Pressão sobre leitos pediátricos deve durar ao menos um mês

O secretário de Saúde de Campinas, Lair Zambon, prevê que a pressão sobre os leitos de UTI e enfermaria pediátricas não deve ceder tão cedo. A projeção mais otimista é a de que a situação continue complicada por pelo menos mais quatro semanas. Segundo ele, a sazonalidade de crianças procurando por atendimento médico em decorrência dos problemas respiratórios foi antecipada. O reflexo disso é o alto índice de crianças internadas em UTIs de Campinas e à espera de vagas nos leitos de enfermaria, que estão 100% ocupados.

Na Unidade de Emergência Referenciada Pediátrica do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, a pressão chegou ao ponto de, na segunda-feira, os atendimentos pediátricos serem restringidos por 48 horas. Os 36 leitos de enfermaria e os 20 de UTIs estavam ocupados.

Nesta quarta-feira (20), a decisão foi a de prorrogar essa medida por mais 48 horas. Embora o fluxo tenha melhorado, com algumas altas, a enfermaria estava lotada e a UTI tinha 18 pacientes, porém, houve, durante a tarde desata quarta, a chegadas de mais dois casos, um de uma criança com derrame pleural e o outro de um recém-nascido em choque séptico. 

Considerando-se ainda o SUS Municipal e as UTIs de hospitais particulares, a quantidade de crianças hospitalizadas registrou uma pequena queda de terça para quarta-feira, porém, os números ainda são altos e a enfermaria está com demanda excedente.

Nesta quarta-feira, 87 crianças estavam hospitalizadas para tratamento intensivo, uma ocupação de 83,6% dos 104 leitos em funcionamento. Ao todo, 57 crianças estão com algum tipo de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). 

Um paciente está com covid-19, enquanto outros 15 (10 no SUS Municipal e 5 nas UTIs particulares) em investigação para confirmação da doença. O Vírus Sincicial Respiratório (VSR) é o responsável por mais 16 internações. 

A Prefeitura também comunicou que há 59 crianças internadas em leitos de enfermaria no SUS Municipal, ou seja, a capacidade total. Por causa disso, 21 crianças estavam à espera de vagas e sendo assistidas, enquanto isso, nos prontos-socorros. 

Ainda no boletim epidemiológico divulgado nesta quarta, a ocupação nos 34 leitos de UTI do SUS estava em 91,1%. Eram apenas três vagas disponíveis. No SUS Estadual, a Prefeitura informou que havia 19 dos 20 leitos com pacientes, o equivalente a 95% de ocupação. Por fim, na rede particular, o índice é inferior: 74% de ocupação, com 37 pacientes e 13 vagas. 

Reforço na rede privada

A situação delicada em relação às internações e demanda por atendimento de crianças na cidade também mobilizou a rede privada. O Hospital Irmãos Penteado vai inaugurar na segunda-feira, 25, a Unidade Pediátrica Irmãos Penteado (UPIP), destinada ao atendimento exclusivo de crianças de 0 a 14 anos.

De acordo com a Irmandade Misericórdia de Campinas - que administra o Irmãos Penteado e a Santa Casa - o espaço de 800m² atenderá a pacientes da saúde suplementar, convênios e particulares e funcionará por 24 horas, todos os dias da semana. 

A princípio, a estimativa é a de que 60 crianças sejam atendidas por dia, mas isso pode mudar em um futuro próximo. Isso porque 10 leitos de UTI estão apenas aguardando a aprovação da Vigilância Sanitária para entrar em funcionamento nos próximos três meses. Caso haja a aprovação, a capacidade de atendimento pediátrico por dia será de 100.

As seguintes especialidades médicas farão parte da UPIP: pediatria, endoscopia, urologia, ortopedia, otorrinolaringologia e cirurgia e neurocirurgia pediátricas. Para a UPIP será utilizado um prédio do hospital que foi reformado e fica separado do atendimento aos demais públicos. "A UPIP será o único centro de pediatria 100% focado em crianças. Outros hospitais têm atendimento infantil, mas inseridos em sua estrutura como uma ala. A UPIP será um hospital isolado e independente, apenas para crianças. Ele não fica dentro do Irmãos Penteado e, sim, em um prédio próprio inteiramente reformado e modernizado, com arquitetura e design de interior lúdicos, para acolher os pequenos", explicou o coordenador clínico Péricles Motta.

O provedor da Irmandade de Misericórdia de Campinas, Murillo Almeida, avalia a situação como complicada e lembrou a influência da pandemia de covid-19. Mesmo antes dela, explicou o provedor, houve redução da oferta de leitos de UTIs e de serviços voltados à infância. 

Com a chegada da pandemia, os hospitais fecharam alas infantis, uma vez que as crianças eram as menos atingidas e essas áreas foram direcionadas ao enfrentamento da doença. "De 2020 até final de 2021, um período de quase dois anos, a oferta para público infantil caiu. E a demanda de atendimento para crianças, mesmo que não seja por covid-19, sempre existiu e aumenta muito em períodos sazonais por gripes, outros vírus ou doenças respiratórias. Então, a cidade precisa de um serviço de qualidade voltado a este público específico".

Vacinação de gripe e sarampo

Assim como para gestantes e puérperas, as crianças foram incluídas na antecipação do início da vacinação contra a gripe. A partir desta segunda-feira, 25, a Pasta de Saúde definiu que crianças entre 6 meses a 5 anos poderão receber a vacina em um dos 65 Centros de Saúde em que a imunização acontece. Apenas nos CSs Joaquim Egídio e no Boa Esperança não haverá aplicação. Pelo calendário inicial, esses grupos começariam a receber o imunizante no dia 2 de maio. 

Em relação à vacina contra o sarampo, a mesma faixa etária de crianças será imunizada também a partir de segunda. Todas as crianças podem receber a dose, independentemente da situação vacinal. Não é necessário qualquer intervalo para as duas vacinas, sendo que a criança dentro desse grupo etário poderá receber as duas no mesmo dia.