Projeto ajudou, em nove anos, a tirar 414 pessoas do vício
Desde abril de 2004, quando o projeto Amigos do Pulmão começou na unidade de saúde do Jardim Aurélia, exatamente 414 pessoas passaram do status de fumantes para ex-fumantes numa luta acompanhada por um grupo de apoio — médicos e pessoas da comunidade. O número representa quase a metade dos que procuraram ajuda no local: 901 desde o seu início. A vitória conquistada por essas pessoas será celebrada em uma festa prevista para o próximo dia 30, que acontece todo ano como uma forma de confraternizar a nova vida conquistada longe do cigarro. O evento está marcado para as 18h, no Clube da Vila Teixeira.
O tratamento no centro de saúde do Jardim Aurélia chama a atenção pela grande faixa instalada na porta com a frase: Pare de Fumar Fumando. O anúncio é o que despertou o interesse de boa parte das pessoas que procuraram ajuda no local e iniciaram o processo para abandonar o cigarro.
O programa realizado na unidade de saúde segue um formato desenvolvido na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Entre os 62 postos de atendimento da rede de Campinas, somente a unidade do Jardim Aurélia e o Centro de Apoio Psicossocial (CAPS) seguem essa linha de tratamento para o combate ao tabagismo. Outras 29 unidades desenvolvem programas para auxiliar fumantes a abandonar o cigarro, mas o método é diferente e boa parte segue roteiro desenvolvido pelo Ministério da Saúde.
Nesse programa projetado na Unicamp, o primeiro passo é frequentar toda semana o grupo de apoio — que tem participação de ex-fumantes — para que o fumante se conscientize e sinta-se motivado a abandonar o cigarro. Para Julio Rosenthal, médico da Saúde da Família responsável pelo programa na unidade, o grupo motivacional, no primeiro mês, é o momento mais importante do processo. “Muita gente chega aqui sem ter a certeza se quer parar ou não de fumar. Motivar é uma das etapas que traz mais resultados”, afirmou.
Após a definição de uma data para que o fumante abandone o vício, ele passa por uma triagem para que seja receitado o medicamento. O uso de remédios, pelo período de três meses, serve para que o fumante sinta com menos intensidade os sintomas gerados pela abstinência do cigarro — com anti-depressivos ou até adesivos.
Mas Rosenthal afirma que o efeito do remédio é o mecanismo que gera menos resultado no processo para deixar de fumar. Segundo ele, o apoio das pessoas que frequentam esses encontros e a vontade do próprio fumante em abandonar o vício são os pilares do processo. “A nicotina é uma droga. Por isso, a gente acredita que é preciso minimizar os efeitos da abstinência. Muita gente passa mal, fica muito nervosa e isso atrapalha. Mas o esforço é fundamental”, disse.
Após o término do uso do medicamento, a pessoa continua por mais três meses frequentando os grupos de apoio, que servem como um auxílio para evitar recaídas e para que se sintam seguras em continuar no processo. Após os seis meses de participação no programa, o ex-fumante pode continuar participando dos encontros com depoimentos para ajudar quem começa o projeto.
Na rede
Segundo informações da Secretaria de Saúde de Campinas, o plano de combate ao tabagismo se originou de uma pandemia na década passada. Na época, foram convidados profissionais de várias áreas da saúde para traçar planos de combate ao tabagismo com base nos princípios do programa “Tabaco ou Saúde” da Organização Mundial da Saúde (OMS), que possui três vertentes: prevenção, tratamento, estabelecimento e expansão de ambientes livres de tabaco.
Com isso, foram direcionadas aos postos de saúde pessoas capacitadas pela Unicamp ou por outros programas — municipais, estaduais ou até federais.