Levantamento da entidade mostrou que 9 em cada 10 empresas da RMC usam pelo menos 50% da capacidade operacional instalada
Uma metalúrgica de Campinas que atua com usinagem de peças vive um bom momento: ela conseguiu aumentar o número de funcionários em 18,42% do ano passado até este mês, abrindo 14 novas vagas e elevando a quantidade colaboradores para 90 (Rodrigo Zanotto)
As indústrias da região de Campinas aumentaram a produção neste mês de maio, com 90% usando mais de 50% da capacidade instalada. É o que mostra a sondagem divulgada ontem pelo Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) Regional Campinas. Segundo o levantamento, 4 em cada 10 indústrias operam entre 70,1% e 80% e 2 a cada 10 de 80,1% a 100%. Em março passado, nenhuma havia atingido o nível de produção acima de 80,1% da capacidade. Em maio de 2024, 84% das indústrias da região usavam mais de 50% da capacidade.
A elevação da utilização da capacidade produtiva refletiu no aumento do volume de produção e na geração de empregos. Segundo o levantamento da Ciesp, 10% das empresas participantes declararam elevação da produção e 70% mantiveram o nível estável, um cenário melhor em comparação a 2024. Em maio do ano passado, 74% das indústrias divulgaram manter estável ou aumentar a produção, contra os 80% atuais. Houve queda no número de companhias que diminuíram a produção, 20% neste mês contra 26% de igual período do ano passado.
De acordo com o Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), o setor industrial da Região Metropolitana de Campinas (RMC) foi o segundo que mais criou emprego no acumulado de janeiro a março deste ano. Ele foi responsável pela criação de 5.356 postos com carteira assinada, com participação de 27,93% das 19.179 novas vagas surgidas. A primeira colocação foi de serviço, com 7.968 empregos (41,54%); seguido pela construção civil, 4.450 (23,2%); agropecuária, 1.239 (6,46%) e comércio, 166 (0,86%).
EM ALTA
Uma metalúrgica de Campinas que atua com usinagem de peças vive um bom momento. Ela produz principalmente peças para o setor aeroespacial, mas atua também nos segmentos automotivo, de energia, agrícola, equipamentos e máquinas. “Nosso principal mercado é o aeroespacial, que, felizmente, está bastante aquecido. Nós viramos 2025 já com a capacidade ampliada para atender o crescimento de demanda”, afirmou o diretor comercial e de desenvolvimento da empresa, Edson Jorge Fim.
A indústria metalmecânica aumentou o número de funcionários em 18,42% do ano passado até este mês, abrindo 14 novas vagas e aumentando a quantidade de colaboradores para 90. “Esse segmento vem num ritmo promissor de crescimento e sustentável. Com isso, a gente conseguiu ampliar a estrutura”, pontuou Edson Fim. Ele explicou que a empresa trabalha com mão de obra especializada e leva um tempo para contratar, treinar e preparar os novos funcionários.
Segundo o diretor titular do Ciesp Campinas, José Henrique Toledo Corrêa, o aumento do uso da capacidade produtiva não está, porém, resultando no aumento da lucratividade em função do aumento dos custos e dos juros. “Há um custo de insumos, de energia, de transporte, aumento de carga tributária direta e indireta, o Custo Brasil sempre está ajudando.” A sondagem da entidade mostrou que 60% das indústrias tiveram aumento dos custos com matérias-primas, componentes e peças, enquanto 40% declararam que não viram diferença.
OUTROS PONTOS
Outros 40% também disseram ter elevação dos gastos com energia, água e transporte. Para Henrique Corrêa, os juros altos estão prejudicando o desempenho do setor. “Isso atrapalha muito. Eu estou no Ciesp há 33 anos. Uma das principais brigas que a gente tem é que tem que cair os juros. A indústria pega o dinheiro no mercado – essa taxa na realidade não é 14%, é muito maior – e está pagando para trabalhar. Ela não está tendo resultado. Tem que financiar a produção, financiar a venda e, com essa taxa de juros, a lucratividade é comprometida”, explicou o diretor do Centro das Indústrias.
Neste mês, o Conselho de Política Monetária (Copom) elevou a Selic, a taxa básica de juros, para 14,75%, a mais alta desde 2006, sem previsão de redução a curto prazo. O levantamento do Ciep apontou que 70% dos participantes indicaram que a redução dos juros é fundamental e obrigatória, enquanto 30% classificaram como importante. A Selic alta resultou na queda da disposição das empresas em investir. Segundo a sondagem, 20% dos empresários não pretendem investir nos próximos 12 meses, 70% vão apenas atualizar o maquinário já existente, enquanto 10% pretendem ampliar o número de máquinas.
A modernização do maquinário existente foi a solução encontrada pela metalúrgica para atender à demanda. “O juro muito alto acaba segurando um pouco o investimento. Isso impacta diretamente no potencial investimento das empresas, que acabam postergando para esperar um melhor momento. Você aplica em melhorias relacionadas à sua estrutura atual”, analisou Edson Fim.
PREOCUPAÇÃO
A sondagem do Ciesp revelou que 50% das empresas entendem que é importante para seus negócios contar com uma operadora capaz de atender de imediato o consumo de energia elétrica. “O problema não é de geração, mas de transmissão de energia, como fazê-la chegar até a indústria”, disse o diretor da entidade. Para Henrique Corrêa, são necessários investimentos na linha de distribuição de eletricidade para evitar problemas de abastecimento a curto ou médio prazo, com o problema podendo surgir a partir de 2028.
O diretor da metalúrgica reafirmou essa preocupação. A empresa tem investido na modernização dos equipamentos e do sistema para aumentar a eficiência energética e reduzir o consumo. Outra linha adotada pela indústria é a compra apenas de energia renovável, inclusive a gerada por fazenda solar e de origem eólica. “Inclusive, a gente tem o selo de eficiência energética, que justamente atesta que a empresa não está mais gerando e, logicamente, evitando o excesso de carbono na atmosfera e no meio ambiente”, relatou Edson Fim.
A empresa investe também na redução do desperdício de energia, modernizando os equipamentos para diminuir o consumo e fazendo avaliações internas para verificar o desempenho de motores e outros equipamentos. “Se eles estão em perfeitas condições de trabalho, a eficiência é maior. Se estiver trabalhando com folga ou trabalhando com desgaste, isso vai fazer com que produza menos resultado. Consequentemente, se gasta mais energia, gera desperdício.”
BALANÇA COMERCIAL
O Ciesp Campinas divulgou dados de importação e exportação das empresas em sua área de atuação formada por 19 municípios. Em abril, as exportações somaram US$ 300 milhões (R$ 1,7 bilhão), enquanto as importações ficaram em US$ 1,4 bilhão (R$ 7,95 bilhões), aumento de 10% em comparação ao mesmo mês de 2024.
"Por enquanto, não sentimos reflexo da taxação dos importados adotada pelos Estados Unidos”, avaliou o diretor de comércio exterior da entidade, Anselmo Riso. Já no acumulado dos quatro primeiros meses deste ano, as exportações somaram US$ 1,3 bilhão (R$ 7,38 bilhões). As importações totalizaram US$ 4,2 bilhões (R$ 23,85 bilhões), elevação de 13,8%. Os principais destinos dos produtos exportados pela região são os Estados Unidos, Argentina e Países Baixos. Os importados vêm principalmente da China, Estados e Índia.
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