ENSINO

Professores cobram suspensão das aulas presenciais

O Sindicato dos Professores de Campinas e Região (Sinpro) posicionou-se contra a retomada, ontem, das aulas presenciais na rede particular de ensino. A entidade considera que o retorno é precipitado porque colocaria em risco toda a comunidade escolar. De acordo com o presidente da entidade, Carlos Virgílio Borges, o ideal é que todos os profissionais da educação e estudantes sejam testados para identificar eventuais contaminações por Covid-19, até que sejam vacinados

Guilherme Ferraz/ Correio Popular
26/01/2021 às 12:42.
Atualizado em 22/03/2022 às 10:10
No primeiro dia de volta ?s aulas, tanto o Sindicato dos Professores quanto os donos de escolas reclamaram do modelo determinado pelo Estado (Importação)

No primeiro dia de volta ?s aulas, tanto o Sindicato dos Professores quanto os donos de escolas reclamaram do modelo determinado pelo Estado (Importação)

O ano letivo de 2021 começou ontem (25) com a retomada das aulas presenciais nas escolas da rede particular do Estado de São Paulo. Em Campinas, o retorno gerou críticas tanto por parte da regional do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo (SIEEESP) quanto do Sindicato dos Professores de Campinas e Região (Simpro). A primeira entidade reclamou das "indecisões" do governo paulista, citando as mudanças relativas à proporcionalidade de alunos em sala de aula. A segunda considerou a volta das atividades presenciais inoportuna, por "colocar em risco a saúde de toda a comunidade escolar".

Para o diretor regional do sindicato, Tony dos Santos, 61, a política estadual em relação à educação deveria ser outra. Sabemos que o período é difícil, mas o que está acontecendo revela o despreparo do governo, que transmite insegurança e incerteza a todos. "Uma medida é anunciada hoje, para ser modificada no dia seguinte", queixa-se. O líder sindical deixa clara a insatisfação com as normativas governamentais.

De acordo com ele, não há qualquer ajuda do governo estadual às escolas particulares. "Ao contrário, somos atrapalhados. Por exemplo, tínhamos nos programado para voltarmos com 70% da capacidade, conforme determinado inicialmente pelo Estado. Na última sexta-feira, porém, tudo mudou e agora só podemos receber 30% dos alunos. Assim não é possível fazer qualquer tipo de planejamento", critica Santos.

A região de Campinas conta com aproximadamente 1.300 escolas privadas, que somam perto de 2 milhões de alunos. "Todos estamos sendo prejudicados. As escolas têm contas e salários pagar. Quanto aos pais de alunos, eles precisam se programar para ficar com as crianças em determinados dias da semana, visto que temos que receber as turmas de maneira alternada para poder cumprir a proporcionalidade de 30%", pondera o diretor do sindicato das escolas particulares.

O presidente do Sinpro, Carlos Virgílio Borges, o Chileno, disse que a categoria é contra o retorno das aulas presenciais neste momento da pandemia por entender que a volta coloca em risco a saúde de toda comunidade escolar. "Nesse sentido, o sindicato fez algumas ações jurídicas para preservar a saúde do professor", afirma. O Sinpro reivindica que todos os profissionais da educação e estudantes sejam testados para identificar eventuais contaminações por Covid-19, até que todos sejam vacinados.

Primeiro dia

A despeito dos problemas apontados pelos donos de sacolas e professores, o retorno às aulas presenciais na rede particular de Campinas foi aprovado por alunos, pais e funcionários dos estabelecimentos de ensino, embora também haja pais confusos por causa da dinâmica imposta pela limitação no número de alunos. Para a jornalista Juliana Servidoni, 40, mãe de Sofia, de 8 anos, a volta às atividades escolares presenciais é fundamental. "Primeiro, porque a disciplina que a escola proporciona é necessária. Segundo, porque minha filha ficou em casa de abril a outubro, mexendo no celular e tablet. Foi um período emocionalmente complicado para as crianças", avalia.

Juliana disse que se sente segura em levar a filha à escola. "Eu me sinto tranquila, pois a escola toma todas as precauções desde o fim do ano passado. Há o cuidado de medir a temperatura e de passar o álcool em gel. Além disso, a escola manda o protocolo das medidas de higiene com a rotina de todas as séries com antecedência. Trouxe a Sofia no primeiro dia e vou trazer enquanto a escola puder funcionar", acrescenta.

A professora de Biologia Cylene Sanchez, 36, reforça a importância de ter o aluno em sala de aula. "Nós, professores, vamos adquirindo a característica de conhecer a face do aluno e saber se ele está entendendo ou não o conteúdo. Presencialmente, nós conferimos o olhar da criança. Em casa, por meio das atividades remotas, fica muito mais difícil. Nem sempre as câmeras estão ligadas, o que dificulta identificarmos se o estudante está ou não acompanhando o raciocínio", explica.

O aluno do primeiro ano do ensino médio, Vinícius Pereira, de 15 anos, diz que, se depender dele, sua presença na escola está garantida. "Prefiro estudar aqui na sala de aula, é muito melhor. Eu consigo aprender muito mais do que de forma online, porque em casa tem mais distrações do que aqui na escola. Estou me sentindo seguro e está sendo tranquilo vir presencialmente", afirma.

O diretor geral do Leaders School, Carlos Trindade, 49, reforça que o protocolo de segurança sanitária do colégio foi bem planejado. "Nosso sistema foi montado a partir de conversas com profissionais da área de saúde. Mapeamos quais eram as necessidades e as dificuldades que nós poderíamos ter, tudo isso para minimizar o risco de contágio".

Assim como o Tony dos Santos, Trindade reforça a importância do espaço físico para as crianças.

"Nosso modelo de ensino não privilegia cadeiras tradicionais e lousa. Toda a aprendizagem da escola se dá através de atividades, de dinâmicas, da interação. Para nós, este modelo é fundamental, tanto que uma parte do nosso processo avaliativo é justamente o convívio dessas crianças com o grupo e com o meio", pormenoriza Trindade.

O diretor de colégio completa dizendo que as crianças estão respeitando e seguindo as medidas de higiene "é mais fácil trabalhar com as crianças, no nosso caso, do que com os adultos que às vezes não conseguem entender, mas as crianças entendem super bem a necessidade de manter o distanciamento, de não abraçar nesse momento, porque elas querem preservar o ambiente da escola, elas querem estar aqui, então tudo que nós trabalhamos é pedagógico e via conscientização das crianças".

Para a gestora educacional dos Colégios Lyon e Brasinha, Thiara Pedico, 41, é gratificante poder receber os alunos novamente. "Para nós, é uma alegria muito grande. Sabemos da importância desse contato entre os pares. Por mais que o online estivesse dando certo, não é a mesma coisa que o presencial, da troca entre eles", considera. Ela comemora a volta sem deixar de lembrar a importância das precauções contra a Covid-19.

O protocolo de segurança das escolas, segundo ela, foi bem executado. "Os nossos professores, funcionários e colaboradores passaram por um treinamento rígido de todas as regras e a cada volta dos alunos nós reforçamos esse protocolo com eles. Todos os ambientes da escola estão demarcados com os locais que as crianças podem sentar para manter o distanciamento. Os horários foram escalonados para que as crianças não saiam todas ao mesmo tempo para o intervalo", diz.

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