antártida

Professor acha fósseis de 80 milhões de anos

O professor do Instituto de Geociências (IG) da Universidade Estadual de Campinas, Alessandro Batezelli, voltou às suas atividades na universidade

Francisco Lima Neto
francisco.neto@rac.com.br
07/04/2019 às 13:35.
Atualizado em 04/04/2022 às 10:41

O professor do Instituto de Geociências (IG) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Alessandro Batezelli, voltou às suas atividades na universidade depois de passar 70 dias numa expedição científica na Antártida. Ele e a equipe com a qual viajou coletaram uma tonelada de fósseis. O professor descreveu toda a parte da geologia de Vega, ilha onde as pesquisas foram realizadas. Parte do material coletado ficará no IG para exposição didática. Batezelli viajou a convite do paleontólogo do Museu Nacional do Rio de Janeiro, Alexander Kellner. A ilha fica a seis horas de distância de navio da estação brasileira e é um dos locais de mais difícil acesso no continente gelado. Mesmo assim, o local foi escolhido para as pesquisas porque é onde há rochas do cretáceo superior (com cerca de 80 milhões de anos), com ocorrências de fósseis de dinossauros, conchas, cefalópodes e troncos de árvores — todos de interesse do projeto. Esses fósseis estão em locais que, do ponto de vista geológico e estratigráfico, mostram como era a distribuição e o habitat dos organismos que existiam naquele local. Batezelli ajudou na coleta de amostras, mas sua função era fazer a descrição geológica dos estratos e tentar avaliar se existia uma correlação entre os pontos de coleta. "Conseguimos comprovar que sim. Vimos claramente que onde existiam os fósseis era a mesma camada rochosa que circundava toda a área em que estávamos trabalhando", destacou. A equipe conseguiu identificar uma distribuição paleoecológica e paleoambiental bem marcada por esses seres. O grupo encontrou diversos fragmentos de ossos de dinossauro, como vértebras inteiras preservadas do Plesiossauro, um réptil marinho. A amostra vai ficar exposta no Museu Nacional. Acampamento A equipe foi de avião de Punta Arenas, no Chile, até a Antártida. Depois, seguiu no navio Ari Rongel para a ilha Vega. Um helicóptero levou os pesquisadores do navio até o acampamento na ilha. Foram mais de 20 viagens de helicóptero para transportar as caixas com suprimentos. Havia gerador, fogão, um quadriciclo, combustível, barracas e mantimentos, como leite em pó, arroz, atum e sardinha em lata, feijão, chá, muita água, entre outros. À medida que as caixas chegavam, a equipe já ia se organizando e montando as barracas de apoio e as individuais. Dois geradores movidos a gasolina permitiram que o grupo não ficasse sem luz nas duas principais barracas — uma de convivência, onde ficava a cozinha, e outra onde ficava o "banheiro" e o depósito. Eles dormiam em barracas individuais. O acampamento ficou bem próximo aos locais de exploração científica. O máximo que percorreram foram 18km. A cerca de 700m das barracas havia um sítio no qual encontraram muitos fósseis. Essa ilha já havia sido explorada antes, pois fica próximo da base da Argentina — cerca de 60km. Uma outra equipe de pesquisadores do mesmo grupo de Batezelli acampou na ilha James Ross, que fica a 15km de Vega. Isolamento Dos 70 dias da expedição, 50 foram de total isolamento, com quase nenhum tipo de comunicação. Não havia sinal de celular. O único meio de contato com a família foi por meio de um telefone satelital. Batezelli tinha apenas dois minutos por semana para falar com a mulher e a filha. Conseguia também mandar mensagens de texto, mas com um limite de 150 caracteres por vez. Para não dizer que ficaram sem notícias do Brasil, o grupo conseguiu sintonizar uma emissora brasileira, a Rádio Nacional da Amazônia — EBC, de Brasília, através de um rádio de ondas curtas. A esposa do docente chegou a enviar mensagens para a Rádio, falando que a equipe de brasileiros os ouvia direto da Antártida. "Como foi um acontecimento diferente da nossa rotina, ficávamos na expectativa de ter notícias do Brasil. Com a tecnologia que a gente tem, um rádio simples daquele, com chiado, era nossa única fonte de notícia", impressionou-se. Clima austero tornou ainda mais difícil o confinamento Os pesquisadores chegaram a ficar três ou quatro dias seguidos com neve, sem poder sair para exploração. A temperatura mínima foi -9°C, com sensação que chegou perto de -20°C por conta do vento. Mesmo com roupas apropriadas para o frio, nessas situações não havia o que fazer. Ficavam todos confinados nas barracas. Para o tempo passar, a saída era jogar xadrez ou assistir séries de TV baixadas no computador. Para o professor, um dos piores momentos foi esse confinamento nos dias de tempo ruim. "Quando você está trabalhando, está se distraindo. Mas trabalhar nesse tipo de exposição é complicado porque num primeiro momento o organismo não sente nada, mas o frio vai minando a energia até chegar num determinado momento em que você se desidrata muito", disse. O vento retira a umidade e causa o ressecamento da pele, dos lábios e das cutículas. "As vezes era preciso tirar a luva para realizar algum trabalho mais delicado. Uma exposição de 30 segundos no frio já era suficiente para começar a congelar", relatou. Mesmo assim, ele não teve problemas de saúde mais sérios. Apenas um ou dois episódios de leve dor de cabeça. SAIBA MAIS O material coletado está embarcado no navio Ari Rongel e a perspectiva é que as amostras cheguem ao País em abril. O material será preparado pelos paleontólogos do Museu Nacional do Rio. As caixas que transportaram alimentos para o acampamento foram utilizadas para colocar os fósseis. O professor Alessandro Batezelli vai compartilhar com a comunidade acadêmica parte do aprendizado adquirido no continente gelado. No dia 9 de abril ele ministra no IG a palestra “Antártica: Geologia e Paleontologia da Ilha Vega”. Na palestra, Batezelli abordará temas de interesses científicos, bem como curiosidades acerca da experiência na expedição ao continente antártico. O evento ocorre às 17h na sala 212 do Instituto de Geociências da Unicamp. O IG fica na Rua Carlos Gomes, 250, Cidade Universitária.

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