m² para startups. Com isso, será criada uma ligação direta entre a Rua Doutor Salles de Oliveira, na Vila Industrial, que vai atravessar a área do Pátio Ferroviário, até a Rodoviária de Campinas, passando inclusive por baixo dos trilhos por onde trafegará futuramente o Trem Intercidades (TIC).

No acordo de cooperação técnica assinado em abril de 2023, uma versão preliminar do projeto foi apresentada pela equipe da PUC-Campinas. Nessa versão, foi previsto que um dos galpões do Pátio Ferroviário concentraria cerca de 50 salas para empresas e startups, 300 estações de trabalho e espaço para eventos com atenção também à economia criativa. O outro teria cafés, laboratório digital e espaços tecnológicos, um deles de multiverso. Dentro do projeto também estava prevista a construção de dois 'boulevards', um deles na própria Rua Dr. Sales de Oliveira, que teria a sua calçada ampliada para cerca de 11 metros com empreendimentos comerciais.

Segundo representantes da Prefeitura presentes ao evento, um grupo de trabalho reunindo integrantes da Administração Municipal foi criado para analisar a melhor forma de se executar o projeto criado pela PUC-Campinas. Todo o processo vai ter a participação da Secretaria de Patrimônio da União (SPU), ligada ao Governo Federal, proprietário da área. Outra etapa vai ser a definição de como ocorrerá a cessão de uso dos pouco mais de 41 m², que atualmente estão sob a guarda provisória da Prefeitura. Uma outorga onerosa ou uma cessão gratuita foram citadas como possibilidades.

Em paralelo a isso, o Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc) precisará aprovar o projeto e as intervenções a serem realizadas, considerando que o pátio ferroviário é um bem tombado. Com todas essas etapas superadas, a administração municipal poderá abrir uma licitação ou um edital de parceria público-privada (PPP) para que a iniciativa privada assuma o restauro das estruturas existentes e a construção do futuro hub de inovação. Perguntada se o investimento previsto por parceiros privados prevê algum tipo de contrapartida na exploração comercial do futuro hub de inovação, a Prefeitura informou que isso será definido quando o contrato de execução das intervenções estiver pronto.

MUDANÇAS

De acordo com a secretária de Desenvolvimento Econômico, Tecnologia e Inovação de Campinas, Adriana Flosi, a utilização de uma área menor para esse projeto se fez necessária para atrair investidores interessados em assumir os restauros e as obras previstas no estudo. 

Ela destacou ainda que a futura utilização do restante da área do pátio ferroviário para outros fins, como a construção de imóveis de interesse social, não está descartada. "Vamos nos reunir desde já com possíveis investidores para apresentar esse projeto e ver se eles se interessam. Obviamente que esse interesse vai depender muito do modelo do projeto, mas tem a ver também com o tamanho da área e do tamanho de metros quadrados de área locável que está proposto no estudo. E a equipe da PUC-Campinas pensou tudo isso para trazer a viabilidade necessária para o projeto. O que procuramos foi não fazer a proposta em cima de uma área ainda maior que existe no pátio ferroviário de uma vez só, pois depois seria muito difícil arrumar investidores para fechar uma conta desse tamanho", explicou.

O prefeito de Campinas, Dário Saadi, destacou a parceria e o apoio da Secretaria de Patrimônio da União nessa iniciativa. O superintendente da SPU no Estado de São Paulo, Celso Santos Carvalho, foi convidado e participou da apresentação e da entrega do projeto da PUC para a Prefeitura. "O projeto de hoje já recebeu uma pré-análise da Prefeitura. E ela foi extremamente favorável. Nós também fizemos também uma préapresentação dele para a SPU. Eles também vão analisar a proposta. Estou muito feliz com esse processo. Sem dúvida, foi um passo importante para que possamos em alguns meses resolver a parte burocrática."

APOIO

O reitor da PUC-Campinas, Germano Rigacci Junior, abriu a cerimônia de apresentação e entrega do projeto, reafirmando o valor histórico do pátio ferroviário e a convergência com a modernidade. "Esse estudo representa muito mais do que uma requalificação do espaço urbano. Ele personifica a convergência entre tradição e modernidade, entre as histórias ferroviárias, econômicas e cotidianas da cidade e as possibilidades ilimitadas que a inovação proporciona. A universidade empenhou-se em desenvolver um projeto que respeite a identidade histórica desse espaço tão significativo para Campinas. Ao mesmo tempo propõe soluções contemporâneas para transformá-lo em um centro pulsante de inovação, educação e desenvolvimento social", comentou.

Um dos docentes responsável pelo estudo, Fábio Muzetti, apontou que o acordo de cooperação entre a universidade e a Prefeitura de Campinas partiu da necessidade de pensar no uso da área ocupada pelo Pátio Ferroviário e na ligação do Centro com a Vila Industrial. "O centro da cidade tem muita capacidade de reconstrução e desenvolver o local é estratégico para esse avanço. Com o projeto é possível fazer a transposição da Vila Industrial para a área central, restaurando o patrimônio e abrindo para a cidade uma nova identidade cultural. O que antes era fechado entre muros, os galpões de manutenção de ferrovias abandonados há décadas, serão transformados em espaços de trabalho, de cultura, de gastronomia, criando uma conexão com as pessoas que andam pelo local, promovendo uma convivência entre as áreas livres".

O superintendente do Patrimônio da União no Estado de São Paulo, Celso Santos Carvalho, relembrou que o Governo Federal criou em fevereiro do ano passado o programa chamado "Imóvel da Gente". O objetivo é direcionar todos os imóveis da União para o desenvolvimento econômico e social e o combate à segregação social e espacial nas cidades brasileiras. "Nesse sentido, é com imenso prazer que eu estou aqui e estamos fazendo essa parceria com o governo municipal, pois vemos que essa ação no Pátio Ferroviário de Campinas é importantíssima. Essa ação aponta para o desenvolvimento econômico com um polo de tecnologia e inovação, com áreas de equipamentos culturais", concluiu.

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