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Programa pró-Haiti rende frutos

Depois do terremoto que assolou o Haiti em janeiro de 2010, muitos estudantes haitianos encontraram no Brasil uma saída para o sofrimento

Beatriz Maineti
26/03/2018 às 07:52.
Atualizado em 23/04/2022 às 07:34
Lanousse Petiote chegou ao Brasil em 2011: "Nem olhei para outros pontos. Vim para cá para ter um bom futuro" (Divulgação)

Lanousse Petiote chegou ao Brasil em 2011: "Nem olhei para outros pontos. Vim para cá para ter um bom futuro" (Divulgação)

Depois do terremoto que assolou o Haiti em janeiro de 2010, muitos estudantes haitianos encontraram no Brasil uma saída para o sofrimento. Em 2011, com o Programa Emergencial de Educação Pró-Haiti, gerido pela Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior (Capes), diversos alunos chegaram à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que se voluntariou para receber um grande número de pessoas. Hoje, sete anos após a chegada dos haitianos à instituição, os resultados já podem ser comemorados. Ao todo, são 56 alunos vindos de várias partes do Haiti nos registros da Diretoria Acadêmica da Unicamp (DAC), sendo que 53 deles vieram pós-terremoto — 45 por meio do programa Pró-Haiti. Após o terremoto de 2010, a Capes abriu um edital Pró-Haiti, para que universidades brasileiras disponibilizassem vagas para que os estudantes haitianos pudessem continuar a estudar, e a Unicamp ofereceu 80 vagas em seus cursos de graduação. No geral, foi a maior oferta de vagas do País. A chegada dos haitianos, em meados de setembro de 2011, gerou uma grande mobilização em toda a universidade. Professores, administração e funcionários correram atrás de maneiras de acolher da melhor forma possível aquelas pessoas que tinham passado pelo momento mais difícil de suas vidas há tão pouco tempo. Marcelo Knobel, hoje reitor da Unicamp, era, na época, pró-reitor de graduação, e relembra o esforço feito por todos os membros da comunidade universitária. “Realizamos várias ações para recebê-los, como bolsas de estudo, moradias provisórias, alimentação, idiomas, e demos inclusive bolsas para ajudar nesse acolhimento”, conta o reitor. Um dos alunos que chegou ao Brasil em 2011, Lanousse Petiote, conta que a vinda para a universidade de Campinas foi uma nova luz de esperança. “Quando recebi a notificação de que seria direcionado para a Unicamp, comecei a pesquisar um pouco mais sobre o lugar, e descobri que era uma das melhores faculdades do País”, contou. O estudante estava no terceiro ano da faculdade de engenharia civil com graduação em química, e decidiu seguir pelo caminho da química quando chegou à Unicamp. Hoje, Petiote terminou sua graduação em química, fez um mestrado e se prepara para apresentar doutorado em fevereiro do ano que vem. Segundo ele, essa sempre foi sua meta. “Eu queria aproveitar o máximo do que a universidade iria me oferecer, para me formar como um químico de verdade. Nem olhei para outros pontos. Vim para cá para ter um bom futuro”, afirma o estudante. Segundo ele, sua maior dificuldade ao chegar aqui foi comunicação, já que o português foi “uma língua difícil de aprender”, mesmo que a Unicamp tenha oferecido um curso intensivo do idioma para os estudantes haitianos. “Era muito difícil conversar e fazer amigos, e fazer amigos é uma das coisas que eu mais gosto de fazer”, contou Petiote. Mas, apesar disso, o estudante conta que foi muito bem recebido por todos, inclusive pelos seus colegas. Entretanto, apesar do acolhimento, Petiote não escapa de sentir as diferenças existentes na sociedade. “Existe uma diferença astronômica, por exemplo, entre nós, que viemos para a universidade através do programa, e os estrangeiros que vieram para cá de outra forma. Quando nos veem na faculdade, é como se fosse um espanto”, diz. O racismo continua existindo no ambiente universitário, e Marcelo Knobel afirma que o corpo docente e funcionários da Unicamp planejam ações constantes para lutar contra isso. “Temos realizado ações para mostrar a importância do acolhimento, a importância da diversidade na universidade, discutir direitos humanos e todas essas questões dentro da própria faculdade, que é onde essas questões devem ser discutidas com toda a transparência possível”, diz o reitor. Segundo ele, essa situação é combatida fortemente dentro da universidade. Para Petiote, a política de acolhimento no Brasil é boa, “mas precisa melhorar”. O estudante afirma que se sente inserido na sociedade agora, embora, do seu ponto de vista, existam coisas que para os estrangeiros são proibidas, mas isso não impede que eles sejam parte disso. Em relação à educação no Brasil, Petiote afirma que é comum ver jovens que não querem entrar na universidade, mas, para ele, os mais atingidos por essa vontade são os brasileiros “negros e pobres”. “Na cabeça dele, estudar não é para ele. E a sociedade confirma isso. No fundo, o que tem que mudar é a filosofia.” Segundo ele, o sistema precisa mudar para que os alunos não se sintam desencorajados a estudar. "O Ensino Médio público precisa ser melhorado”, conclui.

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