em campinas

Programa visa ressocializar homens acusados de violência doméstica

Criado em 2020, Seravi já recebeu 30 homens encaminhados pelas Delegacias da Defesa da Mulher

Isadora Stentzler
30/04/2022 às 11:41.
Atualizado em 30/04/2022 às 11:41
Caio Henrique Laureano Marçal, de 28 anos, garante que participar do programa foi “transformador” (Kamá Ribeiro)

Caio Henrique Laureano Marçal, de 28 anos, garante que participar do programa foi “transformador” (Kamá Ribeiro)

Em meados de maio do ano passado, o assistente logístico Caio Henrique Laureano Marçal, hoje com 28 anos, recebeu uma ligação. Era um convite para ele participar de um encontro do Serviço de Responsabilização e Reeducação ao Autor de Violência (Seravi), um programa implementado em Campinas em 2020 e voltado a homens acusados de violência doméstica. Semanas antes, a ex-companheira dele havia solicitado uma medida protetiva, após uma discussão, e ele viu naquele programa uma possibilidade de reabilitação ao que havia feito. 

“Foi transformador”, disse à reportagem do Correio Popular, ontem, junto da atual namorada e dos dois filhos, em uma casa em que vivem na divisa entre Campinas e Sumaré. “A gente se dá conta do que é o machismo e passa a se policiar. Percebemos ali que somos todos iguais. Consegui reconhecer atitudes minhas que considerava normais. Hoje cuido para não cometê-las mais”. 

Seravi

O Seravi existe desde 2020 e, até agora, já atendeu 30 homens que foram encaminhados de Delegacias de Defesa da Mulher (DDM) de Campinas. Devido à pandemia da covid-19, o programa foi migrado para o formato on-line, retornando as reuniões presenciais no último dia 23 de março.

Atualmente, 10 homens participam do programa. São pessoas que, nos registros de ocorrência, foram autores de agressão contra a mulher, mas de menor potencial ofensivo, como violência moral ou patrimonial, por exemplo, e manifestaram vontade em participar das sessões e atendimentos. O objetivo do Seravi é que esses homens compreendam as violências cometidas e sejam capazes de romper esse ciclo. 

Vandecleya Moro, secretária municipal de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos, esclarece que, nesses espaços, os homens falam sobre assuntos inerentes ao masculino, além de reverem suas próprias posturas como homens, por meio da realização de atividades educativas e pedagógicas, que têm por base uma relação respeitosa entre os gêneros. 

Por meio de atendimentos individuais e coletivos, o Seravi também trabalha para que esses homens possam repensar seus atos. As sessões presenciais são realizadas no Ceprocamp.

“O Seravi é uma expressão da cultura de paz. Promove a justiça e a humanização das relações humanas, contribuindo para a conscientização sobre a violência de gênero como uma violação dos direitos humanos das mulheres. É uma forma de incentivarmos a civilidade na relação familiar para os que entraram em um processo de violência”, destaca Vandecleya, que enfatiza: “São homens e mulheres contra o feminicídio”.

Uma vez inserido no programa, o usuário permanece por quase um ano recebendo orientações de psicólogas e psicopedagogos. Em casos necessários, o programa ainda faz a ponte para que o homem se integre a outros programas que possam trabalhar nele questões inerentes ao uso de álcool e drogas, quando necessário. 

“É uma evolução gradativa”, pontua a secretária. “Porque muitos deles chegam resistentes, mas como é um dialogo composto apenas por homens, eles se sentem à vontade de participar e, com isso, romperem o ciclo de violência”.

Caio, que passou por todo o programa, disse que entre as conversas era possível perceber a forma possessiva com que muitos homens tratam as mulheres. Ações machistas que, muitas vezes, não eram sequer percebidas pelos próprios agressores. 
“Nós, homens, não costumamos nos encontrar para falar sobre esses problemas. Falamos de futebol, do trabalho. No Seravi conseguimos nos expressar e também ouvir o outro. Eu me considerava uma pessoa um tanto grossa, mas aprendemos sobre a empatia, sobre o ser mais afetuoso, sobre mudar. E acho que quem deseja essa mudança, deveria participar.”

Mesmo completado todo o ciclo dentro do Seravi, Caio se dispôs a permanecer no projeto, a fim de incentivar outros homens a aderirem o programa. Além disso, ele já sonha que o programa possa ser estendido a todos os homens, e não apenas àqueles que, em últimos casos, passam por uma Delegacia. 

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